XENOFOBIA
Educação para atitudes anti-racistas

RESUMO

A metodologia proposta é uma síntese histórica e bibliográfica do conceito de xenofobia, propõe-se ilustrar seu significado e a importância de combater-se atitudes racistas.
O objetivo principal é estimular a transmissão da educação pela igualdade de oportunidades e para todos. A importância desse estudo está em compreender as raízes racistas e evitar reproduzir os mesmos erros de um passado recente, lutar contra os preconceitos através do conhecimento.
No primeiro momento o presente trabalho busca explicar sinteticamente o fenômeno do desequilíbrio populacional, que em termos atuais, causam a imigração para a Europa Ocidental. Esse fluxo migratório para os países industrializados procedem principalmente dos países do chamado Terceiro Mundo, nesse contexto, imigrantes latinos e africanos (M. Dias: 1997).
Exige-se que o respeito e o apoio à dignidade dos imigrantes, e também sua integração social, sejam preservados. São muitas as dificuldades enfrentadas por estes povos, pois esses geralmente se apresentam nas sociedades economicamente desenvolvidas, como subordinados. Logo, as discriminações despontam em forma de marginalização e exclusão.
Todavia, no segundo ponto verifica-se o sentido de tolerância no sistema educativo, para analisar a verdadeira aproximação e incorporação de valores, crenças e cultura dos imigrantes, sob uma perspectiva intercultural.

Palavras-chave: imigrantes, tolerância, xenofobia, educação e interculturalidade.



ABSTRACT

The proposed methodology is a historical review and bibliography of the concept of xenophobia, it is proposed to illustrate its significance and importance to combat racist attitudes.
The main objective is to stimulate the delivery of education and equal opportunities for all. The importance of this study is to understand the roots of racism and to avoid repeating the same mistakes of the recent past, to combat prejudice through knowledge.
At first this paper seeks to explain briefly the phenomenon of population imbalance, which in modern terms, they cause immigration to Western Europe. This influx of immigrants to industrialized countries come mainly from countries of the Third World, in this context, Latino immigrants and African (M. Dias: 1997).
It is required that the respect and support the dignity of immigrants, and also their social, are preserved. There are many difficulties faced by these people, because they usually work in economically developed societies, as subordinates. Therefore, the discrimination emerge in the form of marginalization and exclusion.
However, in the second section there is a sense of tolerance in the educational system, to analyze the real approach and incorporation of values, beliefs and culture of immigrants, in an intercultural perspective.

Keywords: immigrants, tolerance, xenophobia, education and interculturalism.

1.Fluxo Migratório dos países do Terceiro Mundo para a Europa

Destaca-se, de acordo com Brito, um traço importante na história do desenvolvimento do capitalismo, a mobilidade espacial populacional, que intensifica-se através do fluxo migratório internacional, ocorrendo entre os diversos países. A interação e formação das populações, não poderia ser bem compreendida, se não fosse essa mobilidade. «A própria identidade de muitos deles, a sua constituição como nação, foi um produto do movimento internacional de diferentes povos» (1995, 1).
Observa-se por exemplo segundo ao autor, que o Estado e a nação brasileira se consolidaram no século XVIII, através do contato com a identidade cultural trazida pelos países Ocidentais. A partir da presença dos colonizadores portugueses e de outros países europeus, tais como: franceses e holandeses. «Mas foram basicamente portugueses e africanos - somados aos povos indígenas - quem criaram as bases da sociedade brasileira que se configurava no período colonial» (Novais: 1979, 1. Cit. Brito). Portanto, permite-se um breve entendimento do legado colonial brasileiro, compreendendo nossas raízes multiculturais.
Contudo, conforme Chesnais (1994), a partir da década de 1930 a emigração dos europeus quase parou pois a situação alterou-se. O crescimento demográfico dos países da Europa diminuiu, enquanto, que o crescimento populacional dos países do Terceiro mundo aumentou consideravelmente, fazendo com que o sentido do fluxo desse processo migratório internacional se invertesse.
O grande abismo económico criado pelos ditos, primeiro e terceiro mundos, tem se manifestado através de movimentos migratórios. Para o conjunto da Europa, os imigrantes estão em busca de melhores oportunidades e condições de vida, não encontradas em seus países de origem. Para Donaldo Macedo (2004), nos últimos anos mais de cem milhões de pessoas imigraram de uma parte do globo para outra. Esses imigrantes preenchem as carências de mão-de-obra e são rejeitados pelos nacionais do país de acolhimento, ocupando postos de trabalho subalternos: na agricultura, construção civil, hotelaria, serviços de limpeza, etc.
«Mercados de trabalho competitivos e seletivos, nacionalismo e preconceitos étnicos redefiniram o significado das migrações internacionais para os países desenvolvidos. Se até a década de 70 os migrantes eram necessários economicamente e aceitos socialmente, nos anos 80 passaram a ser competitivos com os nacionais no mercado de trabalho e objeto de discriminação social e legal» (Fausto Brito: 1995, 10).
L. França (1996), destaca que a crise econômica européia atual conduziu ao aumento das sociedades racistas, intolerantes e da xenofobia, resultante de uma constante luta pela sobrevivência.


2.Racismo, xenofobia e intolerância

O mesmo autor atenta que historicamente sempre existiram discriminações das minorias. Mas o racismo é uma noção recente, somente em meados do séc. XIX esse se afirmou como uma ideologia dominante. Um dos vários conceitos analisados provém, da concepção da superioridade de determinadas raças, advindos da super valorização das características biológicas e psíquicas humanas, determinando para os racistas, a definição da inferioridade de alguns, conferindo o preconceito. Tal comportamento, compõem as ideias de exclusão, tendo como princípios básicos: a desigualdade e a diferença.
Para Jacques Tarnero (1997), houve muitos doutrinários do racismo no mundo moderno e sua origem ocorreu na Europa. Tais como: Arthur de Gobineau (1816-1882), com sua teoria do Ensino sobre a Desigualdade das Raças Humanas; Houston Stewart Chamberlain (1855-1927), e sua percepção do jugo semítico; Georges Vacher de Lapouge (1854-1936), destaca-se como o autor de O Ariano e o seu Papel Social; etc. Devido a esses conceitos hierarquizados sobre a raça humana, surgiram vários protestos e manifestações em todo o mundo e ao longo dos tempos, que se opuseram a essas práticas absurdas de racismo. Visto como principais exemplos os movimentos negros ocorridos nos EUA na década de 50 e a desintegração do apartheid.
Segundo o autor que ignora a noção de raça. Em sua visão, o racismo é um falso conceito, pois está invalidado diante do desenvolvimento das ciências da vida: «para que tal raça possa existir, é necessário que ela viva num total isolamento durante centenas de gerações, num empobrecimento genético progressivo devido à sua ausência de diversidade» (Tarnero: 1997, 15).
Normas legais internacionais, como a Convenção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais (1948-1950), por exemplo, tentam expor princípios e aplicar as punições contra as práticas de conduta racista na alçada da Lei. Para este autor, a redação dessas leis não é clara, no que respeita à discriminação racial. Mesmo assim, muitas vezes, essa discriminação no cotidiano não se enquadra no espírito dessas leis. Por esse motivo, as associações anti-racistas em todo o mundo debatem a criação de uma lei específica contra atitudes discriminatórias e xenófobas: se a multiculturalidade «é um facto incontornável das nossas sociedades e dos nossos tempos, todos somos, de algum modo, mestiços e, por isso, todos tendemos, no futuro, a navegar, nos labirintos das nossas mestiçagens. É neste contexto que se começam a estabelecer os fundamentos filosóficos da interculturalidade e se avançam já os princípios de uma nova filosofia intercultural» (André: 2005, 64).
O crescimento da mobilidade geográficas/social e os processos de globalização, favorecem o aumento de um novo racismo, a xenofobia. Salienta Souza a) (2009), que o indivíduo que desenvolve a xenofobia, geralmente, teme que os estrangeiros representem uma ameaça à cultura e ao emprego de seu país. A xenofobia manifesta-se através de ideias e atitudes passando a repelir todo e qualquer grupo étnico.
Para o autor, uma das visões de xenofobia, decorre de sentimentos e práticas egoístas reveladas contra os estrangeiros, daquilo que vem do estrangeiro; é o comportamento de segregação principalmente das populações pobres de origem estrangeira. Remete-se a sensação de medo e de ódio, verificadas a partir da exclusão do considerado diferente, aquele com quem não se identifica. É o pré julgamento contra as formas de multiplicidades de identidades culturais.
Logo, a promoção por uma educação para a tolerância contra as discriminações assume um papel essencial no processo educativo, com intuito, de disseminar o encontro das diferenças e integrar os valores à uma aprendizagem intercultural.
Conforme Souza b) (2010), as atitudes anti-racistas devem ser combatidas ininterruptamente, através de iniciativas educacionais ao longo do desenvolvimento infantil. Para que desde a infância, haja a possibilidade de compreender o mundo através de sociedades fundadas sobre a tolerância e o respeito por culturas distintas.
«Educar para tolerância adultos que atiram uns nos outros por motivos étnicos e religiosos é tempo perdido. Tarde demais. A intolerância selvagem deve ser, portanto, combatida em suas raízes, através de uma educação constante que tem início na mais tenra infância, antes que possa ser escrita em um livro, e antes que se torne uma casca comportamental espessa e dura demais (Eco: 2001, 117. Cit. Souza)».
Segundo Dias (1997), o fator conhecimento/informação é crucial, para a constituição da base da educação. A fim de transformar comportamentos de intolerância, racismo e xenofobia em valores fundamentais por uma educação pela igualdade de oportunidades e para todos.
A escola é o ambiente mais adequado para se desenvolver o processo de conscientização anti-racista, com o propósito de desfazer as polémicas no que diz respeito as questões de preconceitos, para o exercício da cidadania crítica.
A intervenção educativa visa sanar a urgência em atender às necessidades das minorias, preparar os alunos para viver numa sociedade em que cada vez mais há oportunidades de encontro entre culturas e etnias. A educação intercultural estimula valores como a dignidade, o respeito, a solidariedade, a tolerância e atitudes de conhecimento mútuo, como a abertura e o diálogo, para fazer frente as realidades de exclusão.

CONCLUSÃO

Observa-se como um fato importante, as iniciativas da ONU, em publicar a Declaração do Milénio das Nações Unidas (2000), com o objetivo de reforçar as relações internacionais, para assegurar e favorecer a inclusão a nível mundial. Esse é um documento que foi elaborado em prol do novo milénio, em Nova Iorque, aprovada por 147 chefes de Estado e de Governo de 191 países. Na essência esse documento, visa também promover determinados valores fundamentais, que configuram o carácter internacional do séc. XXI tais como: a liberdade; a igualdade; a solidariedade; a tolerância; o respeito pela natureza e a responsabilidade comum. (Milênio: 2000). Nota-se que todos os valores citados na Declaração do Milênio são indissociáveis, pois o princípio elementar da igualdade é o ser humano.

Porém, as estratégias da ONU para fundamentar ações que dirijam-se a solucionar os problemas sociais existentes, não revelaram-se suficientes. Percebe-se que os resultados e objetivos esperados pela Declaração do Milênio (2000), ainda não foram alcançados, necessita-se entender as causas do desajuste estrutural global que o mundo enfrenta.
Portanto, a Educação para a solidariedade deve estar relacionada com as implicações da educação: em valores e atitudes; e da educação para a tolerância e para a diferença, com orientações para a intervenção social, admitindo compromissos individuais que anseie conhecimentos sociais de amplitude global, visando a valorização intercultural.
Neste domínio Natércia Pacheco (1996), cita que a «leitura menos etnocêntrica, a análise crítica dos preconceitos, a abertura internacional, a interdependência entre as nações, as abordagens das diversas civilizações e culturas, sobretudo através das migrações». Sugere a troca de experiências, de crenças e culturas entre os povos, tendo início no ambiente escolar. Esse processo instrutivo é feito de forma gradual e de maneira progressiva, de modo que haja a aproximação da comunidade com a participação e consenso de todos. Logo, pretende-se que o projeto educativo das instituições de ensino coordene suas atividades por uma educação para a cultura da tolerância e solidariedade.
Exaltando as diferenças através do multiculturalismo proporcionando as sociedades a identificação das fontes de discriminação, intolerância e xenofobia, adquirindo o aprofundamento do espírito crítico necessário para uma visão nítida de um futuro promissor.


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