A violência na Escola; Desafios e Soluções.

Eliana Costa Bessa *

A violência é uma das maiores preocupações da população, especialmente nas grandes cidades. Os meios de comunicações dão ênfase aos crimes de violação aos direitos humanos e os que atingem a integridade física ou a vida dos indivíduos. O que justifica este interesse sobre o tema pela mídia são os dados alarmantes dos institutos de pesquisa.

Nos últimos quinze anos, os homicídios triplicaram no Brasil e matam-se 50% mais jovens em são Paulo do que em Nova Iorque, sendo esta uma das cidades mais violentas entre as cidades dos países desenvolvidos. O assassinato tem sido a principal causa de morte de adolescentes do sexo masculino em São Paulo – em cada 100 mil adolescentes  paulistanos, 88 foram assassinados no ano passado.

(Folha de S.Paulo, 11/11/96)

            Apesar dos altos índice, a temática sobre a violência ainda não tornou-se um debate social amplo, com grande clamor público, as manifestações mostraram-se individuais e pontuais e as pessoas que sofreram alguma forma de agressão não procuram a justiça para reclamar talvez por desconhecer os meios de reparação ou simplesmente pelo descrédito das instituições públicas ligadas à segurança. Os que podem buscam uma alternativa à segurança púbica deficiente pagando as empresas privadas pelas cercas elétricas, alarmes e outros meios. A privatização não é remédio para a violência, pois essa é uma ilusão de segurança.

Assim, ao adentrarmos a questão da violência percebemos que ela é um problema de utilidade pública, já que o desemprego, renda, escolaridade, religião, cor, desestrutura familiar, além de outros são fatores de suas causas. O pior de tudo é que inexiste vontade política, bem como da sociedade em geral; famílias, escolas, igrejas empresas, associações e da mídia em geral para enfrentar essa situação.

*Professora rede estadual de Mato Grosso, Licenciada em Letras Pela UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso), Pedagogia para as séries iniciais e ensino fundamental pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e pós-graduada em Educação Especial.

A complexibilidade da violência requer implementação de atitudes decisivas na área da segurança, mas principalmente na educação, a qual o estado não garante a universalização e a qualidade garantida constitucionalmente. Por isso, as escolas enfrentam a repetência, a evasão, a falta de materiais e profissionais qualificados  e valorizados. O fracasso escolar tem suas raízes também no seu interior, contudo os fatores externos tem maior peso pela convivência social dos indivíduos na escola. A falta de qualidade da Educação Pública e o processo seletivo que o sistema educativo aplica causa exclusão principalmente das pessoas mais carentes. ”Este processo de exclusão faz com que a maioria da juventude não tenha participação nem política, nem na produção econômica, social e cultural, e daí o caminho do crime, muitas vezes, apresenta-se como um sucedâneo para a frustração social”. ( Vicente Barreto, 1996).

            As causas da violência, não se limitam aí, contudo é importante analisar  o papel de cada um; família, escola, estado e  sociedade a fim de entendermos o que temos e o que queremos para a humanidade. Assim, um país em que as leis são descumpridas e o próprio estado viola os direitos do povo é fácil entender porque a educação não consegue cumprir seus objetivos básicos.

            A relação professor aluno é outro aspecto relevante nessa discussão, alguns alunos vêm de uma total desestrutura familiar e a falta de educação doméstica é algo que realmente atrapalha o contexto das salas de aula atualmente. Os docentes perdem muito tempo chamando atenção, tentando manter a ordem necessária para o processo de ensino aprendizagem, mas às vezes não conseguem e em muitos casos precisam intervir quando percebem discentes promovendo atitudes de violência. Em outras situações a intolerância vem dos docentes em falas como; “Este aluno está ferrado comigo” ou “Este aluno não quer nada com a escola e por mim está reprovado”. È preciso ter cuidado para que  a autoridade de professor não se torne autoritarismo pois  com o processo de democratização vivenciado pela sociedade o conceito de autoridade sofreu profundas alterações o que certamente afeta os alunos. Portanto os professores precisam rever algumas posturas profissionais.

            Os profissionais da educação devem buscar um aperfeiçoamento constante, ter um carinho especial pela profissão que abraçou e os professores precisam utilizar sua autoridade com moderação e imparcialidade. As conversas paralelas podem ser eliminadas rapidamente em classe chamando a atenção dos envolvidos de forma bem humorada.

“Boa técnica de motivação é ter uma conversa em particular com o aluno. Em que se procura explorar o sentimentalismo e também, quando necessário, falar francamente com o aluno, chamando-o as suas responsabilidades. É imprescindível que ele sinta, apesar das verdades, se necessárias que o professor é seu amigo e tudo está fazendo para ajudá-lo.”

(NÉRICI, 1992, p. 190)

            Quando se fala em indisciplina ou violência na escola se pauta muito na relação professor aluno por ser o docente quem mais vivencia o comportamento dos alunos. Segundo Masseto (1996), o sucesso (ou não) da aprendizagem está fundamentado essencialmente na relação forte relação afetiva existente entre alunos e professores, alunos e alunos e professores e professores. Respeito se conquista não se impõe e o diálogo é o melhor caminho para a solução de problemas.

“A violência é a força bruta contra alguém. Quem pratica a violência é burro, covarde, porque somos seres humanos e a única coisa que nos diferencia dos animais é a capacidade de usar palavras, para que usar a força bruta? È isso que as pessoas precisam entender.”

(RENATA AGUIRRE, Escola Municipal de São Paulo)

            Portanto, para se alcançar o nível do diálogo na resolução dos conflitos é preciso fortalecer a escola, torná-la mais atrativa, mais humanizada com formação voltada cidadania.

Referências Bibliográficas

NÉRICI, I. G.  Educação e metodologia. São Paulo: Pioneira, 1992.

FOLHA DE SÃO PAULO, 11 nov. 1996.

BARRETO, Vicente. Educação e violência: reflexões preliminares. In: Violência e Educação. São Paulo: Cortez, 1992.

MASSETO, M. Didática. A aula como centro. São Paulo: FTD, 1996.