RECOMENDAÇÕES PARA O USO SEGURO DE AGROTÓXICOS

INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais o uso de agrotóxicos é imprescindível para equacionar o problema da fome no mundo globalizado. Muito embora existam diversos outros métodos de controle de pragas e doenças na agricultura, o uso de agrotóxicos ainda é o método mais utilizado em todo o mundo devido ao modo imediatista de resolver os mais graves problemas e devido a circunstâncias práticas e econômicas.

Quando se examinam os dados estatísticos dos casos de mortes, seqüelas e doenças causadas por intoxicações com agrotóxicos e os riscos que os resíduos deixados nos alimentos podem acarretar aos homens e animais, chega-se à conclusão que o controle químico muitas vezes tem condição de ser desaconselhado, apesar de toda a vantagem que possa trazer. Entretanto, deve-se considerar que a maioria dos casos de intoxicações é resultado da falta de cuidado ou ignorância daqueles que, direta ou indiretamente, estão envolvidos com o comércio e uso desses produtos, negligenciando as normas de aquisição, transporte, armazenamento, manuseio e aplicação (NOGUEIRA, 2005).

A necessidade de melhoria na eficiência das aplicações de produtos fitossanitários tem sido relacionada por diversos pesquisadores ( MATTHEWS, 1992; VAN DE ZANDE et al. 1994; BAUER & RAETANO, 2000;OLIVEIRA & MACHADO NETO, 2005, entre outros). O desenvolvimento de novas tecnologias de aplicação torna-se indispensável para a obtenção de melhores índices de eficiência de controle, que estão diretamente relacionados com a qualidade da aplicação.

PRINCIPAIS TIPOS DE CONTROLE DE PRAGAS

Além do controle químico existem diversos outros tipos de controle de pragas ou doenças agrícolas que podem ser alternativas ou associações ao controle químico. Cada tipo apresenta suas vantagens e desvantagens, sendo que devem ser sempre estudadas para cada situação específica. Relacionamos a seguir os principais tipos:

Controle químico.

Controle físico.

Controle biológico.

Controle integrado.

Manejo integrado de pragas.

Uso de variedades resistentes.

Controle por práticas culturais.

Catação manual.

Calor induzido.

PRINCIPAIS TIPOS DE AGROTÓXICOS

Inseticidas

Acaricidas.

Fungicidas.

Bactericidas.

Herbicidas.

Nematicidas.

Rodenticidas.

Moluscocidas.

CLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA

Quanto à ação tóxica para as pessoas que as utilizam, os agrotóxicos são classificados da seguinte forma:

Classe toxicológica I : extremamente tóxico (faixa vermelha).

Classe toxicológica II : altamente tóxico (faixa amarela).

Classe toxicológica III : medianamente tóxico (faixa azul).

Classe toxicológica IV : pouco tóxico (faixa verde).

RECOMENDAÇÕES E CRITÉRIOS BÁSICOS PARA A MANIPULAÇÃO DOS AGROTÓXICOS.

Apesar da grande contribuição do controle químico para com os organismos indesejáveis, quando usados de modo inadequado ou abusivo, os agrotóxicos podem causar sérios danos ao homem, aos animais e sérias contaminações do meio ambiente. A Lei dos agrotóxicos atualmente determina aos engenheiros agrônomos e aos engenheiros florestais a incumbência de prescrever, por meio de receituário agronômico, quais as recomendações de proteção do trabalhador que prepara e aplica os produtos fitossanitários e recomendações de cuidados com o agroecossistema. A legislação estabelece responsabilidades administrativas, civis e penais ao empregador, ao profissional responsável e ao prestador de serviços pelos danos causados à saúde dos trabalhadores e ao meio ambiente. As penalidades relacionadas incluem desde multas severas até penas de reclusão de alguns anos. Algumas normas regulamentadoras rurais definem padrões de conduta na manipulação dos produtos agrícolas. Relacionamos a seguir alguns cuidados básicos em relação ao uso dos agrotóxicos:

1.CONSULTE SEMPRE UM PROFISSIONAL COMPETENTE

A obrigação legal do receituário agronômico representa um grande avançona agricultura brasileira, não resta dúvida, já há algumas décadas.O engenheiro agrônomo ou o engenheiro florestal deverá verificar a real necessidade do uso do agrotóxico e por meio de um receituário agronômico irá prescrever as recomendações específicas para cada caso. Após a escolha do produto e da dose a ser empregada, o profissional deve alertar para a necessidade de se diminuir os riscos de intoxicações e contaminações. Algumas atitudes devem ser recomendadas, tais como: utilizar mão de obra competente para a aplicação, evitar aplicação em horário que estiver ventando, preparar a calda em local ventilado, empregar cabine de proteção nos tratores para diminuir a exposição dos tratoristas, empregar equipamentos de proteção com especificações técnicas.

2. ATENÇÃO NA HORA DA COMPRA

Antes de comprar um produto, verifique se a embalagem está perfeita, com o rótulo totalmente legível, se o produto não está vencido ou se o prazo de vencimento não está muito próximo, se o produto é recomendado para aquela praga ou doença (a informação deve constar no rótulo ou na "bula"), se o comerciante é devidamente registrado para vender agrotóxicos, se está fornecendo a nota fiscal contendo o número de registro do produto, se o rótulo contém o número do lote de fabricação. Cabe ainda lembrar que é totalmente proibido a venda e utilização de agrotóxicos sem o devido receituário agronômico regulamentado.

3. CUIDADO ESPECIAL COM O TRANSPORTE

Existem diversos relatos de casos de intoxicações e de contaminações com agrotóxicos durante o transporte. Deve-se ter um cuidado especial com o rompimento de embalagens. As embalagens com vazamentos, seja o produto líquido, pó ou granulado, podem intoxicar pessoas e animais, poluir o ambiente. O produto deve ser sempre transportado na sua embalagem original, com cuidados especiais no acondicionamento.

4. CUIDADO COM O ARMAZENAMENTO

Os agrotóxicos devem ser guardados em local seguro, exclusivo para depósito, longe do alcance das crianças e de animais. O local deve ter boa ventilação e deve estar situado longe de habitações ou de locais onde se armazenam alimentos ou rações. Os produtos devem ser devidamente agrupados em prateleiras. Êles nunca devem estar em contato direto com o piso e devem sempre estar com os rótulos intactos. O local deve ser trancado à chave e deve manter um alerta sobre material tóxico. Cabe ainda ressaltar que nunca se deve comprar em excesso porque o armazenamento é sempre um problema. Ficar com um certo estoque de produto velho é ficar com um "mico". Um bom planejamento na hora da compra é fundamental.

5. FAÇA UMA REVISÃO DOS E.P.I.s

Os equipamentos de proteção individual (E.P.I.) devem ser os recomendados no receituário agronômico. São imprescindíveis: máscaras, luvas impermeáveis, chapéu de abas largas, óculos ou protetor facial, calça impermeável ou com tecido hidrorepelente, camisa de manga comprida do mesmo material hidrorepelente, avental impermeável. Dependendo do tipo de produto e do tipo de aplicação, é necessário o uso de máscara protetora especial. Todo equipamento de proteção deve ser regulamentado e deve ser mantido em boa condição de uso. Deve ser mantido limpo e em local seguro, longe de alimentos, de crianças e de animais. O número de lavagens possíveis é regulamentado pelo fabricante.

6. FAÇA REVISÃODOS EQUIPAMENTOS DE APLICAÇÃO.

A regulagem correta e a boa manutenção dos equipamentos de aplicação são atitudes que também contribuem com a diminuição dos riscos. Os equipamentos devem estar sempre em boas condições de uso. Devem ser lavados com água e sabão após cada aplicação. Seguir sempre as recomendações do fabricante. Tanto a revisão como a lavagem do pulverizador deve ser feita longe de crianças, animais, córregos e nascentes. Verificar sempre se o tanque do pulverizador está limpo. Todo o produto do tanque deve ser pulverizado sobre a lavoura de modo a não sobrar resíduo no depósito que seria de difícil descarte em local seguro. Verificar constantemente possíveis vazamentos ou defeitos nas seguintes partes do pulverizador: filtro de sucção, mangueiras, regulador de pressão, manômetro, bomba de sucção, bicos pulverizadores. As peças com defeitos devem ser substituídas segundo as recomendações dos fabricantes. A vazão correta do bico pulverizador é determinada pela pressão de trabalho indicada no catálogo do fabricante.

7. ATENÇÃO COM A LAVAGEM E DESCARTE DAS EMBALAGENS VAZIAS

No que diz respeito à destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, uma lei disciplina o assunto, determinando responsabilidade para o agricultor, o revendedor e o fabricante. Trata-se da Lei 9974 de 06/06/2000 e Decreto 3550 de 27/07/2000. (BOGGIO,2001). O agricultor quando for usar o produto deve fazer a tríplice lavagem da embalagem. Após o completo esvaziamento, deverá acondicionar a embalagem vazia em um saco plástico padronizado que deve ser fornecido pelo revendedor. Dentro do prazo de um ano essas embalagens deverão ser entregues a um posto de recebimento cadastrado. O agricultor receberá um comprovante de entrega que deve ser guardado com a nota fiscal do produto. Caberá ao fabricante ou seu representante legal providenciar o recolhimento de todo o material depositado no posto de recebimento.

8. ESCOLHA O EQUIPAMENTO APROPRIADO

O sistema de pulverização deve ser adequado ao tipo de cultivo, tamanho da propriedade e tipo de topografia. No mercado agrícola existem diversos modelos de pulverizadores e turbo atomizadores e um profissional competente deve ser consultado por ocasião da aquisição. Hoje é consenso a necessidade de se obter uma melhoria na eficiência da distribuição volumétrica da calda. Segundo MATTHEWS (1992), uma melhoria na pulverização deverá ser alcançada com a evolução gradativa nos processos de aplicação em todos os aspectos físicos, através do desenvolvimento de novos equipamentos e apetrechos capazes de cumprir com mais eficiência a tarefa de levar o produto ao inseto alvo. Assim, recomenda-se ao agricultor que fique sempre atento ao lançamento de novas tecnologias e novos equipamentos no mercado, muitas vezes com reduzido consumo de energia e de volume de calda e com maior eficiência.

9. VERIFIQUE A DISTRIBUIÇÃO VOLUMÉTRICA

A distribuição do volume de calda aplicada e a dispersão das gotas que fazem a cobertura do alvo da pulverização são tópicos que devem ser sempre analisados para a melhoria da aplicação. Partículas de agrotóxicos em suspensão podem ser levadas pelo vento e contaminar alimentos e forragens em áreas não tratadas. Partículas menores, geralmente produzem contaminações mais sérias a maiores distâncias da área de aplicação. Os efeitos dos agrotóxicos em áreas vizinhas àquelas que receberam a aplicação foram estudados por MARSHALL (1987), que concluiu que muitas espécies são severamente afetadas por contaminações acidentais ou deriva, principalmente de herbicidas. SORTHIA & CHARI (1985) constataram 100% de mortalidade em abelhas melíferas (Apis flórea F. e Apis melípona L.) quando atingidas por inseticidas organofosforados. A aplicação de agrotóxicos com o uso de assistência de ar nos pulverizadorescomo forma auxiliar de melhoria da eficiência é comumente utilizada em aplicações em pomares, mas ainda pouco utilizada em lavouras anuais, segundo FURNESS (1991). Embora a idéia de se usar a assistência de ar em pulverizações não seja tão nova, nota-se que, com a comercialização desses equipamentos, gradativamente estudos mais detalhados dessa tecnologia são apresentados comprovando a eficiência (HISLOP,1991; BAUER & RAETANO, 2000 ).

10. EVITE OU RETARDE O PROBLEMA DA RESISTÊNCIA.

Em uma população de insetos ou ácaros, alguns indivíduos podem ser naturalmente resistentes. Com o uso contínuo de um mesmo agrotóxico pode com o tempo ocorrer um aumento gradativo da população resistente, que pode ocorrer devidoa uma seleção natural darwiniana. Para se evitar ou retardar ao máximo este problema, recomenda-se a alternância de agrotóxicos de grupos químicos ou modo de ação diferente e, se possível, rotação de cultura. O manejo da resistência pode ser elaborado seguindo-se as recomendações de um comitê científico para o estudo da resistência (IRAC-BR) que disponibiliza as informaçõesem um site próprio na Internet.

11. USE PRODUTOS SELETIVOS

A seletividade dos agrotóxicos, particularmente daqueles utilizados em pulverizações a alto volume no controle de pragas dos principais cultivos anuais e perenes, tem sido objeto de estudo para muitos pesquisadores, no Brasil e no exterior. Já existem diversas tabelas atualizadas e disponíveis para consultas acadêmicas sobre o grau de toxicidade do produto à insetos benéficos (inimigos naturais das pragas, sejam predadores ou parasitóides, e as abelhas polinizadoras, etc.). Ultimamente, com os conceitos já enraizados de manejo integrado de pragas, a seletividade passou a ser uma nova propriedade a ser exigida de um produto químico, além dos quesitos eficiência, segurança toxicológica e custo. Tal característica tem despertado a preocupação dos fabricantes que já inserem em seus anúncios, sempre que possível e pertinente, os aspectos de seletividade do produto, desde que comprovados cientificamente.

REFERÊNCIAS

BAUER,F.C.&RAETANO,C.G. Assistência de ar na deposição e perdas de produtos fitossanitários em pulverizações na cultura da soja. Scientia Agrícola, v.57, n.2, p. 271-276, abr./jun., 2000.

BOGGIO,A.M. Destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos. Coopercitros Informativo Agropecuário, Ed.171, jan.,2001.

FURNESS,G.O. A comparison of simple blufl plate and axial fans for air-assisted, high-speed, low-volume spray application to wheat and sunflower plants. Journal of Egricultural Engineering, v.48,p. 57-75, 1991.

HISLOP,F.C. Air assisted crop spraying: na introductory review. In: LAVERS,A.; HERINGTON,P.; SOUTHCOMBE, E.S.E. (Ed.). Air-assisted spraying in crop protection. Farnham:British Crop Protection Council, p.3-14 (Monograph,46),1991.

MARSHAL,E.J.P. Herbicide effects on the flora of arable Field boundaries. In: Britsh Crop Protection Conference-Weeds, Brighton,1987. Proceedings. Brighton: BCPC, v.1, p. 291-298, 1987.

MATTHEWS,G.A. Pestcide application methods. 2 ed. London: Longman, 1992. 405p.

NOGUEIRA, N.D. O uso seguro de agrotóxicos. Boletim do Morango: cultivo comercial, segurança alimentar, cultivo orgânico. Belo Horizonte: CEASA-Minas, p. 107-114, 2005.

OLIVEIRA, M.L. & MACHADO NETO, J.G. Segurança na aplicação de agrotóxicos em cultura de batata em regiões montanhosas. Revista brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 30 (112), p. 15-25, 2005.

SORTHIA, B.K.; CHARI, M.S. Toxicity of some insecticides to honey bees, Apis flórea F. and Apis melípona L. Journal of Entomological Research, V.9, p. 195-197, 1985.

VAN DE ZANDE, J.C., MEIER,R.,VAN IJZENDOORN,M.T. Air-assisted spraying in winter wheat-results of deposition measurements and the biological effect of fungicides against leaf ande ar diseases. In: British Crop Protection Conference- Pest and diseases, Brighton, 1994. Proceedings. Brighton:BCPC, 1994, p. 313-318.