O sol aparece, o sol se põe. Os seres vivos nascem, desenvolvem-se e morrem. As letras se agrupam em sílabas, que formam palavras, que formam frases, que formam parágrafos, que formam capítulos dos incontáveis livros produzidos pelo engenho humano.

Parece que só podemos perceber a vida em fragmentos. Sabemos, no íntimo, que tudo é unidade, continuidade, processo, mas resulta sumamente difícil escapar da ilusão dos fenômenos particulares. Cada fato, cada circunstância, parece absorver a atenção toda. A realidade atomiza-se e foge da compreensão.

O pensamento analítico tem sido ótimo no terreno tecnológico e utilitário, porém é e sempre será incapaz de dar um fundamento racional aceitável da existência ou da experiência humana individual e social. A humanidade aspira a uma síntese da realidade, uma visão orgânica capaz de explicar e entender o processo vital.

A vida é tudo. A vida é continuidade. Saber-se parte do todo liberta o espírito humano da escravidão do tempo. Anos, meses, dias, horas, segundos; a fragmentação leva ao desespero. A imperiosidade da urgência reclama submissão imediata e absoluta. Temos a sensação que a queda da humanidade começou com a invenção do relógio. E nem falar do telefone celular.

Por vontade divina a humanidade possui a capacidade de se elevar às alturas do espírito. A popular parábola da águia e da galinha ilustra com claríssima simplicidade esta profunda verdade. A cultura do imediato, do resultado, da eficácia, tem-nos escravizados e olhando para as migalhas que há no chão, mas a verdade é que nascemos para voar alto e ver a amplidão dos céus que se estendem, infindos, à nossa frente.

Devemos primeiro perceber a unidade. O todo é maior e melhor que a soma das partes que o compõem. As particularidades são complexas, a unidade é simples. A realidade toda se torna transparente, coerente e compreensível para quem pode perceber esta unidade na diversidade. A multiplicidade é só a manifestação pluriforme da unicidade subjacente.

Entendida essa unicidade do SER, o seguinte passo é compreender a continuidade. Só existe um tempo, o eterno agora. Todo tempo é presente contínuo. A fragmentação temporal impede a percepção da totalidade. A dis-continuidade é o fundamento da angústia humana.

Falamos já da unicidade do SER e da continuidade do PERCEBER. Resta agora o fundamento de toda atividade humana, o alicerce do FAZER. Se tudo é Uno, se o tempo é continuidade, então a unidade se encontra em processo. O processo é a forma plenamente humana de ação. Cada ato é contribui a completar os detalhes do continuo que se faz e refaz no agora.