Celebração x Trabalho: Uma compreensão da Vocação

e da Missão Religiosa.

Texto feito para o curso: Vocação e Espiritualidade

Professor Miquéias Costa França – STBNE / 2007

Cultura é arte, arte é celebração, celebração é essência original da encarnação. Toda vocação é celebração e encarnação da missão. Cultura , arte e celebração são componentes indispensáveis da espiritualidade que celebra e compreende a vida em sua integralidade que torna possível a compreensão de Deus e da vocação por ele dada em um determinado contexto histórico, cultural e social.

A cultura é ambígua. Enquanto elemento justificador, justifica o pecado, enquanto instrumento criador, celebra Deus e a vida.

Os símbolos criados em cada culturasão esforços que caminham no sentido de vencer esta ambigüidade da cultura, por isso o símbolo também ao mesmo tempo que arremessa o homem para as alturas dos céus e para os deuses fixam o homem no mundo alienando-o por meio de ideologias religiosas outrase pelo mercado da religião que gera ganância, opressão e "má-fé".

A celebração é transcendência, o trabalho é fixação. A vocação religiosa não é trabalho, ela é sempre celebração, pois toda a vida do vocacionado não pode ser reduzida a simples espaço ou por uma sucessão de movimentos no tempo cronologicamente compreendido. Tudo que o vocacionado faz e fala é expressão transcendental da sua missão como vocacionado por Deus. Todo vocacionado tem uma missão e essa missão e exercida com a sua vida toda. Portanto, quando o vocacionado fala, ele o faz com a duração toda da sua vida e vocação.Falar com a fala da vida toda é a fala com, associada a Deus. Quando o vocacionado faz, ele se realiza dentro do tempo de toda sua vivencia, é a atitude por, responsabiliza-se por todos os seus atos cometidos, por todos os seus projetos realizados ou não, no mundo do contexto onde vivencia a sua vocação, levando em conta erros e acertos. A fala com, associada a Deus, implica em Atitudes por, que é responsabilidade por alguém. Essa responsabilidade não é paternalismo é companheirismo e solidariedade. Assim sendo, quando o pastor(a),educador(a), o missionário (a), ou qualquer outro vocacionado fala e age, fala e age com a sua vida toda.

Contudo, a vida vocacional é uma vida cheia de cuidados. É preciso evitar os percalços, os descuidos, as soberbas e desobediências a Deus que podem impedir o vocacionado de exercer a sua missão, pois a vida do vocacionado tem que ser compatível com a sua missão e com a palavra de Deus. Caso esqueça dessa compatibilidade o vocacionado aborta a missão em-sí-mesmo.

Ele fica impossibilitado de colocar a vocação para fora.Ela fica limitada na interioridade do Eu-reprovado. Fixada na interioridade, ela não pode transcender para o outro, porque se assim acontecer se tornará Escândalo.

A vida e a missão do vocacionado é uma coisa só. Se não compreendermos vocação e missão assim, corremos o risco de experimentarmos o lado bom de uma laranja podree acharmos que saboreamos e degustamos uma fruta saudável.

A vocação religiosa não pode ser compreendida à luz do conceito de trabalho da sociedade capitalista neo-liberal. Esse conceito está associado a competição e ao acúmulo de bens. A vocação ministerial compreendida como missão gera cooperação e partilha. No exercício da missão é impossível o enriquecimento de capital por parte do vocacionado. Veja o que o apostolo Pedro diz sobre isso:

"Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho;" I Pedro 5:2-3

O trabalho é outro tipo de fixação da vocação. Enquanto o comprometimento moral fraudulento fixa a vocação na interioridade do vocacionado, ou seja , o marca profundamente como um ser-reprovado para a missão como Escândalo, que o impede de exercer com dignidade a vocação e a missão, o trabalho é uma fixação externa, ou seja, nas coisas. O apostolo São Paulo ensinou que o amor ao dinheiro é um empecilho ao exercício da vocação e é a raiz de todo mal.

Compreender a vocação como trabalho e não como missão e celebração é fixa-la nas coisas que perecem tão somente pelo valor econômico que possuem. O vocacionado confere sentido e graça a vocação ao celebra-la e não ao instrumentaliza-la como meio de enriquecimento. A vocação religiosa que se define a partir das necessidades de um mercado, ou compreende-se profissionalmente no mundo, não subsiste aos ensinamentos do evangelho de Jesus Cristo e nem mesmo deve acontecer no mundo como vocação e missão. A vocação e a missão tem sentido e orientação litúrgica que incluem o próximo numa atitude solidária que desdobra-se numa ética comunitária onde a palavra Deus encontra sentido e validade social, porque assim sendo, a palavra Deus não é compreendida sem ação e referencial. Desse modo, o Ser-Deusé compreendido ontologicamente, socialmente, e liturgicamente na vida. Para tanto a vocação precisa ser compreendida em sua transcendência de modo duplo: Transcendência para o próximo e transcendência para Deus.