A madrugada chega, com ela o silêncio e a solidão. Quando isso acontece é maneiro, posso garantir. Deixo as luzes apagadas, não todas. Sinto a casa num clima bom, diferente. Coloco um Jazz, pode ser Coll Jazz, melhor ainda se forMiles Davis se gastando no sax. Isso é demais, isso me atrai. Isso te atrai?

Abro um vinho. Sento na frente do notebook e deixo a minha imaginação viajar, é ótimo. Nos dias de chuva, dias cinzentos é eletrizante. A noite flui, o tempo passa. Ele sempre passa, de qualquer maneira e na mesma velocidade. Mas assim ele passa e me faz sentir que a vida é boa. Wood sempre soube o bom da vida, o Jazz, a lúcida embriaguez, as mulheres, a compreensão aos seus textos. O mesmo sentimento que tenho em saber que um leitor achou do caramba os meus. Mulheres e Jazz, sempre presentes. A primeira eu observo silenciosamente sob uma luz divina, que encanta os céus está noite, e o Jazz chora silenciosamente no pé do ouvido. Abro mais uma garrafa de vinho. Meu amor dorme. Posso sentir seu cheiro, ver sua sombra na parede do quarto. Isso é bom. Posso sentir o cheiro do vinho, tão bom quanto. Posso sentir o cheiro da vida, é fascinante.

O que admiro nas mulheres, o silêncio. Eu gosto disso nelas, geralmente uma qualidade mal compreendida. As pessoas equivocadamente acham que as mulheres quietas são tímidas, inseguras, creio que seja mentira. Vejo o charme, a elegância e mistério. Gostaria que todas fossem assim. O desconhecido assusta, o misterioso excita. Fico pensando em caras como iguais a mim que sempre esperam algo da vida. Por mais raras que sejam as coisas interessantes, sempre esperamos dobrar uma esquina e o destino mudar, fantasiamos histórias dignas de serem contadas quando a melhor delas pode estar na simplicidade e olhar discreto de uma mulher como a que vejo agora deitada em nossa cama. Mulheres silenciosas possuem olhares de segundas intenções, nos dizem na sua expressão o que é preciso conquistar. Usam o tato, exploram todos seus sentidos. Que não existe nada que não possa melhorar. A noite flui. O tempo, assim como antes, continua em sua direção como um passageiro astuto e sem bloqueios no caminho.

Às quatro da manhã chegaram. É difícil permanecer escrevendo. A mente cansa, não produz. Meus seus dedos seguem pilhados, parecem máquinas, parecem não ter emoções, não ter crítica ao que escrevem. Abandono. Vou ao pátio, olho novamente a Lua se despedindo. Tudo estava perfeito. Ainda consigo escutar a música que vem do quarto, é Motor Minder de Julian Lage. Ouço suas batidas como se fosse os chamamés, um arranjo de música folclórica espanhola, porém ressoando firme e convicto um dueto entre um trompete num ritmo atraente e uma guitarra que sola livre me fazem crer que a melhor atitude a ser tomada agora e cair nos braços da minha mulher.