Uso do álcool: até onde vale a pena o risco!

A qualidade de vida está em alta, e para ter essa tão sonhada “qualidade de vida”, as pessoas lotam academias, uns em busca do corpo perfeito, outros a saúde já lhes bastam, mas o que realmente importa é a tão sonhada felicidade. A felicidade não tem receita pronta, pois cada ser humano a reconhece de maneira diferente, sim, pois, o que torna feliz uma pessoa, não necessariamente tornará outra, por outro lado, podemos dizer que, o que é bom pra mim, pode não ser para você, isso é básico. Seguindo essa linha de pensamento, as pessoas perseguem essa sensação, seja ela chamada qualidade de vida ou felicidade, através de suas ações na vida. Essas ações podem aumentar ou diminuir a sensação de felicidade, conforme geralmente seja, a aceitação por parte da sociedade. Essa colocação é claramente visível quando abordamos questões relacionadas ao uso do álcool, basta olhar ao nosso redor. Um indivíduo que consome “socialmente” dentro de um determinado grupo, seja ele de amigos ou colegas de trabalho – “pode ser aceito”, por outro lado, uma pessoa que faz abuso desse consumo, pode ser reprimida de várias maneiras por esses mesmos grupos. No discorrer desse artigo vamos conhecer mais profundamente esse “lobo em pele de cordeiro” que vem destruindo muitas vidas.

            As pessoas ao beberem não imaginam que o ato de beber bebidas alcoólicas tem registros que datam de aproximadamente 6000 a.C e que tem persistido a milhares de anos, inclusive que esse hábito de beber tenha persistido devido à relação do álcool com questões divinas, exemplificados na mitologia. Sendo a fermentação o único processo nas épocas passadas, as bebidas tinham um conteúdo alcoólico relativamente baixo. Com o surgimento do processo de destilação que foi introduzido na Europa pelos árabes na idade média, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas. As bebidas destiladas nessa época eram consideradas remédios para todas as doenças. No entanto, foi a partir da Revolução Industrial, que a oferta da bebida destilada aumentou consideravelmente, o que paralelamente culminou com o surgimento de casos de pessoas que apresentaram problemas decorrentes do uso abusivo dessa substância.

            Antes de entrarmos no mérito da questão, convém nesse momento esclarecer o termo droga, sim, pois apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool também é considerado uma droga psicotrópica, isso porque atua no sistema nervoso central causando mudança no comportamento e grande possibilidade de desenvolver dependência. O termo droga tem origem na palavra drogg, proveniente do holandês antigo e cujo significado é folha seca. Esse nome é devido ao fato de, antigamente, quase todos os medicamentos utilizarem vegetais em sua composição. No entanto, nos dias de hoje, o termo droga é definido pela Organização Mundial de Saúde – OMS, como sendo qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas produzindo alterações em seu funcionamento. Portanto, as drogas utilizadas para alterar o funcionamento cerebral, causando modificações no estado mental são chamadas de drogas psicotrópicas, e o álcool é uma delas.

            As drogas psicotrópicas dividem-se em três grupos: depressoras, estimulantes e perturbadoras. O álcool é uma droga que tem características depressoras do sistema nervoso central e é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até incentivado pela sociedade. Esse é um dos motivos pelos quais ele é encarado de forma diferenciada, quando comparada com outras drogas. É seguramente a droga psicotrópica de uso e abuso mais amplamente disseminada em grande número e diversidade de países na atualidade.

            O uso do álcool segue a muitas contradições em nossa sociedade, é comum observar na mídia televisiva principalmente, jornais noticiando acidentes fatais, crimes violentos, famílias se desestruturando devido ao consumo de bebidas alcoólicas, ao mesmo tempo, essa mídia, bombardeia nossos lares com propagandas, tendo como vedetes bebidas alcoólicas, sempre apresentadas relacionadas a praias paradisíacas, mulheres bonitas, artistas famosos, ou seja, as indústrias do setor não poupam esforços e muito menos dinheiro para mostrar ao jovem, a vida maravilhosa que podem ter usando seus produtos. Porém, a realidade é outra, basta passar algumas horas na emergência de um hospital de uma cidade de médio porte, ou acompanhar um dia em um centro de operações da Polícia Militar. Mas apesar do lado negativo da mídia, ela ainda pode ser considerada um poderoso instrumento nos tempos modernos, onde a informação se apresenta como a alma do negócio, independente, de ser para o bem ou para o mal. Ao pensar na capacidade de alcance desses mecanismos, principalmente quando falamos em adolescentes e jovens, essa capacidade se torna muito maior.  Nota-se de forma positiva, a preocupação da mídia em discutir e informar a população sobre o uso abusivo de álcool e outras drogas. Umas das grandes vedetes da mídia nacional, as novelas, tem se ocupado, seguidamente, da questão do álcool e de outras drogas, mostrando em seu enredo personagens envolvidos com drogas e álcool, a repercussão da dependência na família e na vida do usuário, tudo isso está lá quase que diariamente na telinha do brasileiro.

            Deixando a mídia um pouco de lado, vamos falar um pouco sobre os efeitos do álcool no nosso organismo. O consumo do álcool a longo prazo dependendo da dose, freqüência e circunstância, pode provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo. Ao ingerir álcool o indivíduo sofre diversos efeitos, que se apresentam em duas fases distintas: uma estimulante e outra depressora.

            A fase estimulante acontece no primeiro momento após a ingestão, a pessoa fica eufórica, desinibida e até falante. Isso pode ser constatado nas baladas, onde jovens fazem uso do álcool para conseguir ficar livre principalmente da inibição. Com o passar do tempo, começa a entrar na segunda fase, ou seja, a depressora. Nessa fase surge a falta de coordenação motora, descontrole e sono, quando o consumo é muito grande, pode causar até mesmo o coma alcoólico. Esses efeitos variam de pessoas para pessoas. Um indivíduo acostumado a beber bebidas alcoólicas sentirá os efeitos com menor intensidade, do mesmo modo ocorre com uma pessoa com determinada estrutura física, onde uma pessoa de maior porte pode sentir os efeitos com menos intensidade.

            Outros efeitos provenientes do uso do álcool, mesmo em pequenas quantidades são a diminuição da coordenação motora e os reflexos, isso provoca uma considerável diminuição a capacidade de dirigir veículos ou operar máquinas. As pesquisas comprovam que grande parte dos acidentes são provocados por motoristas que haviam ingerido bebidas alcoólicas antes de dirigir. A legislação brasileira, através da Lei nº 9.503/97 que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro – CTB, diz que o motorista que for flagrado com 0,6g de álcool por litro de sangue deverá ser penalizado. Essa quantidade equivale a beber cerca de 600 ml de cerveja (duas latas de cervejas ou três copos de chope), 200ml de vinho (duas taças) ou 80ml de destilados (duas doses), porém, para ser comprovada essa taxa, o possível infrator deve ser submetido ao teste em aparelhos conhecidos como bafômetro.

            Sem dúvida o trânsito no Brasil, devido ao uso do álcool já chegou a dados que preocupam muito, não só as autoridades, mas também a toda sociedade, e os níveis de consumo não param de crescer, como foi divulgado no I Levantamento Nacional dos Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, em 2007, onde 28% da população brasileira adulta consumiram bebidas alcoólicas em excesso pelo menos uma vez nos últimos 12 meses.

            Creio que o enfraquecimento da estrutura familiar com o passar dos tempos, a perda de valores importantes como a união, o respeito pelos mais velhos, à religiosidade, a falta de apoio à educação, a ênfase na liberdade em detrimento dos deveres de cada cidadão, possam ter sido a mola propulsora da barbárie que estamos testemunhando nesse tempo, através da violência no trânsito, no seio das famílias, entre outros.

            Uma interessante pesquisa na Austrália, entrevistando 8.256 estudantes de 10 a 14 anos de 30 comunidades estratificadas para representar diferentes níveis socioeconômicos e regionais, demonstrou que “a prática de convivência familiar pode contribuir para a obtenção de abstinência do álcool nos adolescentes. Além do mais, um estreito relacionamento emocional com o pai, pode também promover a abstinência; todavia o comportamento do consumo de álcool pelo pai precisa também ser considerado”. Essa informação pode nos levar a importantes reflexões, como por exemplo, devemos deixar entrar bebidas alcoólicas entrar em nossos lares, o que isso ira influenciar em nossos filhos, convém apresenta-los precocemente a essas drogas licitas, porém perigosas, jamais devemos esquecer que as bebidas alcoólicas são a porte de entradas para outras drogas. Dissemos que é a porta de entrada, pois alcoolizadas, as pessoas se tornam mais vulneráveis, desta forma acabam experimentando drogas como a maconha, craque e até mesmo a cocaína na forma de pó, que estão mais disseminadas por aí.

            A forma mais eficaz de não se tornar um dependente químico dessas e outras drogas, é sem dúvida não experimentá-las, a partir do momento que experimentamos, estamos abrindo um espaço para o possível vício. O conhecimento dos malefícios de cada substância, o diálogo, a espiritualização, a vida saudável, estão entre as melhores respostas que podemos dar no momento. Por outro lado, após tornar-se usuário ou dependente, a procura de ajuda profissional é a única saída, muito difícil, muitos não conseguem, deve primeiramente ser de vontade própria, ou seja, o usuário ou dependente deve querer se curar, caso contrário fica quase impossível a reabilitação da pessoa.