Valores estéticos do homem

O homem se orienta e se posiciona no mundo a partir de valores e concepções que são forjadas ao longo do tempo. Para muitos é mau, por exemplo, furtar. É bom tratar bem os mais velhos. Daí por diante uma série de valores duais, ou seja, que se contrapõem começam a fazer parte da realidade existencial de muitos. O belo e o feio, o normal e o anormal, ou adequado e o inadequado nortearão a conduta de muitos em suas avaliações estéticas no cotidiano.

A questão do belo é algo que vem sendo debatido ao longo dos séculos desde os filósofos gregos. Nos dias de hoje na grande maioria das vezes atribui-se adjetivo como belo ou feio sem sequer refletir sobre o real significado desses termos. Classificar como bonito ou não, formoso ou não passa por parâmetros e modelos que o homem constrói para si. O interessante então é pensar: Quais são os critérios para os estabelecimentos desses modelos? Quais são as influências junto ao homem para a constituição desses paradigmas?

Nietzsche em boa parte de suas obras dizia que os valores não existem desde sempre, são construídos e consolidados tendo a vontade de potência como o maior agente motivador. Entender as causas pelas quais se atribui à Gisele Bündchen a referência de beleza no mundo é “escavar” o passado e inventariar quando, como e quem propôs esse modelo ideal.

Percebo o perigo de valores estéticos ideais na medida em que este pode influenciar a demarcação de posições. Seja no campo da beleza, da moral, das deficiências, os valores estéticos do homem estabelecidos ao longo da história devem estar flexíveis para contemplar a possibilidade da existência de outros padrões que não os deles. Exaltar as próprias convicções como forma ideal e negar as outras se configura para mim como atitude de exclusão dos outros.

Tivemos na história da humanidade com o Nazismo na segunda grande guerra mundial um exemplo clássico da não aceitação do outro, do diferente. Judeus, idosos, deficientes e crianças foram os grandes alvos da ira nazista, que percebiam neles o grande empecilho para a efetivação de um Estado Nacional ancorado numa raça ariana, superior. Assassinatos e incinerações se tornaram as medidas mais práticas que esse sistema adotou para excluir os diferentes que obstruiriam o “desenvolvimento” da Alemanha.

Mais de sessenta anos se passaram desde essas práticas e ainda de maneira mais sutil julgamentos em relação a padrões e formas ainda se fazem presentes no cotidiano. Uma vez mais percebo a educação escolar como de certa forma responsável por contribuir para a consolidação de níveis de consciências que contemple as diferenças sejam de etnia, cor, deficiência, classe social dentre outras. As experiências propostas pelos professores devem buscar estimular a interação entre as diferenças – e não entre os diferentes.

Demarcar posições por motivos estéticos para mim apresenta-se como uma barbárie semelhante ao Nazismo. Negar a possibilidade de ascensão social por causa da cor, ou de acesso a escola em virtude de deficiências, por exemplo, é segregar. Portanto, temos que buscar construir e reconstruir reflexivamente nossos valores para que não caíamos em equívocos de promoção da exclusão. Assim, vamos reconstruir?