VOCÊ EMPREGARIA UM BIPOLAR?

Vamos adiante: você se casaria com um(a) bipolar?

Estou com 62 anos. Diagnosticaram meu transtorno aos 24. Eu era Gerente Distrital da Souza Cruz e estava indo até bem. Sabia manter os empregados motivados, tinha facilidade para cuidar da logística da distribuição, a região estava em franco crescimento econômico, as vendas aumentavam e nossa participação de mercado também. Céu de brigadeiro.

Porém, milagres são difíceis de existir. 24 anos, uma filha, morando longe da família, 72 empregados e seus diversos problemas, mais a pressão de uma companhia com a cultura dos ingleses... Pimba: tive uma depressão fortíssima que me levou a uma internação hospitalar de 45 dias.

Depois disso, céu pra lá de cinzento. Os remédios daquela época queriam porque queriam alcançar o equilíbrio, mas conseguiam mesmo era me colocar com a língua presa. Está eufórico? Toma este aqui. Caiu em depressão? Toma este outro ? e equilíbrio que é bom nada. No meio do percurso, faz aí umas bobagens e tira uma licença outra vez.

Foi bom porque a gente viajava muito e, sabendo da quantidade de remédios que eu tomava, meu chefe tratou de me arranjar uma transferência para a Matriz, no Rio de Janeiro, com medo que eu sofresse um acidente de automóvel.

Cheguei ao Rio com 30 anos de idade para conhecer o Dr. Ulisses Vianna Filho e começar a tomar lítio, um tratamento novo na época. Céu de brigadeiro outra vez. Só perdi o azul nas vezes em que negligenciei os medicamentos ou o sono. Bipolar precisa aquietar a cabeça. E, quando ganha a consciência de que o tratamento é diário e para toda a vida, ninguém nem percebe. Passam a dizer que somos calmos, veja só que paradoxo. Vale dizer que alguns também precisam de acompanhamento psicológico. Faz sentido: se a idéia é atingir o equilíbrio e o sujeito tem sérios problemas em casa, no convívio social ou no escritório, problemas que ele não consegue resolver sozinho, uma terapiazinha pode ajudar bastante, como para qualquer pessoa.

Então, você resolveu contratar um bipolar? Ou se casar com ele? Ganhou uma série de talentos. Segundo o psiquiatra Diogo Lara, bipolares podem ser criativos, ousados, enérgicos, sinceros, autoconfiantes, líderes, interessados, afetivos, podem ter muita iniciativa, espontaneidade e carisma. Porém, se não estiverem controlados, todas essas características podem ser levadas ao extremo e se tornarem negativas.

Agora, quer acabar com a vida de um bipolar de tanto tédio? Dê um serviço burocrático pra ele fazer. Quer tirar dele o melhor? Coloque-o em algum projeto inovador. Quer ter certeza se ele estará sempre bem? Pergunte o que ele acha de tomar remédios.