VISÃO ESTATÍSTICA DOS RESÍDUOS HOSPITALARES NUM HOSPITAL MUNICIPAL X

O Sistema de resíduos é como um computador e a estatística, têm um fluxo contínuo com entradas ou input dos dados , que são a fonte ou origem dos resíduos , o meio ou fase de encaminhamento e processamento dos dados que são a coleta e o transporte dos resíduos e as saídas ou output dos dados que são a apresentação dos dados ou descarte e/ou disposição final dos resíduos no caso. Assim a importância de sempre compilarmos e coletarmos dados estatisticamente para um gerenciamento dos resíduos. Assim mostro abaixo a síntese dos dados, não como inferência para um universo populacional, mas sim como estatísticas norteadoras de um rumo para os administradores hospitalares.
Esclareço também os aspectos estatísticos-matemáticos dos resíduos hospitalares estão mencionados nos subitens 4.2 e 4.2.1 e 4.2.2 e 4.2.3 da Resolução de Diretoria Colegiada RDC nº 306 da Anvisa que trata de indicadores mínimos ( taxa de acidentes com resíduos perfuro-cortantes, variação da geração de resíduos , variação da proporção de resíduos dos Grupos A , B , C , D e E e variação do percentual de reciclagem) em seu capítulo V ? Plano de Gerenciamento de Resíduos dos Serviços de Saúde ? PGRSS.
Um hospital junto com outros serviços de saúde responde por 1% a 3% de todos os resíduos produzidos no município . Assim não representa um Passivo Ambiental , como muitos querem alardear.
Com base em dados hipotéticos que se aproximam um pouco da realidade de um hospital x de grande porte (nº de leitos > ou = 150 e 500 cirurgias/mês), estima-se em 2.000 pessoas/dia (entre pacientes internados, acompanhantes, visitantes, atendimentos ambulatoriais de menos de 24 horas de permanência, servidores e funcionários de empresas terceirizadas prestadoras de serviços e/ou fornecedores ) o fluxo nesta unidade de saúde.
Estes fluxos diários de pessoas resultam numa produção média estimada de resíduos infectantes igual à 3,6 toneladas/mês (3.600 kg) de resíduos potencialmente infectantes ou 120 kg/dia.Quanto aos resíduos comuns numa produção média estimada igual à 12,60 toneladas/mês (12.600 kg) de resíduos comuns ou 420 kg/dia. Quanto aos resíduos químicos numa produção média estimada igual à 360 kg /mês ou 12 kg/dia .Quanto aos resíduos perfuro-cortantes numa produção média estimada igual à 1,11 toneladas/mês ( 1.440 kg/mês) ou 48 kg/dia.Estimativas estas cujo total de resíduos produzidos resulta em 18 toneladas/mês (18.000 kg) ou 600 kg/dia.Estas quantidades representam as proporções de 20% para os resíduos potencialmente infectantes, de 70% para os resíduos comuns, de 2% para os resíduos químicos e de 8% para os resíduos perfuro-cortantes, que de uma maneira geral representam parâmetros gerais conforme estudos da Revista Bio (2000), a composição dos Resíduos Sólidos de Saúde: 30% infectado; 25% reciclável e 35% comum.Estas variáveis também dependem do porte do hospital e do tipo de serviço prestado, se de atenção básica que produz menos resíduos potencialmente infectantes e muito mais resíduos comuns ou serviços de média e alta complexidade que produzem menos resíduos potencialmente infectantes e mais resíduos comuns em quantidades maiores e de proporções diferentes dos hospitais que cuja finalidade é mais ambulatorial.
A razão genérica (D/X) é a fração entre os resíduos comuns e os outros tipos de resíduos , sendo a razão (D/A) , a relação que mostra que para cada um kg de resíduo infectante , há 3,5 kg de resíduos comuns produzidos ; sendo a razão (D/B) , a relação que mostra que para cada um kg de resíduo químico , há 35 kg de resíduos comuns produzidos e a razão (D/E) a relação que mostra que para cada um kg de resíduo perfuro-cortante , há 8,5 kg de resíduos comuns produzidos.
Assim , quando avaliamos a geração de resíduos produzidos por leito ocupado (no caso supomos 150 leitos) temos a divisão de 600 kg/dia por 150 leitos que resulta em 4kg/dia de resíduos por leito, quando avaliamos a geração de resíduos produzidos per capta ou por pessoas circundantes/dia temos o fluxo de 2000 pessoas dividido por 150 leitos têm-se 0,300 kg /dia ou 300 gramas/dia de resíduos per capta.
Quanto a média anual de acidentes com material perfuro-cortante , considerando-se 28 acidentes por 1000 servidores expostos ao risco com estes acidentes, temos a taxa de 0,028 ou 2,8%.
Quanto a média mensal de acidentes com material perfuro-cortante , aproximadamente um (0,93) servidor se acidentará por mês.
Quanto a coleta seletiva, se considerarmos que o hospital x recicla 500 kg/mês (dividindo-se por 30 obtêm-se 17 kg/dia) de materiais dentre os 18.000 kg de resíduos produzidos/mês, significa que proporcionalmente a razão entre o que se recicla e o que se produz é de 3%.
Quanto a taxa média geral (respiratórias, cirúrgicas, pele, urinárias, sepses e outras) mensal de infecção hospitalar, estimaríamos em 8 %.

Síntese tabular destes dados medianos
Fluxos diários Dados diários estimados Dados mensais estimados
Pessoas 2.000 60.000
Produção de Resíduos potencialmente infectantes kg (Grupo A) 120 kg (20 %) 3.600
Produção de Resíduos comuns kg (Grupo D) 420 kg (70 %) 12.600
Produção de Resíduos químicos kg (Grupo B) 12 kg (2 %) 360
Produção de Resíduos perfuro-cortantes kg (Grupo E) 48 kg (8 %) 1.440
Produção de Resíduos Totais kg 600 kg (100 %) 18.000
Razão entre Resíduos D/A 3,5 3,5
Razão entre Resíduos D/B 35 35
Razão entre Resíduos D/E 7,5 7,5
Geração de resíduos por leito 4kg 120 kg
Geração de resíduos per capta 300 gramas 300 gramas
Taxa de acidentes com material perfuro-cortante (servidores do hospital x) % 2,8 % 2,8 %
Taxa média diária de infecção hospitalar 8 % 8 %
Custo médio a preços de 2007 dos resíduos infectantes , perfuro-cortantes e quiímicos em R$ (120 kg+48 kg+12kg) = 180 kg*R$2,68
= R$ 482,40 por dia R$ 14.472,00
Total de resíduos reciclados em kg 17 kg/dia
Porcentagem da reciclagem dentro os resíduos totais produzidos 3 % 3 %
Fonte : Cálculos do autor deste trabalho

Há um consenso atual na comunidade científica de que os RSSS (Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde) representam um potencial de risco em três níveis:
a) a saúde ocupacional de quem manipula esse tipo de resíduo , seja o pessoal ligado à assistência médica ou médico ? veterinária, seja o pessoal ligado ao setor de limpeza ou até mesmo os usuários do serviço;
b) aumento da taxa de infecção hospitalar.
Conforme a Associação Paulista de Controle de Infecção Hospitalar (apud FORMAGGIA, 1995) estudos realizados apontam que as causas determinantes da infecção hospitalar em usuários dos serviços médicos são:
? 50% devido ao desequilíbrio da flora bacteriana do corpo do paciente já debilitado pela doença e pelo estresse decorrente do meio ambiente onde está internado;
? 30% devido ao despreparo dos profissionais que prestam assistência médica;
? 10% devido às instalações físicas inadequadas que propiciam a ligação entre áreas consideradas sépticas e não sépticas, possibilitando a contaminação ambiental;
? 10% devido ao mau gerenciamento de resíduos e outros.
c) meio-ambiente
Na medida em que os RSSS, tratados inadequadamente, são dispostos de qualquer maneira em depósitos a céu aberto ou em cursos d?águas, possibilitam a contaminação de mananciais de água potável, sejam superficiais ou subterrâneos, e a disseminação de doenças por meio de vetores que se multiplicam nesses locais ou que fazem dos resíduos sua fonte de alimentação.
Assim , temos um fluxo diário de pelo menos 2.000 pessoas no hospital produzindo 600 kg/dia de resíduos totais e com uma previsão de custo/dia para a SEMUS (Secretaria Municipal de Saúde) em aproximadamente R$ 482,40 ao dia a preços de 2007 (R$ 2,68 por kg coletado) dos resíduos infectantes , perfuro-cortantes e químicos coletados e transportados diariamente pela Serquip empresa de tratamento de resíduos LTDA.
Os planos de gerenciamento de resíduos dos serviços de saúde em sua continuidade devem observar a evolução anual destes indicadores de modo a melhor administrar o aumento da segregação dos resíduos e minimizar e reduzir o impacto do tripé formado pela saúde ocupacional-taxa de infecção hospitalar- meio ambiente.