Ana Paula da C. Rebelo[1]

A intenção deste trabalho é proporcionar, aos profissionais da área educacional, uma maior visibilidade nas questões relacionadas a jogos e brincadeiras para o desenvolvimento afetivo, emocional, cognitivo, psicomotor e psicossocial das crianças nas escolas.

Os professores devem perceber que com poucos recursos e muita criatividade, poderemos transformar muitas salas de aula em ambientes ricos de brinquedos surgidos de interações criativas, cooperativas e mostrar para nossas crianças que nem só de brinquedos industrializados se constrói uma infância e de que a escola pode e deve ser um lugar prazeroso e que proporcione varias formas de aprendizagem.

Ao longo dos tempos, a escola vem se transformando em um espaço, cujo objetivo parece estar sendo o de preparar as crianças para serem adultos inseridos na lógica de mercado, como se a infância tivesse se tornado refém da idade adulta. Se, esta lógica tem roubado o espaço e o tempo da infância, em contrapartida, as ciências da educação têm apontado e sugerido a importância das brincadeiras no processo de formação da criança.

É importante frizar que jogos e brincadeiras podem ser importantes, pois contribuem para o desenvolvimento dos indivíduos de uma forma geral. Eis aqui alguns motivos:

·Desenvolver a linguagem oral e ampliação de vocabulário;

·Promover atividades recreativas;

·Estimular a memória;

·Exercitar a atenção;

·Favorecer a coordenação motora;

·Despertar o interesse por estórias;

·Desenvolver a percepção visual e auditiva, entre outros;

·Oportunizar momentos de prazer e alegrias;

·Promover a autoconfiança e afetividade e;

·Possibilitar a participação e cooperação.

Com as crianças normais esses objetivos são alcançados muito rápido e pouco percebidos e com as especiais, esses processos devem ser observados com muita atenção e acompanhados por um especialista.

Pra Vygotsky, a imaginação é a primeira possibilidade de ação da criança numa esfera cognitiva que lhe permita ultrapassar a dimensão perceptiva e motora do comportamento, por isso, é preciso resgatar o direito da criança a uma educação que respeite seu pensamento, que lhe permita desenvolver-se nas linguagens expressivas dos jogos e brincadeiras.

Se brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais prevalecem a incerteza do ato e não se buscam resultados. Porém, se os momentos objetivos servem como auxílio da ação docente, buscam-se resultados em relação à aprendizagem de conceitos e noções ou, mesmo, ao desenvolvimento de algumas habilidades. Nesse caso, o objetivo conhecido como brinquedo não realiza a função lúdica, deixa de ser brinquedo para tornar-se material pedagógico (kishimoto, 1994: 14).

O jogo não pode ser visto, apenas, como divertimento ou brincadeira para gastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral. Para Piaget (1967), o jogo é a construção do conhecimento e possibilita aos deficientes mentais aprender com o seu ritmo, e suas capacidades.

Cada indivíduo da escola é uma parte que forma um todo. Podemos comparar essas partes com os elementos da natureza, com os funcionários ou departamentos de uma empresa ou com as células de um ser vivo. É importante perceber que essas partes estão interligadas, se comunicam se interagem e dependem umas das outras para que o todo (aluno, professor, escola e sociedade), vivam e funcionem adequadamente.

Todo Pedagogo deve ter uma visão holística de sua Escola, porém a maior parte deles atinge o seu posto vindo de uma área específica, trazendo assim uma visão distorcida do todo.

No mundo educacional, com uma visão holística, é mais seguro tomar decisões relativas a uma das visões específicas, pois a influência desta decisão sobre as outras visões é observada. Descobrem-se também maneiras inusitadas de se educar, com a possibilidade de progredir dentro de uma relação harmônica com a sociedade. O sucesso de uma Escola vai deixar de ser quantitativo (onde busca-se apenas a maximização de notas) e passa a ser qualitativo, onde a qualidade é medida a partir das necessidades de todos os elementos que estão envolvidos na educação.

Concluímos que vivenciar o jogo e a brincadeira nos permite compreender como o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo, criativo, psicológico e psicossocial são despertados na criança, pois deixa-se de lado a educação de caderno, lápis, quadro e professor, e abre-se um outro lado pouco usado nas escolas brasileiras que é ensinar através das brincadeiras, aplicando-as de forma a possibilitar a construção do conhecimento; pois as crianças ficam mais motivadas a usarem a inteligência, (querem "jogar bem") sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos durante as brincadeiras, já que estão mais ativas mentalmente, sem contar que estimula a interação, ou seja, o envolvimento entre si e com isso aprendem a respeitar o ritmo se seu parceiro.

Brincar é uma forma de descobrir o mundo, organizar as emoções, iniciar os primeiros relacionamentos. Por meio da brincadeira, a criança processa as informações e experiências do dia-a-dia, desenvolve a coragem para arriscar, a iniciativa e a autonomia para agir. Aprender brincando é uma grande verdade, sobretudo quando se fala de criança, por isso costuma-se dizer que brincadeira é coisa séria.

Nesse ponto os estudos de especialistas convergem. Na opinião da educadora Fanny Abramovich a criança se desenvolve ao "entender tantas coisas através do brincar,... se entender através de tantas maneiras de brincar". Ao mesmo tempo, se diverte e assimila conceitos, envolve-se em uma realidade própria e acrescenta ação e sentimento aos objetos. Desse modo, um pedaço de madeira ou um carrinho podem, na brincadeira, andar, dormir, comer, sorrir ou chorar.

Brincar é tão importante que faz parte da Declaração dos Direitos da Criança, ao lado do atendimento das necessidades básicas de alimentação, saúde, habitação e educação. Assim, o espaço lúdico, representado por jogos e brincadeiras, precisa ser garantido pelas famílias, escolas e autoridades públicas.

A educação dentro de uma visão holística não é uma proposta pronta, com "receitas", e sim uma forma de pensar e perceber a vida, ela se faz presente em várias propostas educacionais. E todas estas contribuem muito para uma nova forma de educação onde podemos trabalhar a espiritualidade sem dogmas, o corpo e a mente através da meditação, ecologia, arte, jogos, alimentação, enfim, repensar a educação buscando o equilíbrio entre o lado direito e esquerdo do cérebro.

Referências:

CLOTILDE NEWS. A Visão Holística.

Site: http://www.clotildenews.com.br/holistic.htm

INTERNET

Site: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.

SILVESTRE, Mônica L. Jogos e brinquedos: a sucata refletindo o universo infantil: caderno pedagógico. Rio de Janeiro: Sindicato nacional dos editores de livros, 2005.


[1] Pedagoga, especializanda em Educação Especial e Inclusiva e Auxiliar Pedagógica da Faculdade da Amazônia – FAAM / Pa.