Sei que parece chocante dizer, mas vou repetir: Você não é único nem especial. É isso mesmo. Toda a sua vida você escutou que era necessário levantar a autoestima, fazer com que as pessoas se sintam únicas e especiais. Que você era único. Na verdade isso gerou no ser humano um ego gigante. Somo únicos, portanto senhores da natureza, somo especiais, logo tudo o que se aplica ao mundo, não se aplica a mim. Para você que acreditou nisso tenho uma noticia: Você não é único, não é especial, nem é senhor de absolutamente nada. Nada lhe pertence. Você não é senhor de seus filhos, de sua esposa, sua namorada, seu marido. Você não é diferente dos demais. Você não é especial. As leis da natureza se aplicam também a você. Sua vida não lhe pertence. A qualquer momento você deixa de existir como uma vela que uma criança ao passar por perto sopra, e, acabou.

Mas eu quero insistir no ponto de que você é exatamente igual a todo o resto da humanidade. Mesmo que isso lhe soe  duro, é assim. Já esta na hora de o ser humano crescer e deixar de se comportar como uma criança birrenta e mimada. Quando este conceito de ser supremo, diferente dos demais, e portanto cheio de exceções se enraíza na pessoa, ela passa a agir como tal. Quer ver alguns exemplos? Veja se você se identifica com alguns destes:

  1. Você chega algum lugar, como banco, colégio, correios, farmácias, que fecha em determinado horário, suponhamos que feche  as 17:00, e você chega as 17:02, você não se sente absolutamente ofendido por não fazerem uma exceção e atenderem você?
  2. Há uma placa enorme dizendo para não estacionar, você não acha que esta placa deve ser para os demais? Não é para você que está com muita pressa e vai estacionar só um minuto.
  3. Há uma fila enorme na porta da sua padaria preferida, mas você está com muita pressa então para “ir adiantando” passa na frente dos demais e faz o seu pedido.

E assim uma sucessão de fatos intermináveis. Tudo porque você se acha especial e, portanto não sujeito às leis e normas da sociedade. E ao pensar e acreditar que você é único, não consegue levantar a cabeça de seu próprio umbigo e olhar para o resto da humanidade. Por isso pode dirigir a toda velocidade em pleno centro, porque afinal não há mais ninguém dirigindo por ali, você é único.

Por isso você fala tão alto ao celular, e por que não? Se não há mais ninguém para ouvir sua conversa.

Também é pela mesma razão que você escuta música alta no ônibus, ou em qualquer lugar, qual o problema? Se não há mais ninguém para se incomodar com sua música.

E assim segue a humanidade. Que mesmo tendo quase 7 bilhões de pessoas, cada um se acha único e especial, e portanto incapaz de se solidarizar, de pensar no outro, de colocar-se no lugar do outro. Mas qual outro? Você deve estar se perguntando? Afinal eu não era único?

Pois é, você não é único. Por isso não pode usar todos os recursos da natureza, não pode estacionar em lugar proibido, não pode jogar lixo na rua, não pode ouvir musica a todo volume, não pode dirigir sem respeitar os limites de velocidade, porque há outros milhões exatamente igual a  você, inclusive igual na falta de noção e de respeito ao próximo.

O dia em que nós realmente deixarmos de pensar que somos únicos e especiais, e nos enxergarmos como um a mais no mundo, com os mesmos direitos e os mesmos deveres a vida será muito melhor.

Irany Martins

Licenciada em Língua e literatura espanhola pela UFMG

Pós-graduada em Gestão Escolar pela Faculdade Bagozzi

MBA em Gestão Empresarial pela Dom Bosco