As palavras das imagens 15

UNS POEMAS

 (ilustraram mais algumas das minhas fotografias, em particular sobre os sítios, publicadas no facebook, durante os últimos meses)

 

O que é isto?

A leira medrou em sarça.
Mas mesmo quem lá comeu
Julga que não é desgraça.

Irrita lá o borrego.
Olha que marra uma vez,
P’ra depois ter desapego.

O ladrão não é culpado.
Culpado sim é quem foi
Sobre o roubo descuidado.

Vejo tanta explicação:
Doutores, videntes, que sábios!
Só falham na solução.

E também os tribunais.
P’las leis em que eles bebem
Dão sentenças magistrais.

Se à igreja vão os crentes,
Estou certo que outros mais
Estão lá de corpos presentes.

Dizem que são pessimistas.
Pudera! Com um leme assim!
E então, que dizer às vistas?

Rei e dança no terreiro
Do Rossio coração.
Cruz e preito: mais cimeiro.

Porque o outro é de ferro e bem possante
Lá está seguro, em Espanha. Vê-se sempre.
Este aqui está vivo, aqui, aqui... Instante?

Impressiona tanta folha
À vista nos escaparates.
E ideias? Que fraca escolha!

Os cortes…já lá vai o irrevogável…
E é mesmo definitivo, num prazo curto
Provável!

Quando incensam o dinheiro,
Põem os pobres em primeiro!

Mó “esbulhada” (das notícias do dia)

Se é banco, leva maquia,
Já se viu e está provado.
Mas dizendo obra pia
Vai levar o reformado.

Mesmo em estado de direito,
Não concordam? Pois então,
O contrato já foi feito
A valer só p’ró patrão?

E que dizer à confiança
Que está na Constituição?
Quando é caso de finança
Só vale como ilusão?

Quando alguém é roubado,
Atenção, queixe-se logo.
Não vá o ladrão dizer:
Não foi roubo. Foi um jogo.

Maduro

Duro?
Escuro?

Muro.

Apuro?
Esconjuro?
Monturo?

Futuro,
Eu juro.

Arco do Bispo

Arco 
Do Bispo
Parco?
Chispa.

Já foi o cortejo
De púrpuras austeras. /

(...)

Garridas lá vão...
Vastas...
Sinceras.

Num cruzamento da serra da Gardunha, com um destino cortado

Eram olhos a ver, rumo ao destino,
Bem cheios de horizontes, nos pinhais.
Mas já tão saciados, meios tontos,
Deram com o norte cortado, por demais…

Apre

Apre!
Arre!
Irra!
Fora!
Caluda!

Não leves meu pão logrado.
Não logres, pois não foi dado. 

No campo da Lardosa, com rebanho em fundo

Sim.

É a noite que assoma e vai chegar!
O prado é branco.
Rapou a erva toda.
E se o leite flui 
daquelas tetas cavas
tem destino:
fartar ao gringo
a boda.

António Lourenço Marques