VIOLÊNCIA, CRIMINALIDADE E PODER NO BRASIL

A questão da violência deve ser observada com mais seriedade do que se imagina e com muito mais eficácia no seu combate.
Ao contrário de uma série de teorias e colocações feitas por estudiosos do assunto é bom salientar que a violência também não deve ser vista apenas como uma questão de segurança pública.
As questões que entornam a violência se originam de uma série de vertentes que envolvem conflitos pessoais, sociais, econômicos e até mesmo políticos.
Quando tratamos a violência a partir do ponto de vista dos conflitos pessoais, nos deparamos com situações que envolvem interesses particulares que podem resultar em ações criminosas de grande impacto na vida das pessoas, sejam elas vítimas ou não.
Quando tratamos a violência pela ótica dos conflitos sociais, percebemos o envolvimento de grupos específicos que representam determinadas categorias da sociedade que lutam pela defesa de seus interesses junto ao poder público se manifestando das mais diversas formas.
Quando tratamos a violência como uma questão de conflito de natureza econômica é necessário entender a grande disparidade que ocorre no processo de distribuição de renda, abordando aspectos associados a concentração de grande parte renda sob o controle de uma minoria.
Quando tratamos a violência como uma questão política é necessário aprofundar-se na temática, refletindo com profundidade sobre os diversos aspectos que envolvem tão importante questão.
O grande erro do poder público é tratar a violência como uma questão de segurança pública e que a mesma deve ser vista como assunto policial ou judiciário, bem como acreditar que a aplicação de ações repressivas pode resolver o problema.
A violência é todo um conjunto de eventos que envolvem conflitos no trato dos interesses dos indivíduos dentro e a margem da lei e não deve ser confundida nunca como uma questão apenas de segurança pública.
A violência traça caminhos que podem levar qualquer país a ruína se a mesma não for tratada e combatida de forma eficaz e preventiva, pois as ausências de ações efetivas do poder público contribuem para agravar o problema.
É importante afirmar que grande parte dos intelectuais e organismos que tratam desta questão a serviço do poder público, associam a questão apenas ao aumento da população e nem de longe percebem os verdadeiros danos que este fenômeno poderá causar a sociedade.
É preciso entender que a violência manifestada nos moldes atuais poderá tomar rumos nada interessantes para o futuro e o poder público no Brasil a exemplo do que já ocorreu em muitos países não percebeu a seriedade da questão e os grandes transtornos que virá a ter no futuro.
Não adianta falar em violência se não entendermos a questão da criminalidade sob todos os aspectos citados anteriormente e da mesma forma se não entendermos como a justiça atua como elemento mediador destes conflitos.
Existem países no mundo em que o poder público só controla uma parte da sociedade e da área territorial e o restante está sob o controle de grupos de poder paralelos que se organizam sob a forma de facções políticas ou criminosas, sem falar que muitas delas já tomaram completamente o poder.
A ausência do poder público como elemento de representação ativa dos interesses da sociedade leva muitas vezes a criação de instrumentos paralelos de representação das mais diversas formas.
Quando o poder público se fragiliza como representação dentro do município, estado ou nação é praticamente impossível impedir o surgimento de outras formas de poder paralelo para controlar a sociedade e territórios.
No Brasil este fenômeno é coisa normal, pois existem municípios brasileiros em que o poder público demarca a sua área de controle e o poder paralelo também demarca a sua. Em muitas situações o poder público precisa de autorização dessas formas de poder paralelo para intervir dentro destas áreas.
Na verdade é uma estrutura de poder paralelo com representantes, leis e justiça próprias que se estabeleceu com o aval e aprovação da sociedade local dentro de outra estrutura de poder.
Nesse ínterim percebemos uma relação conflituosa entre o que segue as regras da lei e o que está à margem de lei, pois tudo que é ilícito de um lado é perfeitamente lícito do outro.
Neste sentido o perigo de uma insurreição é iminente, pois os delitos serão direcionados para autoridade constituída nas suas mais diversas formas de representação no poder executivo e legislativo, bem como no judiciário.
Ora, não seria exagero afirmar que o poder público no Brasil controla apenas uma parte da nação, pois a outra parte está sob o controle de facções criminosas, grupos econômicos, sem esquecer a grande quantidade de áreas territoriais estratégicas que há muito tempo foram vendidas a grupos estrangeiros.

JOSE STENIO NEVES GAMELEIRA
Educador