As verdes folhas balançavam desordenadamente, como quem não tem orientação nenhuma sobre o que fazer, que atitude tomar ou até mesmo em que direção seguir.  Seguiam como que empurradas por uma força superior que lhes ordenava simplesmente, como a ordem de um general ao seu pelotão, de um superior aos seus subordinados ou de um pastor ao seu rebanho.

 Aparentavam não pensar, não resistir, não confabular, não retrucar e, simplesmente não contestar a direção a ser tomada, nem sequer se preocupando com a simples dúvida ou um simples questionamento.

            De uma hora para outra, todas ao mesmo tempo, mudavam repentinamente de direção e singelamente dançavam o mesmo ritual realizando os mesmos atos anteriores.

Estavam vivas... Somente vivas...

            Vez por outra, paravam e permaneciam assim paralisadas, mas não infelizmente por suas próprias vontades, mas sim porque o vento que as direcionava, que lhes comandava, que lhes dirigia, cessava por alguns instantes, talvez cansado do ritual metódico que fazia sem ao menos ser questionado ou contrariado.

            E assim permaneciam estáticas, sem direção, sem rumo, sem desejo próprio e vontade própria.

Estavam mortas... Aparentemente vivas...

E de novo, como que representando uma única peça, de um único ato que haviam aprendido, voltam a realizar o mesmo ritual. Seguiam na direção que o vento lhes ordenava. Balançavam, dançavam, desciam, subiam, ora para a direita, ora para a esquerda e ecoavam uma única música, emanada pelo contato do sopro do vento. Um canto suave, simples, único, repetido, vazio e imensamente triste.

Mas de repente, com o retorno da brisa, uma das folhas, como que se revoltando da mesmice de sua vida, em um ato pensado e repensado, se retorce e aproveitando o impulso do vento que sempre a empurrou para as direções que ele desejava, desprende-se e cai. 

De início vagarosamente, mas aos poucos com uma velocidade que ela mesma jamais imaginou que poderia atingir.

Sentiu-se forte, vibrante, solta, leve, única e irresistivelmente livre.

Havia decidido tomar um novo rumo, ter uma nova vida, um novo destino, uma nova chance, uma nova oportunidade, desconhecido até aquele momento, mas literalmente mágico após o início de sua decisão.

Não tinha como voltar atrás e não queria mais voltar atrás.

Durante todo o tempo em que repetidamente voava de um lado para o outro, empurrada pelo sabor do vento, teve tempo de pensar. Sabia que sua nova vida duraria muito pouco tempo, mas tinha a certeza de que valeria a pena, pois estava cansada de ser comandada e dirigida. Sabia que queria e que podia mudar o seu destino. Mesmo que esta nova etapa de sua vida fosse pouca, pequena. Valeria a pena só o fato de tê-la.

Estava viva... Mesmo sabendo que morreria...

E ao sabor do vento voa em direção ao desconhecido, caindo vagarosamente ao chão. Em pouco tempo começa a morrer, mas descobre que por milagre sua vida não havia sido em vão, pois agora seca, mas em terreno úmido seguira o destino de virar adubo, descobrindo que havia protegido uma semente e que havia ajudado de sua maneira o nascimento de uma nova vida.

Morria... Mas sabia que estaria sempre viva...

Levanto-me apressadamente aproveitando a mensagem que havia recebido. Teria que tomar uma decisão e mudar o meu destino. Também estava cansado da mesmice de minha vida, andando de um lado para o outro sem direção e sem destino, comandado por outros. Chorava e sorria ao mesmo tempo, num ato de agradecimento e de culpa, percebendo que infelizmente poucos entendem os ensinamentos deixados em pequenos fatos, aos quais não damos nenhuma importância.

Vidas verdes, sem rumo, sem direção, sem destino, sem amor, sem sentido, assim, igual, idêntica a de muitos, idêntica a minha.