Viver a vida: um peixe fora d'água


A novela das nove  da Rede Globo se arrasta sem a sedução costumeira do horário. Motivo de piada mesmo nos bastidores, segundo notícias da imprensa, “Viver a Vida” é um barquinho a deslizar sem provocar reações na audiência. Ou talvez porque a vida real anda tão novelesca e cheia de dores e terrores que é melhor cozinhar a história em “banho maria” como se diz no interior.
O autor Manoel Carlos disse que até o carnaval não vai acontecer nada de espetacular na novela. A Rede Globo no momento não está sendo ameaçada por nenhuma concorrente no horário e assim deixa a “coisa” rolar e voar em “céu de brigadeiro”. Investir mais para brigar com quem?

Existem outras dificuldades percebidas pelo espectador. Como por exemplo a trama da novela que não funciona como elemento da narrativa pois os plots não são bem amarrados. Falta enredo, arena para conflito, o desespero e a esperança do herói, o fio condutor e as tramas paralelas que não apresentam identificação com a audiência. Os modelos de novelas de sucesso apresentam estratégias que são verdadeiros mapas da psiquê humana e são psicologicamente e emocionalmente realistas no arcabouço da trama mesmo com histórias fantásticas, impossíveis e irreais.

Outro grande desacerto pode ser a escalação do elenco. Já foi provado em vários momentos da história da teledramaturgia que o perfil dos atores/personagens exige a verossimilhança, empatia e um toque popularesco que a novela não trouxe. Papéis importantes, fios condutores da trama estão sendo interpretados por atores médios outros praticamente desconhecidos que não chegaram ao coração do público. E medalhões da casa estão sem função na história. Um desperdício.
Os rostos menos conhecidos na tela da Globo dão a sensação de que a novela é do SBT ou da Record com o festival de caras novas. A trama é frágil e sem os elementos costumeiros de Manoel Carlos em suas novelas: sadismo, pornografia, humor entre os dois. Aqueles depoimentos ao final trazem a "realidade" para o espectador que na novela só pretende o devaneio. Saudades de “A favorita”.

Janeiro, 2010