INTRODUÇÃO

A violência tem sido objeto de reflexão acadêmica e de formulação de políticas públicas no campo da Saúde Coletiva. As causas externas ? acidentes e violências ? correspondem à terceira causa de óbito na população brasileira, preponderando entre homens jovens. As taxas de mortalidade por esses eventos apresentam-se altas e crescentes desde a década 80, disseminando-se, em algumas regiões do Brasil, à semelhança de doenças transmissíveis.
O Ministério da Saúde, enquanto acompanha a crescente morbimortalidade por causas externas no País, mobiliza-se para, efetivamente, incluir a prevenção dos acidentes e violências em sua agenda e ampliar a compreensão da necessidade do enfrentamento desse problema, tradicionalmente restrito a outros setores, exemplo do Transporte, Segurança e Justiça. (SILVA, 2007). As causas externas vêm-se apresentando, principalmente nos anos mais recentes, entre os principais problemas de Saúde Pública em nosso País, seja por sua magnitude, pelos custos que representam para a sociedade e pelos impactos sociais e psicológicos nas vidas dos indivíduos e das famílias. Atualmente, esses agravos correspondem à terceira causa de óbito na população brasileira, após as doenças do aparelho circulatório e neoplasias. Constituem, ademais, a primeira causa de óbito na faixa etária de 1 a 44 anos, em ambos os sexos. Houve uma mudança no perfil de mortalidade por causas externas desde a década de 80, quando os acidentes de trânsito assumiam maior importância em magnitude. Na década de 90, a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança, a melhoria do sistema de atendimento pré e intra-hospitalar e a introdução do Código de Trânsito Brasileiro ? este de 1998 ? foram alguns dos fatores reconhecidos para o declínio observado na mortalidade, principalmente entre ocupantes de veículos motorizados ? exceto motocicletas. Entre os acidentes de trânsito, permanecem como principal desafio os atropelamentos e os acidentes de motocicleta. As agressões apresentaram uma tendência crescente, desde o início dos anos 90, cuja reversão veio a acontecer no ano de 2004, muito provavelmente em decorrência do Estatuto do Desarmamento implantado a partir do final de 2003.
A violência é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um sério problema de saúde pública na atualidade, tanto para os países desenvolvidos como para os países em desenvolvimento. Tem sido objeto de análise acadêmica e de políticas públicas no campo da saúde, dada a importância da magnitude das mortes e internações e impactos gerados na sociedade, além de provocar importantes repercussões econômicas para a área de saúde pública. Estima-se que os gastos na área de saúde em virtude da violência consumam cerca de 3,3% do PIB brasileiro. Essa cifra sobe para 10,5%, se incluída os custos indiretos e as transferências de recursos para estados e municípios. A OMS inclui os mortos e feridos no trânsito como o gigantesco problema de saúde pública no mundo entre as causas externas. No Brasil, é a sexta causa de internações hospitalares. O custo total do atendimento das vítimas do trânsito suga cerca de 20% do total de recursos para os atendimentos médicos primários, secundários e terciários na rede pública (R$ 6 bilhões). Considerando os seguintes custos hospitalares provocados pelo trânsito: a soma dos custos dos recursos humanos e materiais do atendimento e tratamento das vítimas de colisões de trânsito, desde a chegada ao hospital até o momento da alta ou do óbito; os custos dos programas de reabilitação, como fisioterapia. O custo do resgate de vítimas, do local do evento até o hospital ou pronto-socorro, agregando o custo da utilização de equipamentos especiais e do deslocamento das equipes de resgate, com veículos e profissionais especializados (ambulâncias, médicos, paramédicos). Os fatores de custo estão diretamente relacionados com quadro clínico: lesões moderadas ou graves com ou sem ocorrência de óbitos, se a internação foi normal ou em regime de hospital-dia. Na avaliação dos custos médico-hospitalares pela gravidade da lesão, os maiores gastos estão relacionados com os pacientes graves com ou sem óbito. Os menores valores são dos pacientes que morreram na admissão, seguidos pelos custos dos casos moderados. A gravidade é um fator que se relaciona de forma direta com os custos, quanto mais grave a lesão, maior o custo do atendimento. Exceções a esta regra são os casos muito graves que morrem na admissão, sem tempo hábil de tratamento. O tempo de permanência do paciente na unidade hospitalar é, também, um importante componente de custo. O atendimento ao paciente grave que não vai a óbito é o mais dispendioso dentre todos, enquanto do paciente muito grave, que não consegue sobreviver às lesões iniciais, acaba sendo o menos custoso. Os custos crescem de forma exponencial nos pacientes muito graves, ainda que sejam minoria são os maiores responsáveis pelos altos custos do atendimento médico-hospitalar. Porém, não se deve esquecer a grande quantidade de acidentes menores de baixo custo, que estão fora dos bancos de dados dos sistemas de saúde, pois não geram internação e que não são computados de forma adequada. Nos pacientes amputados, observa-se o mesmo quadro que nos portadores de traumatismo raquimedular, pois tanto a prótese como os medicamentos são os grandes responsáveis pelo custo. O valor gasto pelos pacientes amputados foi muito próximo daquele dos pacientes com traumatismo raquimedular e mostra que uma grande incapacidade causada por uma seqüela precisa de vários componentes para ser reabilitada e que seu custo é alto, principalmente quando considerada ao longo do tempo. As estatísticas referentes à violência no trânsito já incluem o pedestre, vítima de atropelamento ? cerca de 50% das mortes ? como o elemento mais vulnerável no trânsito. Não se pode deixar de observar que o trânsito brasileiro está entre os dez mais violentos e desorganizados do mundo. Segundo pesquisas origem-destino em algumas cidades brasileiras, mais de 30% dos deslocamentos realizados em área urbana são feitos a pé. Os acidentes do trânsito (AT) surgem então como um importante problema social e de saúde publica, podendo ser considerado uma grave epidemia do século XXI.
Podemos comparar a ocorrência dos AT ao processo saúde/doença. Neste processo temos o hospedeiro, o meio-ambiente e o agente (causador da doença). Para os AT o hospedeiro é o ser humano (motorista, passageiro ou pedestre), o meio ambiente é a via pública (ruas, avenidas e rodovias) e o agente é o veículo motorizado (carro caminhonetes, caminhão, motocicleta, etc.). Assim sendo, a prevenção destes eventos necessita de ações multidisciplinares e intersetoriais que dependem de vontade política e atuação coordenada (SOUZA; MINAYIO, 1995), Por isso mesmo são difíceis de serem realizadas, pois segundo (CHAMMÉ; 1997): "as questões da interdisciplinaridade dedicada aos estudos de vários setores da vida coletiva, são considerados um desafio à tecnologia e à criatividade humana".
Para promover as mudanças comportamentais de motoristas e pedestres é necessária uma série de intervenções, que devem ser efetuadas através de um conjunto de políticas públicas com destaque para: campanhas publicitárias de informação ao público; mudanças na legislação e programas de educação para promoção de um trânsito saudável (MARÍN: QUEIROZ, 2000).
A motivação pelo estudo em questão surgiu a partir do atendimento de numerosos casos de acidentes atendidos nos plantões de finais de semana na emergência de um hospital de pequeno porte e no acompanhamento as famílias e as vítimas no Programa Saúde da Família (PSF) e ainda analisando os dados estatísticos do município. A onde se pode ver o sofrimento dessas famílias na perda de seus entes queridos ainda muito jovens na fase da adolescência ou na fase produtiva deixando-os com sequelas, o que impossibilitava do trabalho e exigiam um acompanhamento domiciliar pelo um longo período.
A importância do estudo proposto está no fato de ter aumentado de forma alarmante as mortes por causas externas, especialmente acidentes de moto no município, acometendo indivíduos jovens e em maioria do sexo masculino, alem disso indaga-se sobre os recursos materiais e humanos disponíveis que prestam o primeiro atendimento a essas vítimas e os custos gerados no tratamento, na recuperação das vítimas para o município.
Então, com a inquietude que me é peculiar resolvi desenvolver um estudo epidemiológico para tentar compreender as causas, por que morrem tantos jovens vítimas de acidentes de trânsito? A falta de promoção, prevenção da saúde podem ser vistas no princípio como formas de se trabalhar esse problema. Através de um estudo epidemiológico poderão ser levantados dados, analisados esses números em relação as outros atendimentos e a freqüência os quais ocorrem. E o que pode ser feito para sensibilizar os gestores, as famílias e a comunidade? O que fazer para mudar o comportamento dos motoristas, e reduzir os acidentes que se tornou uma epidemia, um caos na saúde pública?
O presente estudo tem com objetivo identificar o numero de mortes por causas externas no município de Croatá no estado do Ceará, através de dados fornecidos pelo SIM ? 13ª CRES - nos anos de 2004 a 2008 e identificar o número de atendimentos hospitalar por causas externas (Violência em geral), através de registros dos livros de ocorrências do hospital situados na cidade, identificando acidentes de: (carro, moto, arma branca, arma de fogo, queda e tentativa de suicídio), no município de Croatá- CE nos anos de 2007, 2008 e traçar o perfil dessas vitimas e comparar as causas dos óbitos nas principais categorias ( cardiovasculares, neoplasias, causas externas, doenças infecto contagiosas, indefinidas e outras) , com as de acidentes da trânsito.