A vingança, muitas vezes, encontra-se necessária. Como no meu caso ou, se preferir, no nosso. Desejo ardente, cruel e abjetamente retrucar e te pagar em dobro com a mesma moeda que me ofertaste. A moeda do sufoco, dos "ais", das marcas, das lágrimas, das cartas e dos vinhos. PIB nenhum cresce com tal negociação, mas, no meu país, quem dá o baralho sou eu. Toda a sujeira que deixaste e a bagunça que fizeste em sua vida habitarão. Não é que esteja rogando praga, nem algo assim. Contudo, o espelho pendurado na parede atrás da cama, onde suas mulheres vêem suas formas e seus corpos no escuro, ainda te deixará cego de tanto de você que refletirá para você mesmo. E, ainda que se diga por aí "quem ama o feio, bonito lhe parece", nem teu amor próprio será suficientemente heróico para te salvar da tua personalidade medonha.
Apesar de querer me vingar de ti, de querer ver o teto e mundo sobre ele desabarem sobre a tua cabeça repleta de obscenidades, nada disso farei. O acaso se encarregará de tal obrigação, como também será responsável por minhas tardes de sol ouvindo MPB no carro, buscando nossos filhos na escola, servindo a mesa do jantar, meus dias cheios de amor próprio, vaidade, feminilidade e força; é um fardo, uma honra e um privilégio do inevitável destino.
Não se preocupe, não se desespere, não se condene. Pelo menos de algo em comum nós compartilhamos: se você fez o que fez, é porque não me amava ? ou pelo menos deixou de me amar-. E, se eu fiz o que fiz ? casei com você -, é porque não me amava também.