ZÉ GERALDO, UM CATADÔ DE BROMÉLIAS

 

“Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”.

(Zé Geraldo, em “Milho aos Pombos”, dos anos 1980)

 

  Zé Geraldo nasceu em Rodeiro, na Zona da Mata mineira, em 9 de dezembro de 1944, de onde saiu aos dezoito anos, para estudar e trabalhar em São Paulo.

  Nos anos setenta, sofre um acidente automobilístico, e fica internado durante um ano num hospital, onde aprende os primeiros acordes e desenvolve o seu lado de compositor. Nessa mesma época, trava conhecimento com uma banda que tocava em bailes, da qual passa a fazer parte – cantando em inglês!

  Após alguns anos, já na década de 70, e tendo adquirido alguma experiência de palco, decide participar dos festivais de música. No ano de 1978, participa do primeiro Festival de Música da Ericsson no Brasil, e alcança a vitória. É então contratado pela Gravadora CBS.

  Em seu 1º álbum solo, “Terceiro Mundo”, de 1979, fez grande sucesso nacional com a música “Cidadão”, que foi regravada depois por muitos outros intérpretes, dentre os mais conhecidos estão Zé Ramalho e Sílvio Brito.

  Canções como “Rio Doce” e “Milho aos Pombos” tornaram-se conhecidas após concorrerem nos festivais de música realizados pela Rede Globo no início dos anos oitenta. Duas de suas músicas foram temas de novelas dessa Emissora: “Semente de Tudo”, na novela “Livre Para Voar” e “São Sebastião do Rodeiro”, da novela “Paraíso”.

  É nos anos oitenta também que ele decide, devido ao fato de ser fiel ao seu estilo musical, abandonar as grandes gravadoras e tornar-se um artista independente. Na música “Tô Zerado”, de 2002, e de disco homônimo, que foi gravada recentemente também no CD/DVD “Um Pé no Mato, Um Pé no Rock”, de 2006, ele diz que é “feliz por não ter mais a ilusão de aparecer nos programas do Gugu e do Faustão.” É uma crítica a esse sistema midiático que está mediocrizando todo mundo nesse País. Nessa mesma música ele desabafa dizendo: “Cê não sabe o que eu passei, só pra cantar meu roquezinho”. Quantos como ele não estão por aí, ralando também, longe dos grandes esquemas de rádio e televisão? Joan Sodré, um compositor/cantor aqui de Jacobina, na Bahia, que tem um estilo bem parecido com o de Zé Geraldo, que o diga: está há mais de vinte anos penando para vender os seus discos, como fazem todos os artistas independentes deste País...

  A música de Zé Geraldo, como de muitos outros, como Zé Ramalho, Zeca Baleiro, Sá & Guarabyra – só para ficar naqueles que mais gosto – tem originalidade, uma abrangência incrível. É difícil entender o que de mais importante está acontecendo na música feita no Brasil neste momento, mas com certeza o que tem de mais importante está fora da grande mídia, das grandes rádios e emissoras.

  Zé Geraldo já se apresentou algumas vezes nos EUA e Canadá, onde foi bem recebido por brasileiros e latinos. No Brasil, seus versos são cantados em uníssono por um público fiel, que acompanha seus shows em teatros, feiras, exposições e ginásios. Como disse seu amigo, o cantor e compositor Guarabyra (da dupla famosa, com Sá): “A sua voz ecoa nos rodeios e nas universidades fazendo sonhar, fazendo sorrir e dançar. Zé Geraldo é um brasileiro e tanto.”

  No CD/DVD “Um Pé no Mato, Um Pé no Rock”, de 2006, ele faz inúmeras referências às suas principais influências musicais, como Tião Carreiro e Bob Dylan. Na entrevista que consta dos “extras” do DVD, ele deixa isso bem claro.

  Em seu trabalho mais recente, lançado em maio de 2008, “Catadô de Bromélias”, ele incluiu uma versão em português da música “Mr. Tambourine Man”, de Bob Dylan. No Youtube, é fácil de encontrar o Zé cantando esta música e outras. Nesse mesmo disco, ele estreou também uma nova parceria, com o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro, com a música “Na Barra do Seu Vestido”. Interessante mesmo é a participação de sua filha, Nô Stopa, também cantora e compositora, na música “Última Reza”. Ela havia participado anteriormente no já citado CD/DVD “Um Pé no Mato, Um Pé no Rock.”

  Zé Geraldo é uma força profunda da expressão cultural brasileira, com raízes muito fortes na nossa história. É difícil sair ileso de uma audição de algum disco dele. Experimenta ouvir! Mas não espere ouvi-lo nas rádios ou na televisão...

  Vida longa à verdadeira Música Popular Brasileira!

(Márcio Melo, professor de História e um apaixonado pela Música de verdade feita no Brasil)