Essa pergunta soa até esquisita numa sociedade juvenil que cultiva bastante temor a tal prova e pensa supremamente em se livrar tão logo dessa provação tão desafiante. Afinal, quem vai pensar em ser conscientizado por algo tão amedrontador e rápido e que tantos rezam para "sair vivos"? Minha idéia é que o tal, aos olhares mais atentos, pode sim prover uma abertura de olhos sobre determinados assuntos para quem está o desbravando, dependendo do estado de tranqüilidade ou nervosismo da pessoa.

Aliás, já serve sim em alguns casos, embora eu creia que pode melhorar nessa função. Tomo por base os vestibulares da Covest (UFPE/UFRPE/Univasf). Ao longo de vários anos de experiência de vestibular, exitosos ou não, notei uma tendência da prova em fazer apologia a temas importantes. Nas provas de Português da primeira fase e de Português 2 na segunda, é evidente a intenção da banca organizadora dos quesitos em relevar dois assuntos: a importância social e cidadã da lingüística, como o idioma português pode ser um determinante imprescindível na organização da sociedade, e o incentivo ao gosto pela leitura. Tal abordagem é feita através dos textos numerados (Texto 1, Texto 2...) baseados nos quais alguns quesitos são expostos ao fera. Se este está equilibrado na encaração de cada questão, poderá tirar um aprendizado de como a língua e a leitura importam para a edificação de um povo. E é esse ponto que gostamos mais.

Melhor ainda, trago um testemunho de como um exame vestibular pode ajudar. Em meus planos de escrever um livro, o qual está em andamento, eu me pegava esquecendo alguns detalhes relevantes que deveriam ser postos em um planejamento. Um texto de Rachel de Queiroz, disponível na prova de Português 2 no ano passado e resolvido por mim poucos dias antes da batalha do último 23 de novembro, me deu dicas valiosas de como gerenciar as idéias que aparecem na cabeça e não deixar que se percam da memória. A receita segundo ela é anotar cada peça que aflora na mente e contribui para um melhor livro possível. Além de nos aconselhar a ler e valorizar a lingüística, a Covest, através daqueles papéis grampeados tão temidos, nos ensina também a ser bons escritores!

Outra parte decisiva na conscientização através desse veículo tão heterodoxo é a redação. Os temas requerem ao estudante que processe e organize sua idéia acerca de algo socialmente importante. Por exemplo, o assunto da importância positiva ou negativa das leis para o homem, trabalhado em 2006, requer que ele analise e seja crítico quanto às normas que são sancionadas para nós. Será que certo código está preservando nossa liberdade e dignidade e garantindo a proteção de determinado direito nosso? Quão nociva está sendo aquela outra lei para nossa integridade sócio-econômica? Tal forma de legislar é uma boa ajuda jurídica para nosso bem-estar ou está mais para ameaçar suprimir um pedaço de nossa liberdade? Muitas perguntas como essas podem aparecer na mente do vestibulando equilibrado. É um pedaço da realidade que não quer mais calar em nossa consciência, nos afastando da alienação.

Nas partes intituladas de Português e em outras disciplinas – relevando-se também os quesitos ambientais de Biologia –, o vestibular pode sim nos dar um empurrãozinho consciente. Pelo menos a Covest pernambucana está no caminho certo, só precisando relevar ainda mais essa função nos próximos vestibulares e torná-la mais evidente, em vez de pouco perceptível, aos olhos dos feras. Cada momento de nossa vida nos traz um aprendizado tal, e com o vestibular não é diferente. Aos vestibulandos que enfrentarão a segunda fase das provas que poderão decretar sua entrada nas universidades federais de Pernambuco, fica o conselho de que se atentemque uma prova dessa pode dar algumas dicas bem notáveis para suas vidas e sua participação na montagem dos tijolos de uma sociedade justa.