Volume total de empréstimos concedidos pelos bancos aos clientes chega a R$ 1,24 trilhão em abril, ou 42,6% do PIB brasileiro.

Segundo o Banco Central, trata-se do mais robusto choque de crédito da história do país.

A alavanca desse movimento é o financiamento da casa própria. Após a série de medidas de estímulo baixadas pelo governo, só o dinheiro repassado pelo sistema financeiro às pessoas físicas para compra de imóveis atingiu R$ 69,5 bilhões.

Pelas estatísticas do BC, a pressão do Palácio do Planalto sobre os bancos públicos também vem surtindo efeito. A participação das instituições financeiras estatais no bolo do crédito total saltou, no último ano, de 34% para 38%. Enquanto as instituições públicas ganharam espaço, os bancos privados nacionais e estrangeiros perderam, cada um deles 2% num intervalo de 12 meses.

Os números parciais de maio, colhidos até o dia 14, revelam a mesma tendência de abril. Como o crédito é uma espécie de gestação do consumo, é de se esperar a retomada do crescimento e o reaparecimento dos empregos nos próximos meses.

Crédito para a pessoa física
Puxado pelos empréstimos consignados, o volume de crédito bancário a pessoas físicas voltou a se acelerar em abril, com uma expansão de 1,1%, na comparação com o mês imediatamente anterior, chegando a R$ 411,529 bilhões. O aumento da inadimplência, porém, ainda impede a retomada nos níveis normais de contratação nos empréstimos a empresas, cujo volume apresentou uma retração de 0,1% no mesmo período, caindo a R$ 464,474 bilhões em abril.

Em março, o crédito a pessoas físicas havia crescido 0,8%, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior. O que fez a diferença em abril foi justamente o crédito consignado, com expansão de 3,5%, acima do 1,6% observado um mês antes. Em termos nominais, o estoque do chamado crédito livre a pessoas físicas cresceu R$ 4,631 bilhões, 62% dos quais se referem ao aumento de R$ 2,891 bilhões no volume do consignado.

Os sinais colhidos pelo Banco Central, sugerem que o consignado voltou a crescer em virtude da retomada das operações de bancos pequenos e médios, que recompuseram suas captações depois que o governo criou uma modalidade de depósito a prazo, até R$ 20 milhões, com seguro-depósito do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Em abril, os bancos pequenos e médios haviam captado perto de R$ 4 bilhões com garantia do FGC.

Além do FGC, a Caixa Econômica Federal também contribuiu para aumentar o crédito consignado. O banco federal comprou R$ 200 milhões em créditos gerados por bancos pequenos e médios em abril, por meio de acordos operacionais. E sua própria carteira aumentou 6,7% no mês, quase o dobro do mercado, com incremento de R$ 800 milhões.

A ênfase, até o momento, tem sido nos empréstimos consignados a funcionários públicos, que cresceram 3,6% em abril, acima do 1,6% observado nas operações com trabalhadores do setor privado. "Além da retomada da oferta pelos bancos pequenos e médios, os dados demonstram a recuperação dos níveis de confiança dos consumidores", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Crédito para empresas
Em comparação o crédito para empresas continua escasso.

O volume de crédito caiu 0,5%, ou R$ 1,8 bilhão, em abril, para R$ 386,3 bilhões. Segundo o Banco Central (BC), em maio, a tendência se manteve, com recuo de 0,8% até dia 14. As companhias amargaram, ainda, aumento de 0,3 ponto porcentual - para 18,3 pontos - no spread (diferença entre o custo de captação e a taxa de juros cobrada dos clientes). No dado parcial deste mês, a alta continua: 0,2 ponto.

É bom lembrar que os bancos foram o alvo principal de uma medida do Conselho Monetário Nacional (CMN), que ampliou para R$ 20 milhões a garantia para Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Com isso, essas instituições poderiam voltar a captar dinheiro no mercado e repassá-lo para seus principais clientes, as empresas de pequeno e médio porte.

Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, até terça-feira, R$ 4 bilhões já haviam sido captados por esses bancos depois que a regra entrou em vigor. O problema é que não se sabe se tal dinheiro está se tornando crédito.

Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp): "A situação de fato melhorou para as grandes, mas não para as pequenas e médias empresas". Ainda segundo a entidade, vários bancos voltaram a visitar clientes corporativos nas últimas semanas, mas levam em suas pastas e laptops exigências maiores do que as que vigoravam antes do aprofundamento da crise global: "Eles querem um bom histórico, o que é um problema para as empresas menores."

A julgar pela movimentação dos bancos, a situação deve continuar difícil, ao menos no curto prazo. Nas últimas semanas, as principais instituições financeiras do País anunciaram a queda do juro e/ou a ampliação dos prazos de financiamento para algumas modalidades voltadas às pessoas físicas, entre elas veículos e imóveis. Para as empresas, no entanto, não há novidades à vista.

O fato é que a inadimplência da pessoa jurídica continua subindo.

A taxa geral de inadimplência nas operações com empresas atingiu 2,9% da carteira de Pessoas Jurídicas, frente os 2,6% registrados em março, voltando a patamares de maio e junho de 2002. No entanto, o cenário já foi bem pior. Em janeiro de 2000, a inadimplência na carteira de crédito das empresas chegou a 5,6%. O BC prefere adotar um tom otimista em relação às perspectivas futuras.

Segundo o BC, com o enxugamento da oferta de crédito no mercado internacional, grandes empresas passaram a procurar empréstimos no cenário doméstico. Como consequência, a oferta de dinheiro para pequenas e médias empresas minguou, o que explica pelo menos parte das razões que levaram à alta da inadimplência. Quanto ao spread, em abril, a média foi de 28,2 pontos percentuais, o mais baixo deste ano, mas ainda distante do que em abril do ano passado, por exemplo, quando a taxa era de 25 pontos percentuais.

Inadimplência
O Brasil tem atualmente a maior taxa de inadimplência dos últimos oito anos. Conforme dados do Banco Central, o total de empréstimos com atrasos superiores a 90 dias atingiu 5,2% de toda a carteira de crédito referencial dos bancos que atuam no mercado interno.

É o índice mais alto desde outubro de 2000, quando a inadimplência chegou a 5,3%. Em março, a inadimplência total contaminava 5% da carteira de crédito dos bancos.

O aumento da inadimplência fez com que cerca de R$ 8 bilhões em empréstimos bancários deixassem de ser pagos entre janeiro e abril deste ano, valor quatro vezes maior do que o apurado no mesmo período do ano passado, informa o Banco Central. O número inclui financiamentos tanto para pessoas físicas como para empresas e se refere a operações de crédito com pagamentos atrasados por mais de 90 dias.

Essa parcela de débitos em atraso corresponde a somente 0,7% do total de crédito disponível no país, que em abril chegou a R$ 1,25 trilhão, mas representa um forte aumento em relação ao nível que se observava até alguns meses atrás.

Em dezembro, o saldo de empréstimos com pagamentos atrasados era de R$ 38,7 bilhões. No mês passado, esse número havia chegado a R$ 47,1 bilhões. No mesmo período, o total de financiamentos oferecidos pelos bancos subiu apenas 1,7%.

Graças a esse movimento, a taxa de inadimplência subiu tanto nos financiamentos comerciais -como crédito pessoal, cheque especial e empréstimos de capital de giro para empresas- como naqueles regulados pelo governo -como crédito rural, habitacional e financiamentos do BNDES.

Conforme comentado anteriormente, a alta da inadimplência ocorrida em abril se concentrou no crédito para empresas. Entre as pessoas físicas, a taxa passou de 8,4% para 8,2% no mesmo período, mas a queda é explicada mais por causa de um efeito estatístico do que por um recuo nos calotes.

Isso porque o BC calcula a inadimplência como sendo uma média do atraso de cada modalidade de crédito existente no país, proporcionalmente à quantidade de dinheiro movimentado por elas.

Em abril, a procura por financiamentos de veículos (excluindo leasing) e por cheque especial caiu. E, como eles apresentam as maiores taxas de inadimplência, seu peso no nível geral de atraso também caiu, derrubando a média.

Taxas em queda
A boa notícia é que os juros estão mantendo trajetória de queda iniciada no começo do ano. A média de juros do crédito referencial em abril foi de 38,6% ao ano, frente os 39,2% ao ano que vigoraram em março. No segmento de pessoas físicas, a taxa média no mês passado foi de 48,8% ao ano, frente 50,1%, em março. No crédito às empresas, os juros no mês passado foram de 28,8% ao ano, frente 28,9%, no mês anterior. É uma queda tímida, mas representa uma taxa bem distante do pico de 31,4% anual de novembro de 2008.

As principais taxas de juros dos empréstimos para as pessoas físicas despencaram em abril. Um exemplo é o cheque especial. Embora esteja ainda absurdamente alta, quem precisou desse dinheiro extra durante o mês pagou bem menos do que quem recorreu a ele em março. Os juros do cheque especial caíram 2,8 pontos percentuais, passando de 169,1% ao ano em março para 166,3% ao ano em abril. No ano, a queda já alcança 8,6 pontos percentuais e continua recuando em maio. Levantamento parcial divulgado pelo BC indica mais uma queda de 2,8 pontos percentuais.

Os juros e os "spreads" bancários cobrados de pessoas físicas voltaram aos percentuais vigentes antes de o país ser atingido pela crise financeira mundial, em setembro de 2008.

Mas, no caso das operações com empresas, os spreads continuam mais altos, embora a taxa final aos tomadores tenha recuado, em função nos cortes na taxa Selic. Entre março e abril, os juros médios cobrados no crédito livre a pessoas físicas caíram de 50,1% para 48,8% ao ano. É o menor percentual observado desde maio de 2008, quando estavam em 47,4% ao ano. A redução dos juros bancários a pessoas físicas se deve, principalmente, ao corte dos spreads bancários, que recuaram de 39,8 para 38,5 pontos percentuais (pp.) de março a abril. É o menor valor desde agosto de 2008, quando o spread estava em 37,6 pp. O custo de captação dos bancos permaneceu em 10,3% ao ano em abril, em virtude da relativa estabilidade nos juros futuros.

Apesar do recuo recente, os juros e os spreads bancários cobrados de pessoas físicas ainda permanecem maiores do que os valores observados em 2007. Em dezembro daquele ano, o juro bancário médio era de 43,9% ao ano, e o spread, de 31,9 pp. Em 2008, o spread subiu com o aperto nas condições monetárias promovido pelo Banco Central, taxação do crédito com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e redução na disponibilidade de financiamento internacional para os bancos.

As taxas médias de juros cobradas das empresas tiveram leve redução entre março e abril, de 28,9% para 28,8% ao ano. Isso significa que os bancos repassaram a seus clientes apenas fração da queda nos custos de captação, que, no período, recuou de 10,9% para 10,5% ao ano. A maior parte foi incorporada aos spreads bancários, que subiram de 18% para 18,3% ao ano. Os juros às empresas voltaram aos patamares vigentes antes da crise - em agosto, eram de 28,3%. Mas os spreads permanecem acima dos 14,7 pp. em agosto de 2008. O aumento do spread se explica pela maior inadimplência, que cresceu de 1,6% para 2,9% entre setembro de 2008 e abril de 2009.

Bibliografia
Jornal Valor Econômico de 28 de maio de 2009
Jornal Correio Braziliense de 28 de maio de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 28 de maio de 2009
Jornal do Brasil de 28 de maio de 2009
Jornal Gazeta Mercantil de 28 de maio de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 28 de maio de  2009