VIAGENS   2 - QUARTO DIFÍCIL

 

Paramos em Tasche, uma cidadezinha antes de Zermatt, na base do imponente Matterhorn.

Em Zermatt é proibido usar carro, moto, tudo que polui.

Todos os carros são elétricos – e é assim há vinte e cinco anos, sem exceções!

Imaginou se fosse aqui? Circulação livre para carros a gasolina de deputados,  médicos, bombeiros, ambulâncias, sindicatos e produtos perecíveis...

Larga-se então o carro, e toma-se o trenzinho – elétrico, naturalmente, para chegar a Zermatt.

Claro que foi uma bela jogada dos habitantes de Tasche, que viraram todos hoteleiros.

Ninguém quer ficar sem o carro, que, em se tratando de turistas, está sempre cheio de tralhas, agasalhos, lembranças e bibelôs.

Bem. Entramos num pequeno hotel (os grandes são tão caros que não dá para brasileiro se arriscar) e fomos nos registrar: minha mulher e eu.

Enquanto preenchíamos a papelada, vimos um grupo de brasileiros (tinham bandeirinhas) que pareciam perdidos. Pátria é pátria, Brasil é Brasl, em qualquer parte do mundo.  Mostrei à minha esposa o grupo, que estava do outro lado da praça e falei: Vai ver se eles precisam de alguma coisa!

Enquanto isso, eu acabo a papelada.

Ela foi. Eu recebi a chave do quarto, peguei as malas e subi. Terceiro andar. Sem elevador. Cheguei bufando. Atirei-me na cama e adormeci.

Enquanto isso, minha esposa ajudava os brasileiros, que ficaram mais que satisfeitos.

Ela voltou ao hotel. E agora? Eu não estava e a senhora da recepção, com cara de brava, perguntou, em alemão, o que ela queria. Nem alemão era. Um dialeto que só eles entendem.

Minha esposa tentou se fazer entender; o numero do quarto – zimmer. 

Logo a mulher se interessou: - Vollen sie Ein zimmer?

Nein, frau – eu não quero um zimmer; já tenho um zimmer;  quero o numero do meu zimmer. Meu marido já subiu. Só não sei o número. 

Se minha mulher  falasse algum obscuro dialeto marciano, a mulher teria entendido, juro. Mas fez cara de boba.

Minha mulher não desistiu:

- Do you speak english?

- Nein

- Parlez vous français?

- Nein

- Parla italiano?

- Nein

- Habla español?

- Nein

- Fala português?

- Nein.

Antes de jogar a toalha, minha esposa arriscou um:

- Sprechen sie Deutsch?

  A mulher abriu um largo sorriso, como a dizer: Agora sim, você entendeu: ou fala o que eu quero, ou fica aí esperando a primavera!!

_ Já, jawohl ! Falou toda animada

E minha mulher, de volta:

- Mas eu, NEIN!

Estava salva a nossa honra.

No fim, a mulher acabou reencontrando a fala, ou, pelo menos o numero da zimmer. E tudo ficou em paz.