USO RACIONAL E SEGURO À RESISTÊNCIA BACTERIANA: PAPEL DO FARMACÊUTICO E DA AGÊNCIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA.

Nascimento. S. R1

Drª. Kedma Magalhães2

 

INTRODUÇÃO:

Os antibióticos bactericidas destroem as bactérias que estão dentro do seu espectro de atividade, ao passo que os antibióticos bacteriostáticos apenas inibem a multiplicação. A capacidade bacteriostática de um antibiótico pode ser suficiente para o tratamento da maioria das infecções, mas a atividade bactericida pode ser importante em infecções graves ou em pacientes imuno comprometidos. A atividade bacteriostática também pode ser importante em casos que a carga bacteriana seja muito grande. (Rebecca.2008). A resistência bacteriana pode causar infecções muito difíceis de serem tratadas, permanecendo no local e favorecendo a proliferação das bactérias. O antibiótico deveria ser prescrito de forma racional, com base em um diagnóstico concreto e não baseado apenas em dados epidemiológicos de determinados agentes etiológicos responsáveis por certas infecções. Porém, o consumo desnecessário e excessivo sem esta cuidadosa avaliação torna mais propício o desenvolvimento desta resistência, tornando-se um problema sério no tratamento das doenças infecciosas. Esse evento ocorre em maior proporção em ambientes hospitalares onde a incidência do uso dessas drogas, é proposta em grande quantidade (Fiolet al., 2010). Para infecções bacterianas na superfície da pele, dos olhos, ou orelha, um antibiótico pode ser aplicado como um creme ou pomada. Se a infecção for interna, o antibiótico pode ser deglutido ou injetado diretamente no corpo. Nestes últimos casos, o antibiótico é ministrado em todo o corpo por absorção pela corrente sanguínea (MORELL. 1997. p.576).

            A resistência pode ser considerada um fenômeno ecológico que ocorre como resposta da bactéria frente ao amplo uso de antibióticos e sua presença no meio ambiente (Levy2001). As bactérias multiplicam-se rapi­damente, sofrem mutação e são promíscuas, podendo trocar material genético entre linhagens de mesma espécie ou de espécies diferentes. São consideradas micro-organismos de alta capacidade de adaptação a diversos fatores, como a exposição a agentes químicos potentes (Fernandes 2006). Antes do século XXI a resistência bacteriana ocorria predomi­nantemente em ambientes hospitalares. Atualmente, a resistência bacteriana está associada a diversos ambientes e pode atingir indiví­duos saudáveis (Levy2001). Uma alternativa que pode ser adotada na tentativa de contornar o problema da resistência bacteriana é o uso de terapias associadas (Fernandes 2006). Porém, o uso extensivo e muitas vezes inapropriado dos antibióticos, más condições de higiene, fluxo contínuo de via­jantes, o aumento de pacientes imuno comprometidos e a demora no diagnóstico das infecções bacterianas têm favorecido o aumento da resistência (Nussbaum2006).

CONTROLE E ADMINISTRAÇÃO FARMACÊUTICA

            Os gestores de saúde pública devem focar a fiscalização dos agentes públicos em estabelecimentos de pequeno e médio porte, não apenas em grandes redes, uma vez que o “escape” de antibióticos para a população se dá neste tipo de comércio. Além disso, o sistema de saúde deve garantir um atendimento mais ágil, para que a demora no atendimento e diagnóstico das infecções (mais comuns na população) não seja um motivo na busca rápida de antibióticos por vias clandestinas de vendas. O número abusivo de estabelecimentos deve também ser alvo dos gestores de saúde pública, uma vez que o Brasil apresenta um número acima do preconizado pela OMS. Isso gera uma incompatibilidade nas ações de saúde pública (poucos fiscais/ muitos estabelecimentos). Além disso, os próprios gestores e responsáveis técnicos (farmacêuticos) das farmácias e drogarias, deveriam realizar campanhas nos próprios estabelecimentos de vendas, para a conscientização do consumidor no combate à resistência bacteriana, sendo efetiva a transmissão do conhecimento

CONTROLE E FISCALISAÇÃO SANITÁRIA

            É necessário que as autoridades de saúde, os representantes das sociedades de classe e das faculdades de saúde enviem esforços em educação continuada quanto às características, uso, efeitos adversos e interações dos antibióticos e que estímulos sejam feitos para o desenvolvimento de protocolos de atendimento para as condições médicas que mais comumente implicam no uso de antibióticos. Nos Estados Unidos, o Center for Disease Control (CDC) desenvolveu programa denominado “Get Smart: know when antibiotics work” que aborda os perigos da automedicação é destinado aos profissionais de saúde. No Brasil, uma medida semelhante da Anvisa disponibilizou uma cartilha na internet, em 2010, intitulada “O que devemos saber sobre medicamentos”, a respeito da farmacovigilância (ANVISA, 2010). Tal medida torna-se importante para que o próprio consumidor avalie os riscos da automedicação.

            Diversos países têm normas que regulam a venda de antibióticos. Nos EUA, a venda é feita sob prescrição médica, personalizada, que inclui a dispensação do número exato de comprimidos/cápsulas a ser utilizado por cada cliente (WHO, 2010). No Chile, é necessária apresentação de receita médica para venda de antibióticos, assim como na Colômbia (BAVESTRELLO & CABELLO, 2011). Entretanto, em Bogotá, estudos demonstraram que apenas 20% das vendas de antibióticos é feita com receitas médicas (VACCA, NINO, REVEIZ, 2011). Na Europa, o Conselho de Vigilância sobre o Consumo de Antibióticos (ESAC), está elaborando instrumentos para informar sobre as políticas de saúde pública quanto ao uso e vigilância no consumo de antibióticos. No Chile, foi observada uma redução da venda de antibióticos nos primeiros dois anos após a regulamentação da venda de antibióticos, sendo que depois desse período, notou-se aumento considerável do consumo desses medicamentos.

1 Farmacêutico do Hospital Esperança, Recife-Pernambuco. E-mail: [email protected]

2 Biomédica, Especialista em Microbiologia, Mestre e Doutora em Medicina Tropical. E-mail: [email protected]

METODOLOGIA: Trata-se de um estudo retrospectivo de levantamento bibliográfico seguido da análise crítica sobre as temáticas, uso e resistência bacteriana aos antimicrobianos e quem administra, para o alcance do objetivo geral, optou-se pelo método descritivo e analítico. O estudo foi realizado com base em referências eletrônicas pela, Cochrane, no banco de dados Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde), ( SCIELO, MEDLINE, PUBMED E BIRENE) Entre o período de Agosto de  2014 a Fevereiro 2015, em 21 artigos estudados e materiais publicados entre os anos de 1996 a 2014.

DISCUSSÃO

            A venda de antibióticos sem prescrição médica atualmente pode ser um reflexo da competitividade de pequenas farmácias contra as grandes redes, numa tentativa de sobreviver no mercado farmacêutico. Pois, ao que se conhece sobre o mercado de farmácias no passado, a sobrevivência era algo conseguido com mais facilidade. A grande maioria dos empresários de pequenas farmácias não precisava se ocupar de temas como capacitação, maior conhecimento do mercado, domínio do próprio negócio (COELHO, 2013).

            Em todo o país se torna cada vez mais significativa a presença das grandes redes de farmácias trazendo consigo uma série de consequências, não só para o varejo mas também para a distribuição e até para a própria indústria farmacêutica. Se considerarmos o fato de que muitas farmácias independentes faturam cinquenta mil reais, e que uma loja de grande rede chega a faturar um milhão de reais por mês, não é difícil avaliar o impacto destes gigantes no cotidiano das pequenas farmácias (COELHO, 2013). Em contrapartida, a fiscalização pela vigilância sanitária mantém o foco nas grandes redes e não faz a fiscalização nos estoques das farmácias, mas no controle das prescrições, ou seja, na saída da mercadoria. Isso também alimenta o roubo, furtos e extravios de cargas de medicamentos que, eventualmente, vendem a carga para pequenas farmácias (ABRAFARMA, 2008; Anvisa, 2013).

            A grande maioria dos empresários de pequenas farmácias não precisava se ocupar de temas como capacitação, maior conhecimento do mercado, domínio do próprio negócio (COELHO, 2013). A informalidade, que por muitas décadas beneficiou muita gente ao longo da cadeia de produção, agora já não faz mais parte do cenário. É inegável o impacto das grandes redes, mas alguns outros fatores também influenciam a competitividade das farmácias, além do aperto na questão regulatória: a substituição tributária, a nota fiscal eletrônica, a compra interestadual, vendas pela internet, etc. Todos estes fatores possuem um traço em comum: são variáveis externas, sobre as quais o pequeno empresário não tem nenhum controle, ou seja, não tem gestão. O proprietário da farmácia não tem domínio sobre estas variáveis. Ele necessita fazer uma leitura adequada para compreendê-las e se adequar (COELHO, 2013).

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