VANUSA E ABEL, O BRASIL COMO ELE É.

 

Um espetáculo a altura, assim pode ser definida a torpe apresentação da cantora Vanusa, no Encontro Estadual de Agentes Públicos, realizado na Assembléia Legislativa de São Paulo. Não entendi o porquê de muitas pessoas se horrorizarem com os erros cometidos pela interprete, ela foi apenas parte integrante do espetáculo que se tornaram a maioria das câmaras do país inteiro. Notem bem que a mesma é ovacionada pelos espectadores, ou seja, nos circos da vida o que realmente conta é quem melhor faz suas palhaçadas. Então Vanusa, você errou no local certo, pois os tais agentes públicos, em sua grande maioria são os que mais debocham da pátria, são os que mais desmoralizam o povo. Mas, o povo gosta mesmo é do grande espetáculo armado, da novela mexicana patrocinada com o dinheiro público, gosta de sofrer na vã esperança de que vencerão no último capítulo e viverão felizes para sempre.

Temos um ex-presidente, leia-se Fernando Collor de Melo que hoje está novamente atuando na política, falando em alto e bom tom sobre o que é certo e errado. Temos deputados que atropelam jovens e depois voltam à cena pública arrependidos pedindo perdão, temos presidente do Senado que mesmo após ser descoberto em atos nem tão secretos assim, teima em não deixar o cargo. Temos governador que após fraudar o processo eleitoral e se utilizar de programas politiqueiros e mesmo após ser caçado, como presa no meio da selva, volta à cena e se diz vítima, talvez possamos chamá-lo de “A vítima dos óculos de ouro”. Diz a lenda urbana que existe até ex-prefeito querendo cortar faixa de inauguração de obras. Então, diante dessa realidade a apresentação de Vanusa se torna algo insignificante, afinal, ela errou a letra do símbolo maior do civismo nacional, mas, não tem contra si centenas de processos, não provou por unanimidade de 7 X 0 na instancia maior do Judiciário Nacional que fraudou um processo que ao menos em tese era para ser democrático, não atrasou salários, então a você Vanusa um pouco mais de ensaio, aos demais, caráter...

Cada vez mais o que se passa nas telas se assemelha a vida real. Em um país com uma educação semelhante à de Serra Leoa, Vanusa foi à constatação de que nem mesmo nas boas escolas tem sido ensinadas lições de civismo. Mas, para que civismo? Para que patriotismo? Vivemos a síndrome de Abel, cansamos de nos indignar, agora preferimos a comodidade de nada fazer. Fraudes, festa na administração pública, atos secretos, contravenções no processo eleitoral, mensalões, prefeituras com estruturas faraônicas, mas que nem os vidros das janelas foram pagos, e mesmo diante de realidades tão cruas as pessoas perderam a capacidade de se indignar, cada vez mais o ser humano se identifica com a corrupção, com políticos desonestos, enfim somos a reprodução de Abel, afinal em relação aos agentes públicos grande parte de nós poderíamos cantar “você não vale nada, mas, eu gosto de você ...”

 

 

Marcos André Silva Oliveira

Diretor Acadêmico da Faculdade Rio Sono – RISO

Formado em Letras, com especialização em Literaturas: Portuguesa, Brasileira e Africana.

Pedro Afonso – Tocantins.