Tempos atribulados, pesados, mesmo amargos temos vivido ultimamente. Pelo menos é esta a impressão que a maioria de nós têm ao ver, ouvir, cheirar e degustar o mundo hodierno. Parece que o céu está caindo... Ou o inferno subindo.
     Há poucas horas, entretanto, surgiu um bom sinal, quiçá um presságio de dias melhores, pelo menos para mim. Nesta madrugada, envolto em minhas lamúrias e dúvidas, cada vez mais numerosas, ouvi um pássaro cantar, muito próximo da minha cama. De início me incomodei, associando a presença da ave a "mais um problema" a resolver. Levantei, tentando identificar a origem da cantoria. Percebi que vinha da caixa do condicionador de ar, logo acima da cabeceira do leito. Também notei que não se tratava apenas de uma, mas de várias pequenas aves, provavelmente famintas e no aguardo da "mamãe". Vi aquilo e, enternecido, pensei: como somos tolos, nós humanos! Subitamente, lembrei de uma passagem bíblica: "Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste os alimenta." E a luz: nos tornamos escravos de nossas invenções, enquanto a "natureza" segue fornecendo o que realmente precisamos para viver...
     Ouvi, então, um bater de asas mais forte. Era a "mamãe" trazendo alimento para suas crias. Após o banquete, adormecemos, todos. E o sol brilhou mais, o amanhecer foi mais intenso.
     Ver, ouvir, cheirar e degustar o que esta existência tem de bom, o essencial. Desapego material, sem ser obviamente tolo. Eis meu novo (velho) caminho...

Francismar Prestes Leal.