O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto em junho de 2009. Foi retirado do poder, a força, e expulso do país. A ditadura que ronda a América Latina volta a ser colocada na ordem do dia. Em 27 de Janeiro, o novo presidente eleito, vai ser colocado no poder. De nada adiantou as ações da Organização dos Estados Americanos (OEA) esbravejar a ilegalidade do ato, desde a manutenção de Roberto Micheletti como governo “interino”, ela própria é refém do capital. E, não adiantou a maioria dos países membros da OEA se posicionarem contrários; esfacelou-se, por definitivo o papel da ONU (Organizações das Nações Unidas) enquanto instância mediadora. Prevaleceu não a posição das elites hondurenhas. Estas seriam facilmente derrotadas se não tivessem ocorridos apoio dos EUA. Estes sim demonstraram sua força voraz contra a democracia que tanto apregoam. Não prevaleceu nem a opinião da população, realizada através das urnas: primeiro, retiraram um presidente legalmente eleito, depois, solicitaram a mesma população a evocar a democracia que solaparam a reafirmar sob regime de exceção, o predomínio das elites dominantes. A Anistia Internacional fala em violação de direitos fundamentais, diz que: “as pessoas que foram às ruas depois do golpe de Estado para manifestar sua oposição eram vítimas do uso generalizado da força por parte das forças de segurança, que cometeram homicídios ilegítimos, tortura e outros maus-tratos, além de centenas de detenções arbitrárias. A polícia e o exército também fizeram uso indevido e generalizado de bombas de gás lacrimogêneo e outros aparatos para controle da multidão ( http://br.amnesty.org/?q=node/556 em 26/01/2010 acesso em 27/2010)”.

 

 

 

 Os países periféricos do capital, com raras exceções, não conseguiram sequer se posicionarem frente aos desmandos do “Império” todo poderoso do capital. Assim, para os ingênuos de plantão que esperava que o Presidente negro dos EUA, seria diferente, pode perceber que um presidente, em países predominantemente capitalistas e, sendo eleito com o apoio do capital, faz apenas aquilo que o capital deseja. Percebendo isso, verificaríamos que não temos representantes (sob a lógica do capital), mas lacaios do poder. Os EUA, mais do que Honduras, mandam um recado as frágeis democracias latino-americanas, sob o  slogan do então candidato a presidente:  yes, we can! (sim, nós podemos!).

 

Vou abrir um parêntese, sobre a questão hondurenha, para refletir um pouco, sobre o “sim, nós podemos”. Alguns acreditavam que ele estaria se referindo as minorias. Lembramos apenas que os EUA estavam desacreditados diante a farsa montada sobre os “inimigos ocultos” do terrorismo. Nosso Jean Charles de Menezes, assassinado na Inglaterra, em 2005, foi vítima dessa política. Assim a farsa das armas de destruição serviu   para a guerra do Iraque e do Paquistão( e tantas outras). Bush levaria os EUA a rejeição sem precedentes na História. Era preciso algo “novo” tanto interno como externamente. Nada melhor que um negro que já experimentou maconha e cocaína, filho de muçulmano que, além disso, é explicita sua miscigenação (pai negro, mãe branca e padrasto asiático). Já viram isso antes? Talvez não da mesma forma, mas como nordestino, pobre, migrante, trabalhador, líder sindical, candidato por várias vezes a presidente e, finalmente presidente, parece que existe algo semelhante.

 

Assim, voltemos a análise sobre Honduras. O governo brasileiro, mesmo que de forma tímida, até que ensaiou certa resistência. Mas sucumbiu diante as amarras do atual governo aos interesses das elites econômicas. Se não consegue nem investigar as atrocidades da Ditadura (devido à intensa ligação com quem apoiou as campanhas), tendo que ceder e modificar o projeto amenizando os crimes da ditadura sabia que suas elites estariam (como estão) dispostas a apoiarem outras ditaduras. Assim, como fizeram. Parafraseando Marx, um espectro ronda a America Latina: o espectro da Ditadura. Do século XVIII até a atualidade, várias Ditaduras ocorreram no Brasil ( alguns ainda não consideram o Brasil Colônia e Impérios com ditadura- fazer o que?), em quase todas elas os EUA ou eram mentores ou apoiaram incondicionalmente.

 

O governo Lula terá que apoiar o novo governo de Honduras quer sob a pressão norte-americana quer sob a pressão das elites locais, representadas, primeiramente no poder legislativo, mas, se for necessário, a posteriori, no poder judiciário.

 

Finalmente, a elite hondurenha (ou a elite da América Latina), se proclama vitoriosa: venceu em Honduras, restando poucos países que não reconhecerão o atual governo; conseguiram montar a farsa de que os atos de Zelaya eram contrários a democracia(mesmo sabendo que pela democracia pudessem resolver possíveis pendências), mas os do atual governo são democráticos; teve assegurado o apoio norte-americano, podendo testar o governo Obama sobre suas reais intenções (a desconfiança ainda existia, por sua condição racial); eximou seu militares de cometerem atentados a democracia; segundo a Anistia Internacional, desde as eleições presidenciais, o Congresso de Honduras discute a possibilidade de introduzir uma lei de anistia que minimizaria ou eximiria de punição os responsáveis pelas violações contra os direitos humanos. ‘As propostas de introduzir anistia por violações de direitos humanos são definitivamente inaceitáveis. Deixar de punir os abusos cometidos durante o golpe de Estado poderá resultar em mais violações em Honduras’, afirmou Kerrie Howard”( http://br.amnesty.org/?q=node/556 em 26/01/2010 acesso em 27/2010).

 

Assim, YES, WE CAN!    É uma tentativa de resposta aos trabalhadores latino-americanos que ousam realizar organizações que confrontem a atual estrutura de dominação capitalista. Resta saber, até que ponto esses trabalhadores estão dispostos a respostas semelhantes: sim, nós podemos!