Viva Chico Buarque de Hollanda e do Brasil

 

 

Acabo de ler Histórias de Canções (Chico Buarque), de Wagner Homem, que traz histórias deliciosas sobre dezenas de composições do artista e me ocorreu como muitos de nós, brasileiros, não damos conta de como certas personalidades, este é o caso de Francisco Buarque de Hollanda, são injustiçados na terra que nasceram, amaram e entregaram toda obra. Aos 65 anos, quase 50 anos de carreira, mais de 60 discos gravados, sete livros, cinco peças e três filmes, Chico ainda é boicotado pela mídia e diríamos desconhecidos para milhões de brasileiros.

 

É meu caro amigo Chico (talento dos mais censurados nos “anos de chumbo”), faço minha parte de justiça e afirmo: você é um grande artista brasileiro, tuas obras, mesmo as que têm mais de 30 anos, são atuais. Quantos de nós não esperamos um novo dia, apesar de ver personagens retrógrados da política invadindo nossos lares pela telinha, como se tivéssemos amnésia crônica. Mas sempre dá para refrescar a memória pelo título de sua música: “Quem te viu, que te vê”. Guardo algumas (poucas) imagens do Chico em televisão, embora ele tenha apresentado durante algum tempo o Programa “Chico & Caetano”.

 

As que mais lembro são: Chico e Milton cantando “A Arca de Nóe”, em 82, no especial Vinícius para crianças; Chico e dezenas de artistas da primeira linha da MPB, em 85, no clip “Chega de Mágoa”, em favor de flagelados do Nordeste; Chico e diversos cantores e atores, em 89, no jingle Lula Lá, a primeira campanha de eleição direta para presidente da República, após 20 anos de Ditadura Militar (o atual presidente Lula disputou mais quatro eleições presidenciais e venceu as duas mais recentes, em 2002 e 2006). No livro História de Canções, há a informação que, nos anos 80, os pais de Chico Buarque eram filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT) e que Chico jamais foi filiado, embora tenha militado no PT e atuado em shows para comandos de greve, sempre junto com Lula, então metalúrgico e sindicalista, desde as greves do ABC até a fundação do PT.

 

Finalmente, a mais recente lembrança televisiva que eu tenho de Chico é de 93, portando há mais de 15 anos. Ele cantando “Paratodos”, uma homenagem para grandes nomes da MPB. Era o “gente humilde” Chico homenageando os colegas de profissão. A música termina com os versos: O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Vou na estrada há muitos anos/ Sou um artista brasileiro”. Encerro rendendo homenagem ao grande artista, torcedor do Tricolor carioca, que aliás é clube irmão de meu Guarani de Campinas. Viva Chico Buarque de Hollanda e do Brasil. Viva a democracia, embora pareça que melhorar a vida do povo carente ainda incomode a burguesia.

 

Edson Silva, jornalista, Campinas

 

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