Uma sugestão ao professor de Geografia para 11ª classe:   

 Demonstração de alguns constituintes físicos do solo em escolas sem laboratórios convencionais

 

Por Mário Silva Uacane

Msc em Ciências agro-florestais, Universita Politecnica delle Marche, Itália 2008/9

Licenciado em ensino de Geografia e Historia pelo extinto ISP, actual UP, 1990/5, Maputo

Docente da UP-Beira departamento de ciências Sociais

 

 

                                                                                                       

Resumo

O artigo que aqui se apresenta é uma sugestão de apoio aos professores de geografia das escolas sem laboratórios convencionais para ministrarão de conteúdos sobre solos.O estudo afigura-se como primeira provocação para publicação sistemática de ideias em forma de roteiros de experiencias práticas a realizar nas escolas secundárias desde o estudo físico do solo aos conteúdos afins. Neste número do Chiveve inicia-se com o roteiro sobre a identificação de constituintes físicos do solo como proposta a aplicar na 11ª classe do ensino secundário Geral e mesmo em círculos de interesse em qualquer escola onde isso se faça necessário, alias, saber não ocupa lugar.

 

 segundo Solon, o homem nascem cresce e morre aprendendo;

                   Palavras-chave: constituintes do solo; material de fácil acesso, solo

Introdução

O presente artigo surge no contexto de abrir uma cadeia de pequenas e modestas sugestões aos colegas professores de geografia que estando em escolas sem laboratórios convencionais vêem-se confrontados com a falta de meios alternativos para ministrar determinados conteúdos da geografia, especificamente na área de solos.

Sabe-se que a geografia como tantas outras ciências espaciais necessita de trabalhos práticos de observação ao meio. Nessa mesma ordem enquanto algumas praticas se socorrem da realidade próxima do aluno, outras requerem produção de experiencias mesmo que por via de simulação mas que sejam observáveis para permitir aprendizagem de determinados conceitos tidos como básicos para essa matéria.

Assim o autor pretende partir para uma cadeia de sugestões de roteiros para o estudo físico do solo que possam ajudar aqueles colegas que disso se interessarem para as suas aulas conforme a sua realidade.

 

Apoio ao professor de Geografia das escolas Secundárias

O autor parte do princípio de que as instituições de ensino superior em Moçambique, em especial as vocacionadas na formação de professores, como a Universidade Pedagógica, podem auxiliar os professores de Geografia do Ensino secundário Geral na resolução do crónico problema de leccionação de conteúdos que a partida exigem práticas laboratoriais como é o caso do estudo físico do solo introduzindo assim conceitos essenciais sobre essa matéria.

Assim, programas de apoio didáctico e metodológico aos professores das escolas Secundarias podem constituir pontos de partida para disseminação de algumas práticas científicas. Por essa via, ensino de conteúdos sobre solos, principalmente no tocante ao estudo físico do solo, em escolas sem laboratórios convencionais pode chegar aos possíveis necessitados podendo assim contribuir na melhoria da qualidade do ensino.

De recordar que, em Moçambique, a maior parte das escolas não tem laboratório e principalmente no meio rural. E nisso, temos um grosso número de professoras virados a reprodução do que está no livro do aluno.

Ora, o facto de professores estarem reproduzindo os conteúdos de solos inadequados, desfasados ou incorrectos existentes nos livros didácticos é, em parte, consequência da própria formação que estes receberam (….). Esses professores não desenvolveram habilidades, bem como não têm tempo ou oportunidade, para buscar outras fontes de informação além dos livros didácticos ou para avaliar a incompatibilidade dos mesmos na área de solos (AMORIM e MOREAU, 2003). 

 Mas, podemos associar este problema ao facto de que nas escolas Moçambicanas a falta de laboratórios “ é um problema generalizado desde as rurais às urbanas, não significando isso, que não se esteja a fazer o mínimo para superar essa dificuldade.

 

Apoiando ao professor

As instituições do ensino superior como a UP, podem contribuir na superação de algumas das dificuldades que parte dos professores de geografia [senão outros, até…] na melhoria dos seus trabalhos de leccionação de conteúdos sobre solos mesmo em escolas sem laboratórios convencionais desenhando actividades de extensão para as escolas rurais (projectos, programas, eventos, cursos ou publicações) que possam auxiliar na melhoria da capacitação do professores para compreender e ensinar temas sobre solos em várias classes, bem como ajudar a desenvolver recursos didácticos sobre solos para o Ensino Secundário.

A principal contribuição das instituições de Ensino Superior, no sentido de auxiliar os professores do Ensino secundário a melhorar o ensino de solos, é repensar e redefinir o direccionamento no qual estão sendo formados os futuros professores, que irão actuar no ensino de solos na escola Moçambicana.

 Partindo deste fio de pensamento o autor deste artigo coloca a sugestão de socialização de praticas de carácter mais básico baseada em material de fácil acesso tendo em conta a realidade e especificidade de cada escola e conteúdos a ministrar.

 

Procedimentos para identificar os constituintes do solo

O solo é formado a partir da rocha (material duro que também conhecemos como pedra), através da participação dos elementos do clima (chuva, gelo, vento e temperatura), que com o tempo, e a ajuda dos organismos vivos (fungos, líquens e outros) vão transformando as rochas, diminuindo o seu tamanho, até transformá-la em um material mais ou menos solto e macio, também chamado de parte mineral.

Da mesma forma e ainda por acção de microrganismos, restos de animais e vegetais vão sofrendo decomposição, formando o húmus, ou seja, a matéria orgânica presente no solo.

Portanto, o  solo é uma mistura de vários minerais, matéria orgânica e água capaz de manter a vida das plantas na superfície terrestre. É o produto final das acções dos processos físicos, químicos e biológicos que degradam as rochas e em grande parte produzem minerais.
A fração sólida do solo possui aproximadamente 5% de matéria orgânica e 95% de matéria inorgânica. Alguns solos podem conter até 95% de material orgânico ou menos de 1% desse material.

Os solos típicos mostram camadas características com o aumento da profundidade. Estas camadas são chamadas horizontes; os horizontes formam-se como o resultado de interações complexas que ocorrem devido ao desgaste do solo provocado pelas mudanças ao longo do tempo.

“Os solos são formados por quatro componentes principais: os minerais, a matéria orgânica, a água e o ar. Estão presentes ainda microrganismos importantes na preservação e na fertilidade do solo” (LABORATÓRIO ABERTO, 1988:1).

Uma das formas para perceber que de um horizonte para outro num mesmo perfil ou em perfis de solo diferentes, que os constituintes vão variando, passa-se por uma observação comparada utilizando instrumentos adequados para proceder as devidas experiencias.

Mas, como as nossas escolas em Moçambique passam por realidades muito heterogéneas, algumas tem laboratórios convencionais mas outras não os têm. É dessas escolas que não tem laboratórios que vão as sugestões apresentadas neste artigo.

Para identificação de constituintes do solo, na falta de laboratórios com material convencional, sugere-se o recurso ao material de fácil acesso, como se procede logo a seguir:

Problema

Como é constituído o solo do Horizonte A e o do Horizonte B?

Investigação

Material

A amostra do solo colhida no Horizonte A; a amostra colhida no Horizonte B; dois frascos de vidro de boca larga A e B; no lugar de proveta graduada sirva-se de uma régua graduada para marcar num copo transparente como se estivesse a marcar a sua graduação, para marcar o limite de água a usar na experiencia; duas simples varetas em substituição de duas varetas de vidro; duas colheres; etiquetas.

Procedimento

a)      Mede, com o copo graduado por si, iguais quantidades de água e deite-as nos frascos de vidro A e B em iguais quantidades.

b)      Deite com uma colher no frasco A, cerca de 2 colheres de solo da amostra do Horizonte A, e, no frasco B, com outra colher, cerca de 2 colheres de terra da amostra do Horizonte B.

c)      Com a vareta, agita o conteúdo de cada frasco e deixa-os, depois, repousar durante dois minutos.

Que observas:

  • No frasco A?
  • No frasco B?Foto: Autor

 

Como interpretas as diferenças observadas?

Possíveis cenários a observar nessa experiência:

Quando as amostras dos solos são lançadas na água, os seus constituintes separam-se conforme são mais ou menos pesados:

  • O ar sobe na água e liberta-se sob a forma de bolhas;
  • Os fragmentos de húmus flutuam a superfície da água porque são mais leves;
  • As partículas da argila mais finas flutuam, turvando a água;
  • As areias e outros elementos mais pesados depositam-se no fundo.

Desta forma, o professor de geografia pode explicar com base na observação directa os principais constituintes do solo uma vez realizada experiência. Por esta via o aluno pode entender que alguns constituintes do solo flutuam (principalmente restos de seres vivos secos e não mineralizados) enquanto outros sedimentam de imediato (basicamente os pesados e mineralizados) e outros ainda passam muito em forma de solução líquida no seio da água (as partículas finas do tipo argila) para além de bolhas de ar que se libertam dando lugar a agua nos espaços intersticiais do solo inicialmente seco (ar).

Por esta via o aluno pode perceber que os constituintes do solo variam de um horizonte para o outro tanto no mesmo perfil como homónimos horizontes mas em diferentes perfis.

As instituições de Ensino Superior também podem contribuir, por meio de acções como cursos e eventos de educação continuada, elaboração de publicações, desenvolvimento de experiências, organização de exposições didácticas, e disponibilizando informações por meio da internet, dentre outras actividades. Disso, vão os exemplos de actividades de pesquisa e extensão universitária, “Programa de Portas Abertas” que a Universidade Pedagógica têm estado a desenvolver anualmente atraindo para isso diversas individualidade entre alunos, professores, gestores da educação, entre outros.

Bibliografia

UFVSF, ABC na Educação Cientifica Mão na Massa, Relatório Cientifico-convenio 043/2005 Universidade Federal do Vale do São Francisco, 2005, Brasil

ABREU, Â. O ensino de solos nos níveis fundamental e médio: o caso da Escola Estadual

Cidade dos Meninos. Monografia (Licenciatura Plena em Geografia) - Universidade Federal de

Minas Gerais, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, Belo Horizonte. 2000.

ABREU, M.C.; MASETTO, M.T. O professor universitário em aula: prática e princípios teóricos. 8. ed. São Paulo: MG Editores Associados, 1990.

AMORIM, R.R.; MOREAU, A.M.S.S. Avaliação do conteúdo da ciência do solo em livros didácticos de geografia do Ensino Médio. in: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, FÍSICA APLICADA, 10., Rio de Janeiro, 2003. GEO-UERJ - Revista do Departamento de Geografia, n. especial, p. 74-81, 2003.   Disponível em  http://geografia.igeo.uerj.br/xsbgfa/cdrom/eixo1/1.1/119/119.htm

FERREIRA, M. G. V. X. Ensino de solos: uma visão global. In: MONIZ, A. C.; FURLANI, A. M. C.; FURLANI, P. R.; FREITAS, S.S. (eds.). A responsabilidade social da ciência do solo.

Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1988. P.187-191. disponível em http://www.augustocoimbra.xpg.com.br/ROTEIROS_GMF.pdf

FONTES, L. E. F.; MUGGLER, C. C. Educação não formal em solos e o meio ambiente: desafios na virada do milénio. In: CONGRESO LATINOAMERICANO DE LA CIENCIA DEL SUELO, 14, 1999, Pucón (Chile). Resumenes. Temuco: Universidad de la Frontera, 1999. p. 833.

 LABORATÓRIO ABERTO –GEPEQ - IQ - USP.  ,     Química nova na escola :  experimentos sobre solos  n° 8 ,  Novembro ,  Estacão Ciência , 1998.

SILVA, E.G. et al. Importância da elaboração de materiais didácticos no ensino de solos para a Geografia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 6, Goiânia, 2004. Resumos.

Goiânia: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 2004.