É sabido que o indivíduo passa por incessante transformação no campo familiar e escolar. Percebe-se, que cada vez mais prematuramente estas instituições tropeçam em problemas relacionados à violência. Nas últimas décadas a alteração de valores presentes na família, na escola, nas visões de mundo e a exclusão dos direitos sociais básicos: o trabalho, à saúde, à educação de qualidade e a moradia abalaram antigos paradigmas produzindo um aclive total à violência. Pautados nessa realidade coloca-se em evidência a trágica desigualdade social em que se encontra a população brasileira. Cresce visivelmente em vários lugares: o mandonismo, o patriarcalismo, o coronelismo e mazelas similares. E conseqüentemente, as manifestações de violência são alarmadas pelas camadas mais sofridas da população, neste cenário crônico de exclusão e segregação socioespacial, onde os homens se devoram em busca de uma falsa sobrevivência. Estudos realizados pela Ipea concluiu que:

"A tendência de crescimento no país observada nos anos 80 e 90 somente será revertida se houver uma queda da desigualdade de renda no país. [...] No Estado de São Paulo, uma redução de 2% ao ano, na desigualdade da renda faria o número de homicídios caírem 11,6% de 2001 a 2006".

A sociedade encontra-se em conformidade com a opinião do auto, pois nas grandes cidades, as altas taxas de corrupção, criminalidade e homicídios são mais freqüentes a cada dia. Inúmeros destes estão associados ao tráfico e consumo de drogas, o que revela a exclusão dos moradores de periferias, ocasionadas pelas transformações no mercado de trabalho e no processo de urbanização. A vulnerabilidade em que é exposta esta população faz com que muitos, incluindo até mesmo crianças e jovens, sejam submetidos a riscos de todos os tipos de violência, em busca de sobrevivência numa realidade cruel, mas que passa ser idealizada. E é na aceitação dessa situação que muitos perdem a sua verdadeira identidade sem que nada seja feito para impedir. Segundo Pena (2004).

"A violência tem de ser prevenida mais pelo combate ao desemprego e melhoria da educação do que pela repressão policial. [...] Dos 12.180 entrevistados, 64% defenderam o combate ao desemprego e a melhoria na educação como prioridade".

Nesta perspectiva, se houver a reversibilidade da má distribuição de renda, da ausência histórica de investimentos do Estado que por sua vez aumenta à revolta e o desejo de vingança pelo isolamento social, com a oferta de educação de qualidade, teria um antídoto no combate a esta deterioração humana que pode e deve ser modificada.

Em se tratando de habitação, a ocupação desordenada compromete a qualidade de vida e favorece a marginalização do sujeito ali inserido.

No âmbito educacional são exercitados processos socializadores de crianças, jovens e adultos, baseadas numa lógica de ocupação e participação do espaço social, na tentativa de conduzir a formação da cidadania de sujeitos autônomos e solidários. É um paradigma que implica fundamentalmente, o exercício de poder: Se o sujeito "faz parte da ação" que afeta sua vida tem que fazer parte da decisão.

Contudo não podemos desprezar a outra face do Brasil, onde a classe dominante em condomínios fechados, totalmente isolados da miséria que assola a sociedade, faz uso do tipo mais desejável de moradia, desfrutam do lazer e segurança e, muitas vezes por trás dos altos muros, de sua fortaleza atuam como personagem principal de toda essa violência. Boa Ventura relata que:

"Trata-se da segregação social dos excluídos, por meio de uma cartografia urbana dividida em zonas selvagens e civilizadas. [...] As selvagens são as zonas do Estado de natureza hobbesiano. As civilizadas são as zonas do contrato social; vivem sob a constante ameaça das selvagens. Para se defender, tornam-se castelos neofeudais, enclaves fortificados que caracterizam as novas formas de segregação urbana. Nas zonas civilizadas, o Estado age democraticamente, como protetor, ainda que muitas vezes ineficaz ou não confiável. Nas selvagens, age fascistamente, como Estado predador, sem nenhuma veleidade de observância, mesmo aparente, do direito".

Comungantes são as idéias do autor, pois a cidadania se manifesta situando todos como governantes no processo social. É uma condição de relação com o outro, uma vez que não há cidadania no isolamento ou na exclusão.

Portanto, a melhor maneira de se reduzir os altos índices de violência no país é por em prática planos emergenciais que promovam a queda da desigualdade de renda e a reformulação de políticas públicas voltadas ao regate da dignidade da pessoa humana.

REFERÊNCIA.

•CALDEIRA, Tereza Pires do Rio. Enclaves fortificados: erguendo muros e criando uma nova ordem privida. In: Cidade de muros:crime, segregação e cidadania em são Paulo: ed.34/edusp.2000.

•HUGHES, Pedro Javier aguerre. Segregação socioespacial e violência na cidade de São Paulo: referencias para formulação de políticas públicas. São Paulo em Perspectiva, vol.18, nº 4,p.93-102,2004.

•LOPES,C.Soberania nacional e execuções sumárias. folha de São Paulo.São Paulo.6 nov.2003.