Viagens 4 - Serviço não incluso
Publicado em 08 de setembro de 2009 por Romano Dazzi
Viagens – 4 - SERVIÇO NÃO INCLUSO
Na Suíça sempre foi de praxe deixar uma boa gorjeta ao pessoal de serviço.
Não havia – e creio, conhecendo os suíços, que não deva haver até hoje uma norma escrita a respeito.
Ao entregar o pedido, sutilmente o garçom deixa sob o copo um papelzinho bem pequeno, só com o valor da despesa.
A gorjeta – que chamam de “service” - não está incluída no valor.
Deve ser acrescentada, a discrição do cliente, dependendo do seu grau de satisfação. E quanto é? Dez, quinze, até vinte por cento da conta
Mas não está escrito em parte alguma.
Não sei se é por modéstia, respeito ou humildade ou apenas um costume, sem outras implicações...
O hábito torna o homem mal educado; foi fácil, assim, passar da contribuição voluntária para a cobrança compulsória.
Com inflexões mais ou menos fortes.
Os turistas na maioria ignoram este simpático costume; alguns até fingem que o ignoram; e ao saber dele, em geral não se negam a respeitá-lo.
Mas não é raro um garçom – ou mais frequentemente uma garçonete – correr atrás do cliente pela rua, gritando :
- Monsieur, monsieur! Le service n’ est pas compris!
(Serviço não incluso! – subentendendo: você não deixou a gorjeta; está me roubando a minha parte!)
Estávamos numa dessas lanchonetes, delícia dos turistas, que podem assim tirar os sapatos e descansar os pés e as costas por quinze minutos.
Uma senhora distinta, de bolsa e chapeuzinho, que estava sentada próxima da nossa mesa, verificou o papelzinho da conta, fez rapidamente um cálculo mental, levantou, deixando na mesa apenas uns trocadinhos e se mandou rápido, não sem antes fazer-nos um ligeiro, educadíssimo cumprimento.
Mas a garçonete estava alerta e saiu atrás dela, com os pratinhos usados na mão, e lançando aquele costumeiro grito de guerra:
- Madame, madame! Le service n’ est pas compris!
Chegou perto e aí percebeu que a mulher só havia deixado o “service”.
- Oh, merde! – falou aborrecida.
Não perdeu um minuto.
Diante dos nossos olhos incrédulos , abriu a grande bolsa da cliente e jogou dentro o conteúdo dos pratinhos – ossinhos, molho, guardanapo e um copinho plástico com algum resto de refrigerante.
E com um sorriso triunfante, completou:
- “A senhora esqueceu de pegar o troco! Obrigada, volte sempre!”
A assistência aplaudiu, mas ela não deu bola.
Voltou a fazer o seu serviço, sem uma única palavra.
A vingança vem a cavalo – e às vezes, a garçonete.