VISÃO POÉTICA DO EVANGELHO DO AMOR ETERNO

 

No princípio da preexistência,

À destra da Suprema Onipotência,

Era o Verbo, diz o Sacro Registo;

E Deus, que jamais foi visto,

Revelou-nos a sua Benevolência

Na Pessoa de Jesus Cristo.

 

E o Verbo estava com Deus,

E o Verbo era igualmente Deus,

No princípio com Deus Ele estava;

O povo hebreu já o esperava,

Destarte, Ele veio para os seus,

Mas o seu povo não o amava.

 

João Batista, falando aos judeus

Que eram discípulos seus,

Num discurso deveras fecundo,

Deu-lhes um testemunho profundo,

Dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus,

Que tira o pecado do mundo!”

 

Depois disto houve um casamento,

Festa de grande contentamento,

E foi também Jesus convidado;

E, tendo o vinho logo acabado,

Sua mãe, que assistia ao evento,

Fez-lhe premente comunicado.

 

Portanto, Ele ordenou aos serventes

Que enchessem de água os recipientes,

Lida que a equipe prontamente executou,

E o Mestre a água em vinho transformou;

Assim, naquela alegre festa de nubentes,

Os seus inúmeros milagres Jesus iniciou...

 

A páscoa dos judeus se aproximava,

E em Jerusalém Jesus se encontrava;

Então, indo à Casa de Deus Ele achou

A casta que, abjetamente, transformou

O lugar naquilo que Ele não amava;

E a todos fora do templo Ele lançou.

 

Ora, havia um homem entre os fariseus

Que, sendo um dos principais dos judeus,

Foi ter na calma da noite com Jesus;

Sabedor de que Ele é a verdadeira Luz,

E o Divino Mestre, vindo de Deus,

E que à Verdade a todos conduz.

 

Da sacrossanta boca do Senhor,

Diretamente para o coração do pecador,

Palavra de Vida Eterna a fluir;

E, visando a Nicodemos instruir,

Jesus diz a mais inefável Palavra de Amor

Que um mortal pecador pode ouvir:

 

- “Porque Deus de tal maneira o mundo amou

Que o seu Filho Unigênito entregou,

Para que todo aquele que nEle crê não pereça,

Mas tenha a Vida Eterna”; e nunca se esqueça

De que Jesus Cristo para sempre aniquilou

A escura noite, para que o dia eterno amanheça!

 

Depois de uma viagem estava Jesus cansado,

E em Samária, junto do poço, ficou sentado

À espera de alguém que lhe desse de beber;

Então uma mulher, que foi o seu cântaro encher,

Postou-se vivamente interessada, a seu lado,

Visando à Água Viva do Salvador receber.

 

No tanque de Betesda jazia grande multidão

Que, sem saúde física e sem Salvação,

Esperava da água o habitual movimento;

Lá, um doente entregue ao esquecimento

Recebeu de Jesus sua terna Compaixão,

E deixou o local com grande contentamento.

 

Após o sinal que Jesus à multidão operara,

Quando pães e peixes para ela multiplicara,

Passou então a ensinar-lhe sobre outra comida

Muito mais importante que aquela já fornecida;

Ao povo que com o milagre Jesus pasmara,

Ele afirmou ser o verdadeiro Pão da Vida.

 

Pela manhã cedo Jesus ao templo voltou;

E ali, onde outras vezes ao povo ensinou,

Trouxeram-lhe uma mulher apanhada

Em adultério, para que fosse condenada,

Porque outrora na lei Moisés ordenou

Que tal pecadora fosse apedrejada.

 

Ao ouvir estas palavras, o Mestre amado

Por um momento permaneceu calado...

E inclinando-se, no chão com o dedo escreveu

Algo que jamais alguém conheceu;

- “Aquele dentre vós que está sem pecado

Seja o primeiro que atire pedra”, Ele respondeu.

 

Alhures, quando o Senhor Jesus Cristo passava,

Viu um homem cego de nascença, que mendigava;

Então, cuspindo no chão, com a saliva fez lodo,

E curou ao homem cego e perdido, de todo;

Porém, a casta religiosa não acreditava,

Pensando que tudo não passava de engodo.

 

Noutra ocasião, num belo ensino de Amor,

Jesus afirmou ser o nosso Bom Pastor,

O único que pelas ovelhas dá a sua Vida,

E Vida Eterna absoluta e eternamente garantida;

Da sua Mão e da Mão do Pai, nenhum usurpador

Poderá jamais arrebatar sua ovelha protegida!

 

- “Eu sou a Ressurreição e a Vida”,

Disse Jesus a Marta, sua seguidora, sentida

Pela morte de Lázaro, o irmão amado,

Que há quatro dias jazia sepultado...

- “Quem crê em mim”, disse à discípula querida,

“Ainda que esteja morto, será ressuscitado.”

 

Em Betânia, pequena aldeia de Maria,

Onde seu irmão Lázaro igualmente residia,

Houve dura oposição de Judas o traidor,

Aquele que jamais amou ao Senhor;

Quando os pés do Mestre ela ungia,

Evidenciava-lhe perfeito gesto de amor!

 

Depois, a multidão postou-se no caminho,

E Jesus, montado num simples jumentinho,

Em Jerusalém fez uma entrada triunfal

Que, antes, outra sua não houve igual;

Porém, este fato é apenas um pouquinho

Do que será o seu Reino Celestial...

 

Aproximava-se o dia da ida do Senhor

Para a Glória Eterna do seu Pai de Amor;

Então, para não deixar-nos na orfandade,

Em seu supremo ato de Bondade

Jesus promete-nos outro Consolador,

Que é o Espírito Santo da Verdade.

 

Ao homem que se encontra imundo,

Visto que do pecado ele é oriundo,

Jesus deixou este importante aviso,

Que a todo pecador saber é preciso:

O Espírito Santo convencerá o mundo

Do pecado, da justiça e do juízo.

 

Depois de Jesus deste modo falar,

Ao Pai Santo Ele pôs-se a orar

A favor de todos os discípulos seus,

Separados deste mundo de ateus,

Para que todos possamos gozar

Das infindáveis bênçãos de Deus.

 

E nesta indefectível Oração,

Feita perto de concluir a Missão

Que o Pai Justo lhe entregou,

Jesus a seus discípulos amou,

E amou-os de todo o seu Coração;

E a Oração também nos alcançou!

 

Para o Getsêmane Jesus se retirou,

E ali, intensamente, ao Pai Ele orou,

Visto que a sua hora era chegada;

Começou, então, naquela madrugada,

O Calvário que à cruz o levou,

Cumprindo, assim, a Profecia anunciada.

 

Perante o sinédrio e Pôncio Pilatos,

Jesus foi levado pelos insensatos,

Sob guia de Iscariotes, que o entregou;

Enquanto isso, no pátio, onde ficou,

Covarde diante de todos os fatos

Simão Pedro três vezes o negou.

 

- “Tu és o Cristo, o Filho de Deus?

Tu és o Rei dos judeus?”,

Perguntas formuladas a Jesus,

Que a todos veio trazer a sua Luz...

Mas, resolutos, vociferavam os seus:

- “É réu de morte, destina-o à cruz!”

 

Então, o dúbio e atemorizado governador,

Atendendo-lhes ao incessante clamor,

Entregou-o para ser crucificado;

Antes, porém, foi duramente açoitado,

E, por causa do seu Inefável Amor,

Por nossas iniquidades Ele foi esmagado!

 

Tomaram, pois, a Jesus;

E Ele, carregando a sua cruz,

Para o Gólgota a levou,

E ali a soldadesca o crucificou;

E esta Morte Vicária traduz

O quanto Ele nos amou!

 

- “Porque Deus de tal maneira o mundo amou

Que o seu Filho Unigênito entregou,

Para que todo aquele que nEle crê não pereça,

Mas tenha a Vida Eterna”; e nunca se esqueça

De que Jesus Cristo para sempre aniquilou

A escura noite, para que o dia eterno amanheça!

 

Então dois homens, cheios de amor,

Tiraram da cruz o Salvador;

E, numa obra plena de ternura,

Com essência aromática, a mais pura,

Prepararam o Corpo do Senhor

Para colocá-lo na sepultura...

 

Mas o sepulcro não é um lugar

Para o Corpo do Senhor Jesus ficar

Jazendo como um comum mortal;

O Trino Deus, em seu Poder Eternal,

Veio o Senhor Jesus ressuscitar

Para a sua Glória Divinal.

 

Logo, no primeiro dia da semana,

Do Deus Todo-Poderoso emana

A mais indescritível Obra de Amor,

Tirando do túmulo o nosso Salvador,

Corroborando, assim, o Hosana

Ao nosso Bendito e Eterno Senhor!

 

Realizada, pois, esta Obra Plena,

Jesus apareceu a Maria Madalena

E aos discípulos, logo a seguir;

Indubitavelmente, o seu ressurgir

Engendrou-nos a convicção amena

De fé, esperança e amor, no porvir.

 

Oito dias após a sua Ressurreição,

Fez Jesus a segunda aparição

Aos discípulos que Ele amava,

Porque na primeira Tomé não estava;

Pois, em seu fragilizado coração

A incredulidade o discípulo abrigava.

 

Na casa pelos discípulos habitada,

Estava a porta bem fechada

Quando Jesus lhes apareceu;

Então o Dídimo, vendo-o, creu,

E com a voz assaz emocionada,

Disse: Senhor meu, e Deus meu!

 

No mar de Tiberíades a pescaria,

No frescor da manhã de um belo dia,

Feita por sete dos seus seguidores,

Os quais eram exímios pescadores;

Na noite anterior, mesmo na calmaria,

O mar não lhes deu os seus favores...

 

Então Jesus, ali presente,

Vendo o grupo descontente,

Ordenou-lhe a rede lançar

À direita do barco, para achar;

E agora, num milagre evidente,

Não podiam a rede cheia puxar!

 

Quando do barco eles desceram,

Pão e peixe do Senhor receberam,

Para uma sossegada refeição;

E, nesse clima de alegre emoção,

Depois que todos comeram,

Jesus fez a Pedro a indagação:

 

- “Tu me ama, Simão, filho de João?

Amas-me de todo o teu coração?”

- “Sim, Senhor; do âmago eu proclamo

Que te amo, te amo, te amo!

Três vezes fiz a minha triste negação

E agora três vezes digo que te amo!”

 

- “Apascenta os meus cordeirinhos,

A todos os meus amados filhinhos;

As minhas ovelhas deves apascentar,

O ministério da Palavra deves realizar;

Deves trilhar por todos os caminhos

Que de agora em diante te hei de enviar.”

 

João, o amado Evangelista e Apóstolo do Senhor

Foi quem escreveu o Evangelho do Amor,

Dando-nos este testemunho fiel e verdadeiro;

E todos os Atos de Jesus, do primeiro ao derradeiro,

Se porventura um dia alguém escrevê-los for,

Creio que os livros não caberiam no mundo inteiro...

 

L ouvado seja o Bendito e Eterno Deus,

A quem rendo graças e os louvores meus;

Z eloso para conosco, emana do seu Coração

A mor Inefável e mui Infinita Compaixão,

R evelando, destarte, a todos os filhos seus,

O seu maravilhoso e eterno Plano de Salvação!

 

Lázaro Justo Jacinto