VIOLÊNCIA SE COMBATE COM O RESGATE SOCIAL
Publicado em 23 de setembro de 2009 por MARCIO MENDES
É sabido que o indivíduo passa por incessante transformação
no campo familiar e escolar. Percebe-se, que cada vez mais prematuramente estas
instituições tropeçam em problemas relacionados à violência. Nas últimas
décadas a alteração de valores presentes na família, na escola, nas visões de
mundo e a exclusão dos direitos sociais básicos: o trabalho, à saúde, à
educação de qualidade e a moradia abalaram antigos paradigmas produzindo um
aclive total à violência. Pautados nessa realidade coloca-se em evidência a
trágica desigualdade social em que se encontra a população brasileira. Cresce
visivelmente em vários lugares: o mandonismo, o patriarcalismo, o coronelismo e
mazelas similares. E conseqüentemente, as manifestações de violência são
alarmadas pelas camadas mais sofridas da população, neste cenário crônico de
exclusão e segregação socioespacial, onde os homens se devoram em busca de uma
falsa sobrevivência. Estudos realizados pela Ipea concluiu que:
"A tendência de crescimento no país observada nos anos 80 e 90 somente será
revertida se houver uma queda da desigualdade de renda no país. [...] No Estado
de São Paulo, uma redução de 2% ao ano, na desigualdade da renda faria o número
de homicídios caírem 11,6% de 2001 a 2006".
A sociedade encontra-se em conformidade com a opinião do auto, pois nas grandes
cidades, as altas taxas de corrupção, criminalidade e homicídios são mais
freqüentes a cada dia. Inúmeros destes estão associados ao tráfico e consumo de
drogas, o que revela a exclusão dos moradores de periferias, ocasionadas pelas
transformações no mercado de trabalho e no processo de urbanização. A
vulnerabilidade em que é exposta esta população faz com que muitos, incluindo
até mesmo crianças e jovens, sejam submetidos a riscos de todos os tipos de
violência, em busca de sobrevivência numa realidade cruel, mas que passa ser
idealizada. E é na aceitação dessa situação que muitos perdem a sua verdadeira
identidade sem que nada seja feito para impedir. Segundo Pena (2004).
"A violência tem de ser prevenida mais pelo combate ao desemprego e melhoria da
educação do que pela repressão policial. [...] Dos 12.180 entrevistados, 64%
defenderam o combate ao desemprego e a melhoria na educação como prioridade".
Nesta perspectiva, se houver a reversibilidade da má distribuição de renda, da
ausência histórica de investimentos do Estado que por sua vez aumenta à revolta
e o desejo de vingança pelo isolamento social, com a oferta de educação de
qualidade, teria um antídoto no combate a esta deterioração humana que pode e
deve ser modificada.
Em se tratando de habitação, a ocupação desordenada compromete a qualidade de
vida e favorece a marginalização do sujeito ali inserido.
No âmbito educacional são exercitados processos socializadores de crianças,
jovens e adultos, baseadas numa lógica de ocupação e participação do espaço
social, na tentativa de conduzir a formação da cidadania de sujeitos autônomos e
solidários. É um paradigma que implica fundamentalmente, o exercício de poder:
Se o sujeito "faz parte da ação" que afeta sua vida tem que fazer parte da
decisão.
Contudo não podemos desprezar a outra face do Brasil, onde a classe dominante
em condomínios fechados, totalmente isolados da miséria que assola a sociedade,
faz uso do tipo mais desejável de moradia, desfrutam do lazer e segurança e,
muitas vezes por trás dos altos muros, de sua fortaleza atuam como personagem
principal de toda essa violência. Boa Ventura relata que:
"Trata-se da segregação social dos excluídos, por meio de uma cartografia
urbana dividida em zonas selvagens e civilizadas. [...] As selvagens são as
zonas do Estado de natureza hobbesiano. As civilizadas são as zonas do contrato
social; vivem sob a constante ameaça das selvagens. Para se defender, tornam-se
castelos neofeudais, enclaves fortificados que caracterizam as novas formas de
segregação urbana. Nas zonas civilizadas, o Estado age democraticamente, como
protetor, ainda que muitas vezes ineficaz ou não confiável. Nas selvagens, age
fascistamente, como Estado predador, sem nenhuma veleidade de observância,
mesmo aparente, do direito".
Comungantes são as idéias do autor, pois a cidadania se manifesta situando
todos como governantes no processo social. É uma condição de relação com o
outro, uma vez que não há cidadania no isolamento ou na exclusão.
Portanto, a melhor maneira de se reduzir os altos índices de violência no país
é por em prática planos emergenciais que promovam a queda da desigualdade de
renda e a reformulação de políticas públicas voltadas ao regate da dignidade da
pessoa humana.
REFERÊNCIA.
•CALDEIRA, Tereza Pires do Rio. Enclaves fortificados: erguendo muros e criando
uma nova ordem privida. In: Cidade de muros:crime, segregação e cidadania em
são Paulo: ed.34/edusp.2000.
•HUGHES, Pedro Javier aguerre. Segregação socioespacial e violência na cidade
de São Paulo: referencias para formulação de políticas públicas. São Paulo em
Perspectiva, vol.18, nº 4,p.93-102,2004.
•LOPES,C.Soberania nacional e execuções sumárias. folha de São Paulo.São
Paulo.6 nov.2003.