VELOCIDADE

     Palmiro era o homem mais atarefado do mundo. Jamais tinha tempo de sobra. Morava afastado do centro da cidade, mas o carro estava ali mesmo para qualquer eventualidade.
     Certa vez recebeu um chamado telefônico dizendo que ele teria que ir ao banco com uma certa urgência.
    Rapidamente ele pegou o carro e logo estava em alta velocidade no amplo asfalto. Passou pelo guarda, foi multado, que importava? O carro pertencia à firma, fez uma curva em duas rodas. Ele corria, corria e a distância ia sendo vencida.
     Ao virar outra curva, já na cidade, chocou-se horrivelmente com um outro carro e ali tudo se apagou para Palmiro.
     Para ele não foi nada. Continuou correndo desesperadamente e por uma estrada larga e bonita. Interessante, ele já tinha passado pela cidade e agora aquela estrada...Viu ao longe um portão e ao lado deste um guarda de barbas compridas. Ele deu sinal para que o guarda abrisse o portão, mas o guarda não se mexeu. Ele parou o carro e foi abrir o portão quando o senhor exclamou:
     - Onde pensa que vai?
     - Abrir o portão.
     - Não é preciso.
     - Mas eu tenho que tratar de um negócio urgentemente.
     - Tinha moço. Agora você precisa tratar de outro negócio. Este é o portão que dá entrada ao outro mundo. Você é um espírito e seu corpo está na terra.
     Só então o homem percebeu que seu corpo não tinha mais vida e permanecia entre os destroços do carro.
     Palmiro voltou, entrou e sentou em seu carro. Como ocorrera aquela mudança e nem percebeu? Fez mentalmente muitas perguntas e foi esmorecendo todo o corpo. Acabou perdendo o sentido e dormiu profundamente. Era o sono final da vida material.