Uso terapêutico da Ayahuasca

O objetivo desse artigo é apenas o de informar a sociedade em geral sobre a Ayahuasca, uma bebida que está sendo bastante difundida no Brasil atualmente.

Há muito que se falar sobre o assunto, tanto que não cabe a nós discutirmos amplamente sobre o tema nesse pequeno artigo.

A Ayahuasca, Vegetal, Chá, Hoasca, é o nome dado a uma mistura de duas plantas nativas da Amazônia, o cipó Mariri e a folha da Chacrona. O nome Ayahuasca ou "vinho das almas", em quéchua, vem da língua nativa dos índios peruanos). A nomenclatura do vegetal varia de acordo com a região, mas não remete a sua origem, apenas por questões tradicionais, usa-se normalmente o termo Ayahuasca.

Em seu preparo, é apenas utilizado o Mariri ou cipó jagube(Banisteriopsis caapi), a Chacrona(Psychotria viridis), água e muita fervura. Ritualisticamente, a maioria das religiões oasqueiras, prepara o vegetal em até três dias. Onde são minuciosamente colhidas as plantas em determinado período específico, esmagados os cipós e misturados em camadas de mariri e chacrona dentro de um grande recipiente ao fogo.

O CONAD (O Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas) liberou o uso do vegetal recentemente, apenas para fins religiosos. Pelas pesquisas feitas, nada foi constatado que pudesse causar mal a saúde das pessoas. Atualmente, já foi liberado também nos Estados Unidos o uso para fins religiosos. O que os pesquisadores Norte-americanos observaram bastante, foi o fato de que o comportamento das pessoas que faziam o uso do vegetal era completamente normal, e alguns até ocupavam cargos públicos ou de grande responsabilidade na sociedade, pessoas respeitadas, idôneas, e eram pessoas comuns que nada tinham de anormal ou marginal.

No Brasil, não é diferente. As pessoas ou grupo de pessoas, que fazem uso religioso do vegetal, são pessoas completamente normais, idôneas, responsáveis e com comprometimento familiar ainda maior.

Como foi dito no início, é um tema que demanda bastante discussão ainda. Seria muita pretensão de querer expor tudo que há sobre a Ayahuasca em pouquíssimas linhas.

Desde algum tempo, a comunidade científica vem pesquisando o uso de drogas no combate a outras drogas. Não cabe citar quais drogas foram criadas para combater outras, mas basta uma pequena pesquisa e você descobrirá facilmente.

Ao observar a quantidade de pessoas que eram usuários de drogas ou outras substâncias psicoativas, bebendo o vegetal e curando-se dos respectivos vícios, muitas pessoas passaram a estudar esse efeito. No Brasil, existe uma instituição no Acre que faz o uso terapêutico da Ayahuasca com dependentes químicos. O tratamento é similar ao da maioria das casas que cuidam dos dependentes químicos, com o diferencial da aplicação ritualística do chá hoasca. No Peru também existe outra instituição que faz o uso terapêutico da Ayahuasca. Por razões

De acordo com algumas pesquisas cerca de 65% dos viciados são completamente curados pelo uso da Ayahuasca e o acompanhamento terapêutico. O restante abandona o tratamento ou simplesmente volta ao vício. Isso soa para muitos como uma luz no fim do túnel, obviamente, mas requer muita cautela, pois na Ayahuasca, contém a DMT(Dimetiltriptamina) uma substância alucinógena. Os usuários do vegetal, afirmam que não é alucinógeno, mas sim, enteógena, ou seja, uma manifestação interior do divino.

Para as religiões oasqueiras, a cura independe do uso do vegetal, mas sim, da mudança de comportamento e atitudes da pessoa ao caminhar na disciplina religiosa, alterando completamente seu modo de agir, pensar e relacionar-se. Dentro da religiosidade, o uso do vegetal é controlado quantitativamente e as sessões também são acompanhadas por dirigentes responsáveis e experientes, que orientam os membros e dirigem as sessões de maneira serena e equilibrada.

De acordo com as religiões que fazem uso da Ayahuasca, as contra-indicações para o uso do vegetal são a sua mistura com substâncias como álcool, portadores de doenças mentais que impeçam socialização, ou qualquer outra restrição médica. Jovens, adultos, idosos e até mesmo crianças fazem uso do vegetal sem qualquer problema ou reação, durante os cultos religiosos das religiões oasqueiras.

No Brasil, existem a UDV(União do Vegetal), o Santo Daime e a Barquinha.

A União do Vegetal, criada na década de 60 por  José Gabriel da Costa, nascido no município de Coração de Maria, no estado da Bahia, no dia 10 de fevereiro de 1922. Ele, Ao comungar o Vegetal, como passou a chamar de maneira corrente o chá, reconhecendo a sua missão espiritual, deu início ele mesmo à distribuição da Hoasca, inicialmente de maneira informal, tendo, enfim, recriado a União do Vegetal no dia 22 de julho de 1961, data consagrada no seio desta sociedade religiosa como a de sua fundação.

O Santo Daime começou no interior da floresta amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu Serra. Foi ele que recebeu a revelação de uma doutrina de cunho cristão, a partir da bebida Ayahuasca (vinho das almas), por eles denominada Santo Daime. Segundo o próprio Mestre Irineu, ele recebeu essa Doutrina através de uma aparição de Nossa Senhora da Conceição, em uma das primeiras vezes que tomou a bebida, na região de Basiléia, Acre.

A Barquinha, fundada por Daniel Pereira de Mattos nasceu no Maranhão no dia 13 de julho de 1888, dois meses após a abolição da escravatura, na antiga Vila de São Sebastião de Vargem Grande, sendo conterrâneo de Raimundo Irineu Serra, fundador da doutrina do Santo Daime. Em 1936, sofreu uma enfermidade ocasionada pelo vício. Com graves problemas no fígado, recebeu uma visita que mudou para sempre sua vida. Um freguês da barbearia, amigo e conterrâneo, Raimundo Irineu Serra, convidou-o para fazer um tratamento espiritual através da bebida sagrada, o daime. Em certa ocasião, tomou daime e, sozinho, teve uma visão em que as portas do céu se abriam e dois anjos desciam com um livro azul nas mãos contendo sua missão espiritual, a de fundar uma doutrina cristã alicerçada na caridade. Com apoio do Mestre Irineu, que lhe ofereceu uma boa quantidade de daime, seguiu para um lugar da zona rural de Rio Branco dando início aos seus trabalhos, a sua missão.

Todas essas religiões, legitimamente brasileiras, estão contribuindo para a "urbanização" da Ayahuasca e também da aproximação das pessoas para o autoconhecimento através do uso do vegetal.

O que todos queremos é algo que possa contribuir para eliminar ou, pelo menos, ajudar diminuir um pouco esse grande mal da atualidade que o uso de drogas e uma sociedade melhor, mais fraterna, mais humana.

Atualmente, cientistas de vários países estão se reunindo, aos poucos, para pesquisas mais aprofundadas no assunto, a fim de buscarem embasamento científico que comprovem e regulamentem o uso da Ayahuasca no tratamento de dependentes químicos.

Por hora, resta-nos esperar essa boa nova.

Luiz Leandro

FONTES:

http://www.udv.org

http://www.santodaime.org

http://www.abarquinha.org.br/

 

LABATE, Beatriz C. 2004. A reinvenção do

uso da ayahuasca nos centros urbanos.

Campinas/São Paulo: Mercado de Letras/

Fapesp. 535pp.