Estou a me tornar a própria insensatez. Me sinto apto para todos os estados alterados. Meus pensamentos assíduos fazem o meu cérebro chorar e sangrar. Lembrando onde estou esqueço que não estou sozinho. Não consigo parar de ler. Não consigo parar de escrever. Meus olhos já sentem os efeitos do excesso. Recebo convites da minha imaginação. Como um espectador, contemplo a ruína da nossa atual sobrevivência. Não serei mais uma vítima do Vitimário. Escapemos pelas frestas da ignorância! Sou entre todos o mais rico. Faço da pobreza a minha riqueza. Alimento a minha alma e a minha alma alimenta o meu corpo. Não quero mais falar. Sou um estranho em qualquer lugar. Nas vozes a arrogância de quem quer me (de)testar. Cego talvez fosse menos desventurado. Não precisaria ver os rostos sem vida que passam por mim. Rostos sem expressão. Rostos reféns da inveja. Sei que o céu divide o seu espaço com a lua, o sol, estrelas e nuvens. Enquanto isso dividimos mentiras e multiplicamos falsos desejos. É possível percorrer os arredores do pensamento em repouso. O que falta para o espírito tornar o feto furioso? Decorei todas as angústias. Me deparei diante de incontáveis possibilidades com o mínimo de coragem. Aqui multidões são programadas restritamente para cumprirem ordens execráveis. Sujeitos nascidos e moldados para darem estabilidade a padrões estacionários. A chuva contribui para aumentar o tédio que renova as suas forças o tempo inteiro. Penso no último andar do prédio mais alto. Penso em todos os tipos de sangue colorindo o asfalto. O solitário é mestre em recriar lembranças. A burguesia floresce pela avareza. Na calçada da vida o burguês não deixa pegadas. De um lado a plebe, de outro a nobreza. O desprezo aqui é recíproco. Enquanto o céu tiver a mesma cor e o mel o mesmo sabor, seremos impedidos de atingir a parte brutal da nossa existência. Me transformo assim em um corpo invisível mas com a alma arrebatada a jorrar lava na cara do mundo. A franqueza dos meus sentimentos produz todo o meu ódio.