Quando ela partia rumo ao computador sabia que um texto tecido a duras penas surgiria. Não se preocupava em produzi-lo primeiro à mão, com a tinta fresca da caneta rabiscada no papel de pão. Era demais o que escrevia, aprendera através da leitura. Sabia escolher aquilo que lia. Sempre ignorou os escritos de Paulo Coelho, mas nunca o subestimou sabia que havia uma legião de fãs afoitos em saber quando sairia o próximo livro do bruxo (ou mago?). Optou por Machado de Assis, mas foi uma escolha forçada, realizada na escola através daquela professora chata de Literatura Brasileira.

No Ensino Médio tratou logo de alçar outros vôos, assumiu a leitura de Marcelo Rubens Paiva, passou pelos escritos de João Ubaldo Ribeiro e Ignácio de Loyola Brandão, bebeu das águas de Roberto Drummond, insistiu em ler Vinícius de Morais, mas foi se deitar com o primeiro vadio que passou e deixou sua marca – Marquês de Sade. Mas não foi com ele que ela se casou, deu seu amor a José de Alencar. Achava que se parecia com Iracema, a "Virgem dos Lábios de Mel".

Essa experiência amorosa ficou contida em sua vida. Desfilou com ela até os últimos dias. Nas suas obras era nítido o ar desses escritores. Navegava pelos amores que tivera, sonhava com eles quando enlouqueceu. Tecia seus textos mesmo na falta de lucidez. Está aí o segredo de tanto sucesso: a falta de lucidez, o poder de enlouquecer-se.

Mesmo depois de alguns anos de sua ausência, escutava as teclas do computador se embaralhando, enroscando-se como que da primeira vez em que ela subiu aquelas escadas rumo ao quarto e disse que escreveria. Era seu primeiro texto. Um romântico e belo indigenismo.