Introdução

O serviço de atendimento de urgência e emergência é realizado predominantemente, nos serviços hospitalares e em unidades de pronto atendimento abertos 24 horas, para atendimentos de agravos agudos que ofereçam risco de vida. No entanto vemos que ocorre uma grande demanda de ocorrências não urgentes que poderiam ser atendidos no sistema ambulatorial. E essa demanda de usuários no serviço de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS) e sua procura por repetidas vezes, acarretam em uma sobrecarga na qualidade do atendimento no sistema de saúde(1).

Apesar de a saúde no Brasil ter sofrido grandes avanços tecnológicos e um aperfeiçoamento dos profissionais da área, vemos que são necessárias ainda algumas mudanças para que o SUS venha funcionar de forma efetiva e que ocorra um serviço de qualidade no atendimento aos pacientes, sendo bastante resolutivo fazendo com que reduza essa demanda de usuários no serviço de urgência/emergência. Pois se estes fossem atendidos em suas necessidades, e tivesse um acompanhamento ambulatorial, acesso fácil a exames médicos teriam um resultado mais positivo na cura do problema de saúde apresentado, já que o atendimento de urgência/emergência só irá amenizar o sofrimento apresentado naquele momento(2).

É necessário que a população seja orientada em relação à atenção básica como porta de entrada para atender as suas necessidades de saúde, uma vez que se verifica uma tendência relatada por muitos gestores de que a população utiliza os pronto-socorros como porta de entrada preferencial(3).

A grande demanda de usuários no serviço de urgência e emergência das unidades do SUS é evidenciada pela busca do usuário na resolução de problemas que poderiam ser resolvidos nos serviços de atenção básica e esse perfil configura uma das principais portas de entrada do sistema de saúde e está relacionada à dificuldade de acesso a atenção básica de saúde(4).

Observam-se, mundialmente, prontos-socorros lotados devido à população procurar estes locais como porta de entrada para a atenção primaria, desvinculando do objetivo do qual este se propõem que é o atendimento de fatos emergenciais(5).

A política pública do Sistema Único de Saúde tem grande representatividade na assistência á saúde do povo brasileiro, comparando a assistência atual com décadas anteriores, percebe-se que o sistema precisa resolver problemas relacionados ao seu processo de trabalho e aos profissionais, na rede de atenção, na burocratização e verticalização dos serviços(6).

Determinar o perfil dos casos atendidos ajuda o enfermeiro a conhecer o usuário do sistema público de saúde e sua unidade, colaborando para este elaborar rotinas e estratégias para uma melhor qualidade do atendimento, e a sua atuação requer articulações que são indispensáveis á gerência do cuidado a pacientes, necessitando de conhecimento científico, tecnológico e de uma assistência humanizada que deve ser estendida aos familiares, assumindo importância não só á particularidades no cuidar, mas, também, pelos recursos materiais e humanos mobilizados, além da necessidade de interface com outros setores do sistema local de saúde(7).

Está pesquisa teve por objetivo descrever o perfil dos usuários e discutir as causas que levam a busca pelo serviço de urgências e emergências e as conseqüências que essa grande demanda acarreta no atendimento e no sistema de saúde refletindo a postura e atuação do enfermeiro frente às situações conflituosas evidenciadas na busca ao serviço de urgência e emergência.

Revisão da Literatura

Trata-se de um estudo de revisão narrativa de literatura. A busca bibliográfica foi desenvolvida nas bases de dados da biblioteca virtual de Saúde (BVS-BIREME) e da Revista Eletrônica de Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). A delimitação temporal foi de 2004 a 2014. A partir da leitura prévia de 50 artigos foram selecionados 30 artigos lidos na íntegra relacionados à área da saúde emergindo (três) categorias: demanda de usuários na procura de atendimento de urgência e emergência; perfil e motivos de busca por atendimentos emergenciais e a atuação da enfermagem frente aos serviços de urgência e emergência.

A demanda de usuários na procura de atendimento de urgência e emergência

A demanda por serviços de urgência e emergência tem aumentado e dificultado a organização do trabalho, e o atendimento às urgências e emergências, devem ser planejado, programado e operacionalizado para atender os princípios do SUS(7).

A população ao fazer o uso errado do sistema de saúde, utiliza o pronto-socorro como porta de entrada preferencial, obtém assim um atendimento restrito a sua queixa, sem um enfoque integral em sua assistência, o que acarreta uma assistência não efetiva e sobrecarrega o profissional gerando um aumento dos gastos hospitalares(8).

O perfil e motivos de busca por atendimentos emergenciais

O maior uso do serviço de atendimento em urgência e emergência está vinculado a vários fatores, sendo estes; a distância da moradia ao serviço de atendimento em saúde, a cultura imediatista dos usuários que esperam acesso e tratamento fáceis e rápidos(9).

A situação se agrava mais devido às alterações demográficas, ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis, aumento da criminalidade, a corrupção e mau emprego do dinheiro público, esses problemas socioeconômicos determina uma crescente insatisfação dos usuários e dos trabalhadores de serviços de saúde(10).

O perfil dos atendimentos são na maioria, composta por adulto jovem, idade produtiva, sexo feminino, demanda espontânea e no período diurno em dias úteis. Os atendimentos apontam para queixas de baixa complexidade(8).

A atuação do enfermeiro frente às situações conflituosas evidenciadas na busca ao serviço de urgência e emergência

Faz-se necessário que o profissional enfermeiro esteja buscando instrumentos que sirvam para a organização do trabalho e promovam uma melhoria da assistência de enfermagem, favorecendo a utilização correta dos recursos humanos e materiais atendendo as necessidades dos usuários, conhecendo assim o perfil não só do usuário, mas demográfico, social e epidemiológico da área de abrangência na qual o serviço de saúde está inserido, e como esse se articula com as demais instâncias de atenção à saúde, dentro do SUS, no município(7).

Conhecer a origem dos pacientes atendidos e o seu município de procedência contribui para caracterizar o fluxo desse usuário, permitindo a avaliação de diagnósticos distorcidos bem como a pertinência dos encaminhamentos para um serviço de alta complexidade(7).

Discussão

Em virtude de falhas no sistema de saúde, verificamos que esses serviços acabam constituindo ao usuário a possibilidade de um atendimento de alta complexidade e resolubilidade para uma utilização adequada dos diferentes níveis adiciona Chaves(7). A sobrecarga de demanda nos serviços de urgência e emergência está relacionada a diversos fatores, sendo estes; questões sociais, epidemiológicas, culturais e a organização do sistema de saúde, complementam Coelho(7).

De acordo com Chaves(7) os princípios organizacionais do SUS, a hierarquização e a regionalização, visam à reorganização dessa assistência atendendo as necessidades de forma integral determinando os recursos necessários para determinada área de abrangência favorecendo o acesso. Mas pra isso é evidente que o usuário mude a sua cultura imediatista procurando atendimento na unidade de saúde que é referência em sua área próxima ao local onde reside favorecendo a organização do serviço e melhorando a qualidade do atendimento prestado.

Observa-se que a maioria dos atendimentos realizados é por queixas de baixa complexidade que poderiam ser resolvidas em uma consulta ambulatorial não se caracterizando como urgência e emergência, acarretando um aumento da demanda, um aumento de custos e somado a isso uma sobrecarga dos profissionais o que leva a uma queda na qualidade de assistência prestada, na resolubilidade dos serviços e têm dificuldades para referenciar os pacientes para outros hospitais segundo Deslandes(9).

O enfermeiro, além da função de cuidar e prestar assistência ao paciente deve organizar e administrar adequadamente o espaço em que trabalha provendo a sua unidade, disponibilizando recursos materiais e humanos, organizando o serviço para que equilibre a demanda e recursos necessários como destaca Coelho(7). O mesmo afirma que desse modo, o sistema terá uma organização e resolubilidade melhor dentro do próprio sistema de saúde.

Conclusão

O Sistema Único de Saúde ainda está em evolução desse processo, e essa mudança apenas acontecerá se houver uma transformação da postura de toda conjuntura: dos profissionais, dos serviços e da população(11).

Com este levantamento de dados espera se que os funcionários da rede de atenção primária saibam criar vínculos com os usuários do sistema, para que estes possam sentir-se acolhidos e procurem com maior freqüência as UBS como porta de entrada garantindo uma resolubilidade melhor e uma assistência mais adequada no sistema de saúde respeitando a hierarquização e complexidade dos diferentes serviços(11).

A oferta adequada de atenção primária à saúde é fator relevante para evitar atendimento hospitalar por condições sensíveis à atenção ambulatorial. Havendo a necessidade de uma interação melhor entre as diferentes esferas da saúde promovendo uma qualidade da rede de atenção de cuidados(7).

O acolhimento realizado pelo profissional de enfermagem tem a finalidade de organizar o atendimento de forma a agilizar o mesmo conforme o protocolo estabelecido para propiciar a assistência de acordo com a necessidade do usuário promovendo o principio da equidade que deve como objetivo final do trabalho em saúde, resolver efetivamente o problema do usuário. A responsabilização para com o problema de saúde vai além do atendimento propriamente dito, relaciona se também com o vinculo criado entre o serviço prestado e a população(5).

Diante dos resultados deste trabalho, observou se que, independentemente da queixa do paciente, este foi acolhido no pronto-socorro, sendo-lhe garantido o acesso e tratamento para o que o afligia e, independentemente da gravidade, a porta de entrada para o sistema foi obtida, apesar de muitos casos poderem ser resolvidos na Unidade Básica de Saúde. Entretanto, a garantia de encaminhamento nos casos graves, como internação e referência, deve ser prioridade para a consolidação das diretrizes do SUS(12).

Referências

1.        Goldim J. Introdução a bioética. Rio Gd do Sul. 2009;

2.        O’dwyer G, Oliveira S, Seta M. Avaliação dos serviços hospitalares de emergência do programa quali sus. Ciências & Saúde Coletiva. 2009;14(5):1881–90.

3.        SESSP S de estado da saúde de SP. Agendo do gestor municipal de saúde: organizador o sistema a partir da atenção básica. São Paulo. 2009.

4.        Lacalle E, Rabin E. Frequent users of emergency departaments: The myths, the date and the policy implications. Emergências Médicas. 2010;56(1):42–8.

5.        Barakat S. Caracterização da demanda do serviço de emergências clínicas de um hospital terciário do município de São Paulo. Fac Med Univ São Paulo SP. 2009;

6.        Marques G, Lima M. Demandas de usuários a um serviço de pronto atendimento a seu acolhimento ao sistema de saúde. Rev Lat Am Enferm. 2007;

7.        Coelho MF, Dias L, Chaves P. Artigo Original Análise dos aspectos organizacionais de um serviço de urgências clínicas : estudo em um hospital geral do município de Ribeirão Preto , SP , Brasil 1. 2010;18(4).

8.        Oliveira GN, Freitas M De, Silva N, Antonio M, Filho C. Perfil da população atendida em uma unidade de emergência referenciada. 2011;19(3).

9.        Deslandes S, Minayo M, Oliveira A. Análise da implementação do atendimento pré-hospitalar. Minayo MCS, Deslandes SF, organizadores Análise diagnóstica da política de saúde para redução de acidentes e violências Rio de Janeiro (RJ): Fiocruz. 2007. p. 139–57.

10.     Rocha JSY, Martinez EZ. Pr tendimento ou a tenção bási- atenção ca : escolhas dos pacientes no SUS. 2011;44(4).

11.     Batistela S, Rossetto EG. Os motivos de procura pelo Pronto Socorro Pediátrico de um Hospital Universitário referidos pelos pais ou responsáveis The reasons to look for a university hospital ’ s childish medical treatment which is requested by parents or somebody responsible for t. 2006;121–30.

12.     Olivati. No Title. RFO. 2010;v15(n3):p247–252.