Em um momento destes, me deparei com o século XXI. E neste esbarrar com o presente e na condição de um professor, me perguntei: o que devo ensinar nesses novos tempos a esses novos alunos? O que dizer da contemporaneidade que nos atravessa com tanta força e rapidez? Decidi primeiro refletir sobre algumas questões de nosso tempo, antes de tentar responder esta indagação.

            Começarei minha análise pelo tempo, ou melhor, pela especificidade desse tempo em que vivemos. Tempos líquidos como disse/diz o sociólogo Baumam onde aparentemente ou não, tudo tem perdido sua consistência e suas razões de ser. O sólido parece não ter mais força frente à modernidade. Ideias, tradições, valores, discursos diversos, leituras múltiplas do já passado/vivido, (re) elaborações de paradigmas em profunda e constante transformação, eis aqui uma das muitas características da modernidade. É nesse tempo e nesse contexto de mundo que nossos alunos e nós estamos inseridos.

            Inseridos nesse mundo do “conhecimento” e aqui entre aspas, pois acredito seriamente na distinção entre informação e conhecimento, é sempre bom frisar esta questão. Neste turbilhão de informações veiculadas pelo mundo a nossos alunos, a “verdade” do professor deixou de ser a” verdade absoluta” e inquestionável como acreditavam os antigos mestres e educandos no auge de suas práticas autoritárias. Hoje a gama de informações e os lugares de acesso a ela já não são mais um problema. O aluno pode sim aprender sozinho. Aqui surge uma pergunta: então com todas essas mudanças o professor perde seu posto de orientador/educador? Do papel de mediador na construção do conhecimento? De maneira nenhuma! Jamais! Mais do que nunca a prática do professor consciente do mundo e de si, faz-se mais que urgente e entenderemos o porquê.

            Digo urgente, porque tudo isso parece muito bonito e coerente, muito ordenado e em seus devidos lugares. Digo urgente, pois contraditoriamente ao mesmo tempo em que temos assistido a uma maior “escolarização” e uma pseudo-educação crítica, temos assistido a idiotização de grande parte de nossa sociedade como nunca antes vista em nossa nação. Direi por quê.

            Idiotização porque quando acreditávamos que a alienação estava em seu processo de decadência, ela mostrou-se em grande ascensão no Brasil, de forma gigantesca e inquestionável, entre muitos com nível superior de educação e entre os próprios professores. Assim sendo o que esperar de nossos alunos? Nada, se não seres não-pensantes, não-problematizadores e acríticos.

            Não posso acreditar neste avanço educacional quando vejo milhares de cidadãos, inclusive alunos, tomando as ruas de nosso país pedindo: INTERVENÇÃO MILITIRAR JÁ! QUEREMOS A VOLTA DA DITADURA! Não posso acreditar em uma educação de qualidade e libertária quando tenho esse fato como reflexo de nosso tempo. Não posso crer nos supostos avanços da formação do senso crítico de nossos alunos e na formação docente libertadora, quando vejo muitos, apoiando as ideias fascistas, preconceituosas, homofóbicas, machistas e racistas do “pseudo-mito” de nossos dias  e o fariseu-mor .

            Quando vejo a intolerância religiosa ser praticada por aqueles que deveriam respeitar o direito do outro de ser e dizer como bem queiram. Quando vejo professores corruptos que não comparecem à escola pública para ministrarem suas aulas que lhe são devidas e obrigatórias e que recebem por elas, tratando seus alunos com indiferença, mas que nas escolas particulares,  só não brilham mais que as estrelas porque não podem. E quanto à escola pública? Dane-se a escola pública! É mais ou menos assim que pensam.

            Como poderei acreditar na consciência crítica de nosso tempo, quando vejo um governador incompetente abrir um concurso público sem vagas para as ciências humanas e permitindo que qualquer um que saiba contar 2 + 2 ensine matemática, ferindo claramente a LDB desse país? É, as ciências humanas são perigosas e eles sabem disso. Uma sociedade sem pensar é muito mais fácil de ser manipulada.

            Não consigo acreditar nesse progresso de nossos dias, dessa sociedade da informação que enchemos a boca para exaltá-la. Quando vejo que este país ainda não aprendeu a conviver com um sistema democrático de governo. Quando percebo que este país ainda vive e respira uma cultura de golpes como aquele de 1889, como aquele de 1964 mais conhecido como DITADURA MILITAR. Não posso crer na seriedade de nossas escolas e desse país, quando vejo uma elite apoiada muitas vezes por pobres que não têm se quer onde caírem mortos tramando o IMPEDIMENTO OU MELHOR IMPEACHMENT- não é essa a palavra da moda? - de uma presidenta eleita democraticamente com mais de 54 milhões de votos da população brasileira.

É nessa sociedade de espetáculos e palhaças que nossos alunos do século XXI estão inseridos. O que esperar deles em um futuro muito breve? O que esperar deles enquanto sociedade e futuros formadores deste país? O que esperar mais deste século? E aqui retomo minha pergunta primeira: o que devo mesmo ensinar a eles? Minha resposta contém apenas duas palavras: NÃO SEI!

Embora não sabendo o que ensinar, continuarei sempre, sempre e incessantemente acreditando na famosa e verdadeira frase do maior educador que este país já conheceu: Paulo Freire:

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, torna-lo sério, humaniza-lo, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho inviabilizando o amor. Se a EDUCAÇÃO sozinha não transformar a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda.”

YAGO FELIPE CAMPELO DE LIMA-

Graduado em Licenciatura Plena em História pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru – FAFICA. Mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.

Professor na rede municipal de ensino de Caruaru-PE.

E-mail: [email protected]