*Neuza Paiva Firme

 

RESUMO

Este artigo trata-se de uma história real de uma pessoa, professora e atuante na história deste País, que cuja função construída foi somente ser Educadora num contexto escolar. E esta história segue durante trinta e poucos anos desta existência, num propósito de evidenciar as possibilidades e de dizer ao mundo que é e sempre será possível fazer educação a partir de um propósito, um sonho e diante de um ideal forte, único e solidário. A Educação é um sonho que precisa ser vivenciado, para que aconteça nas nossas vidas. Precisamos partilhar permanecer, estar juntos e realizarmos ações fortalecendo os dias para que ocorra a diferença e que esta diferença possa mudar o mundo das pessoas. Precisamos ter a certeza de que estes mundos são mutáveis e que em cada dia nos favorecemos com cada um por uma educação e um mundo sempre melhor. Pretendemos garantir um ensino de qualidade influenciando as gerações por um futuro melhor. Fornecendo ações, pretensões e uma visão acadêmica favorável ao mundo de cada um. Concluiremos que a Educação é e sempre será um motivo pessoal, tem que se manter e continuar e que os processos educativos são viáveis. A mudança existe.

Palavras Chave: Educação, Partilha e Visão Acadêmica.

 

Objetivo Geral: Estabelecer uma relação afetiva com o leitor, a partir dos interesses e situações vividas neste estudo de caso.

 

Objetivos Específicos:

  • Partilhar uma história pedagógica de sucesso e de longa data com o público leitor
  • Determinar através desta história pedagógica, que a Educação é possível e acontece com possiblidades.

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

Direcionaremos o olhar para a Professora Neuza Paiva Firme, cidadã, educadora e pessoa singular para os momentos plurais.

Nasceu em Santa Leopoldina, Município do Espírito Santo, em cinco de abril de mil novecentos e cinquenta e nove. Filha de Gencerico Paiva e de Nilza Amorim Paiva. Na família ocupava o lugar da terceira filha num contexto de sete irmãos. Considera-se parda nesta sociedade.

Sua infância foi bastante difícil, participando do convívio da família no contexto cultural e social com diversidades em nosso País. Seu pai na sua infância era profissional eletricista e exercia sua profissão na Prefeitura da Cidade. Sua mãe era estabelecida como dona de casa. A infância se formalizou como um período feliz com momentos lúdicos, criativos sem grandes gastos financeiros e que favoreciam a brincadeira e a imaginação.  As brincadeiras mais cotadas eram pique esconde, banho de cachoeira e banho de rios.

O nível cultural foi constituído aos poucos e o movimento se estabelecendo através da Educação Escolar. Seu primeiro ano na Escola Primária aconteceu na Escola Alice Holzmester com a Professora doce e amiga, Senhora Alda. Mostrou-se uma Professora caridosa onde deixou gravado a sua ajuda econômica, que auxiliava até com as necessidades financeiras da casa, fornecendo roupas e cestas básicas. Uma mediadora que se estabeleceu na vida da Professora Neuza, como uma mulher amiga e única. Motivo outrora para a sua escolha profissional. Pretendia então, ser igual, ou fazer parte do mesmo contexto. A profissão de educadora , começa a se mostrar e se fazer presente na sua vida, encantando-a através da generosidade exalada pela querida professora Senhora Alda. Desde então, esta seria a opção de um futuro empreendimento pedagógico de sucesso.

Até a oitava série, permaneceu na mesma Escola, onde também iniciou e findou o curso de Magistério. Durante o curso, realizou os trabalhos escolares  dos seus colegas, aproveitando o material deles e contemplando isto nos seus trabalhos, aproveitando assim o baixo custeio com a compra deles. Desta forma se mantinha no processo acadêmico e economizava financeiramente.  Um dos seus colegas de convívio foi o Sr. Romério Endringer, que foi o prefeito de sua cidade até o ano de 2016, com dois mandatos de trabalho. Nesta convivência, ensinava e ajudava a fazer os trabalhos, deveres e auxiliava nas apresentações pedagógicas.

A professora Neuza, esteve sempre presente nas construções pedagógicas da sua turma, aproveitando as trocas e as evidências de aprendizagens que se constituía.

 

Estudando o ciclo de vida dos

professores, observou que o início da carreira representa o momento de entusiasmo, da descoberta e do encantamento, embora marcado por dificuldades e insegurança. HUBERMAN (1992)

Em mil novecentos e setenta e quatro, neste contexto de formulações e construções surge a formação acadêmica da Professora Neuza em Magistério. Momento feliz, onde o País tinha uma ideia forte e constituída desta formação, e que de um modo visível seria a salvação para a realização dos seus sonhos. Era chegado o grande momento. Seu trabalho efetivo começou quando seu pai entrou em contato com a proprietária de um Sítio local, Senhora Maria de Lourdes Shaffer Pitol, para que a Professora Neuza pudesse lecionar. Nesta região e época, só lecionavam em escolas dos Sítios quem era da família, sendo assim, a indicação foi bem vinda e teve êxito. Permaneceu nesta Escola por três anos, onde teve acesso a várias construções pedagógicas e estabeleceu algumas habilidades advindas da profissão. Uma Escola bastante específica com modalidade Unidocente. Era a Escola Unidocente Ponte do Balanço. Sua importância foi bastante significativa, onde lecionou inclusive para o Senhor Thiago Pitol que no mandato passado foi vereador em sua cidade Santa Leopoldina.

“Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer”.

Paulo Freire

O trabalho no sítio era  mais simples e tranquilo, não existia a correria que vemos hoje em dia. As pessoas andavam a pé, pois quase não existiam carros. As ruas eram de terra ou de paralelepípedos. As crianças podiam brincar nas ruas e calçadas, pois não havia perigo de acidentes ou assaltos. Os vizinhos eram como integrantes das outras famílias, todos os dias se reuniam nas varandas de suas casas para conversar enquanto as crianças brincavam. O professor trabalhador, era aquele que assumia todas as tarefas da Escola, providenciando limpeza, comida, sala arrumada, deveres e educação. O trabalho era bem complexo e a atividade proativa e totalmente disciplinada e preparada para a construção do saber. Tudo dentro de uma perspectiva familiar, integradora e totalmente única nas atividades docente. A Professora Neuza, atuava como a gestora do trabalho acadêmico, mas interagindo com as diversas possibilidades do conhecimento e adquirindo junto aos alunos o agregar de todo o processo. Fechar a Escola para ir embora significava, preparar tudo e determinar a folga. Todo o funcionamento e adequação era por conta da Professora que entendia sobre tudo e guardava literalmente as crianças e suas expectativas. Um trabalho de formiguinha no processo acadêmico.

Com o tempo o professor vai compreendendo que a

prática de sala de aula não é uma concretização de

receitas. Apesar destas últimas serem necessárias existe algo a mais, que se transforma em um "habitus" que, a grosso modo é formado por "rotinas" e "esquemas"operatórios de alto nível"

( PERRENOUD, 1993,p. 108).

Em mil novecentos e setenta e oito a Professora Neuza realizou um concurso para o Magistério e outro Concurso Fiscal, onde foi aprovada nos dois, tendo que escolher entre somente um. Como era bastante jovem, preferiu assumir o Magistério, com a liberação de seu pai, indo trabalhar em Regência em Santa Leopoldina. Escola Unidocente Regência. Permaneceu por um bom tempo, de julho de mil novecentos e setenta e oito até dezembro de mil novecentos e oitenta e três. Esteve presente nesta comunidade também socialmente, onde morou com um casal de idosos, Senhora Belinha e Senhor Horácio, num Sítio local.

Participou de uma construção familiar bastante construtiva, onde tirou proveito da situações bem vindas e de grande valor humano para a vida.

Os acontecimentos da vida particular influenciam a

vida profissional, da mesma forma que os acontecimentos advindos da profissão têm forte influência em sua vida pessoal (GOODSON, 1992).

Em mil novecentos e oitenta e quatro se casou com o Senhor José Arthur Firme e se mudou para outro município, Cariacica, onde se transferiu para a Escola São Jorge no rio Marinho, depois para a Escola Unidocente Castelo Branco .  Neste contexto, teve dois filhos: Juliana e Mariano. Onde atualmente é avó de uma neta com dez anos de idade.

Em mil novecentos e oitenta e seis, se mudou para Cobilândia, um bairro de Vila Velha ES., onde se transferiu para a UMEF Pedro Herkenhoff, onde participa ativamente desta comunidade até o momento deste ano de dois mil e dezessete.

Percebendo sua vontade e grande vocação, antes, no ano de dois mil realizou a Faculdade de Pedagogia na UFES / NEAD, onde se favoreceu tecnicamente do conhecimento.

Em dois mil e onze, se aposentou no Estado do ES. Ainda na construção dos sonhos, realizou um concurso público em dois mil e quatro, onde se colocou também como professora na Prefeitura Municipal de Vila Velha, onde assumiu sua função na UMEF Leonel de Moura Brizola, Trabalhando até se transferir para a UMEF Pedro Herkenhoff, onde permanece. Dito acima.

Morando em Cobilândia, participou o Centro Comunitário com  a Senhora Cleide e Senhor Alcides, realizando trabalhos filantrópicos tristibuindo ajudas advindas do Governo. Palestras com médicos, pesagem de crianças.

Nessa época se filiou ao Partido PMDB, que enquanto adolescente foi influenciada pelo seu pai, que falava muito e também era filiado. Participou de algumas reuniões e convenções de partidos. Mas como política é complicada na sua opinião, preferiu se afastar e desistir da filiação. Hoje não tem preferências políticas e nem filiação evidente.

Na educação sempre trabalhou com crianças. Tem a convicção que consegue leva-los ao patamar mais alto e que pode mudar o mundo dessas crianças e jovens. Acredita que pode fazê-los entender melhor o seu mundo e com isto reverter muitas possibilidades infundadas em raízes de um crescimento nobre e constante. Acredita na criança, cidadão do futuro. Acredita que pode ajuda-los a se construírem como humanos melhores. Tenta participar do seu dia a dia, como professora, pessoa e os ajuda em particular até nas suas necessidades familiares. Oferecendo-lhes o apoio necessário.

Nunca teve a pretensão de ser Diretora Escolar, Entende que pode mais e melhor na sua função de Educadora, Professora. Percebe e tem a consciência que os processos burocráticos atrapalham o desenvolvimento da Escola e as respostas que deveriam ser imediatas, muita das vezes são burocratizadas e alienadas, desfazendo o processo e negligenciando as respostas. Demora-se muito. No dia a dia , muitas vezes não cabem os processos, daí, a necessidade de se construir esta paciência. Muita das vezes, a comunidade a procura para que resolva algum assunto, porque acreditam na sua função e a conhecem por muitos anos estando no cargo, nesta Escola. Respeitam e a consideram por permanecerem com a professora Neuza por mais de 20 anos. Este tempo, provoca confiança, segurança da comunidade e denota credibilidade de uma professora dedicada como esta. Percebem o seu potencial.

No decorrer desse tempo, lecionou para os pais dos alunos de hoje, registrando o trabalho por gerações, adquirindo seguidores e multiplicando saberes. Ainda caminhando.

 

CONCLUSÃO

Analisando a história de vida de um profissional entendemos que, apesar dela ser única e singular, pode ser visualizada também como uma trajetória com alguns pontos fortes, principalmente quando estes são encontrados em outras histórias de vida profissional. Tais pontos podem servir como um exemplo para futuras gerações de professores.

Cabe-nos, entretanto, evidenciar que existe uma "interpenetração de vida pessoal, profissional e que "os relatos não são lineares nem simétricos nos diferentes momentos das trajetórias mas permitem uma visão, senão global, pelo menos a mais aproximada possível da trajetória de vida (MIZUKAMI, 1996, p.89).

Todos os momentos deste trabalho foram importantes, a Professora Neuza criou vínculos, constituiu família e se colocou no lugar do outro. Teve a certeza de ser Educadora e pleiteou o tempo todo este caminho na sua vida. Construiu os seus sonhos e superou os obstáculos, conseguindo permanecer em foco, estabelecendo condições e aprendendo a cada instante. Hoje, tem a certeza de um caminho a ser seguido e acredita que influenciou positivamente muitas vidas. Construiu seus sonhos e alimentou suas rotinas. Acreditando sempre que a Educação acontece e que pode mudar o mundo. Continua caminhando.

Inicialmente levantamos os pontos intrínsecos à pessoa desta professora. A importância da escolha profissional, que deve ser consciente e não a vocação imposta por pais ou pela sociedade. Amor e respeito pelos alunos. Ninguém ensina a outrem a gostar. A afetividade e o respeito são necessidades intrínsecas a quem se propõe a educar. A importância da experiência. Apenas através da experiência o professor poderá encontrar seu jeito de dar aula. Ao acumular habilidades de docência o mesmo estará formando sua personalidade profissional que só pode ser adquirida "por aquela pessoa".

 

Entendemos com isto que a Professora Neuza Paiva Firme se colocou na direção e esteve por lá todo tempo da sua vida. Acreditou e possuiu respostas que a levaram a estar convicta das suas construções.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

GOODSON, I.F. Dar voz ao professor: as histórias de vida dos professores e o seu desenvolvimento profissional In: NÓVOA, A. (org.) Vidas de professores. Porto: Porto 1992

 

HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores In: NÓVOA, A. (org.) Vidas de professores. Porto: Porto,1992

 

MIZUKAMI, M. G. N. Docência, trajetórias pessoais e desenvolvimento profissional. In: REALI, A. M. M. R.; MIZUKAMI, M. G. N.(org.) Formação de professores: tendências atuais. São Carlos: EDUFSCar, 1996.

 

 

PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação. Perspectivas sociológicas.

Lisboa: Dom Quixote, 1993.

 

*Professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, Pedagoga, Psicopedagoga, Especialista em Libras e Gestora Escolar.