UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A DISTÂNCIA – EAD

POLO ARROIO DOS RATOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

UMA NOVA PERSPECTIVA SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL

 

 

 

 

 

CHIRLEI BORBA MACHADO

 

 

 

 

 

 

Charqueadas, 2015

 

Chirlei Borba Machado

 

 

 

 

 

EDUCAÇÃO INFANTIL: JARDIM I

 

 

 

 

 

 

 

 

Supervisor do estágio CLPD: Lilian Lorenzato

Supervisor do Estágio Escola: Ivana Souza Ribeiro

 

 

 

Charqueadas, 2015.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Equipe Docente Responsável:

Luçaires Czermainski Gonçalves

Cátia Cilene Azeredo dos Santos Alves

Sabrina Pfingstag Barth

Tais Schons Burkard

 

 

Resumo

           

                   O presente trabalho tem por objetivo sistematizar as experiências vivenciadas na Escola Municipal de Educação Infantil Santo Antônio durante o processo de estágio curricular obrigatório em Educação Infantil, do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância da Universidade Federal De Pelotas, realizado na turma de Jardim I, com alunos de faixa etária entre quatro e cinco anos, na cidade de Charqueadas. Com o intuito de adquirir experiência docente e evidenciar a complexidade envolvida durante a prática docente, o trabalho apresentado busca traçar um paralelo entre as teorias de importantes pensadores em educação com as práticas desenvolvidas na escola parceira, cenário de desenvolvimento da metodologia de pesquisa ação-participante e aplicação de práticas pedagógicas diferenciadas relacionadas com a atual proposta de educação holística da escola, bem como refletir criticamente a partir de um confronto entre teoria e prática. Durante o período de estágio a proposta de trabalho desenvolvida foi a de otimizar o trabalho docente desenvolvido, tornando o processo de ensino aprendizagem dos alunos mais significativo e emancipatório durante o período de estágio curricular, bem como evidenciar de forma concreta a realidade encontrada e as estratégias desenvolvidas para continuidade da qualidade do trabalho pedagógico aplicado na escola.

 

 

Palavras chave: Estágio; ensino; aprendizagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sumário

Apresentação.. 6

1 Contextualização.. 7

2 Etapa de ensino.. 9

2. 1 Currículo na educação infantil 10

3 Processo de Ensino.. 13

3.1 Pesquisa do Entorno.. 13

3.2 Planejamento.. 13

3.3 Avaliação.. 15

4 Aprendizagem dos alunos. 17

5 Trabalho docente. 19

Conclusão.. 20

Referências bibliográficas. 22

 

 

 

 

 

 

 

Apresentação

           

                   O texto em forma de artigo tem como intenção sistematizar o processo de estágio curricular obrigatório ocorrido na Escola Municipal de Educação Infantil Santo Antônio, na turma de Jardim I, na cidade de Charqueadas, apresentando as reflexões e conclusões construídas a partir de um confronto entre os referenciais teóricos apresentados no PPP da escola, os referenciais teóricos estudados até então no CLPD da UFPEL e a realidade concreta da turma e da escola parceira, observadas ao longo do curso e aprofundadas durante o processo de estágio curricular realizado na escola. Para tanto, o texto será organizado em 5 partes, sendo que a primeira abordará uma contextualização da realidade da escola parceira, bem como sua proposta de educação, a segunda parte do trabalho abordará sobre a organização do processo pedagógico na etapa de educação infantil, a terceira parte discorrerá sobre o processo de ensino e suas demandas ao professor mediador, a quarta especificará como se deu a aprendizagem dos alunos durante o processo de estágio e a quinta parte, abordará a complexidade envolvida durante o trabalho docente. 

                   As ideias trazidas no texto apontam também, um olhar prospectivo, que alimentado durante o curso por ideais de uma educação mais significativa e de qualidade, indica um inédito viável para as ações docentes na perspectiva de autonomia, alteridade e criticidade frente à profissão docente. O discurso não se esgota por aqui, com certeza, mas possibilita boas reflexões acerca de nosso papel enquanto protagonistas de nossos fazeres.

 

 

1 Contextualização

A Escola Municipal de Educação Infantil Santo Antônio, fica localizada no bairro Santo Antônio, na cidade de Charqueadas. Os alunos atendidos pela escola têm entre um ano de idade, completos até 31 de março e seis anos incompletos. A escola atende em média 113 alunos divididos nas seguintes turmas:

Berçário II – Alunos atendidos em turno integral com idade entre um e dois anos;

Maternal I – Alunos atendidos em turno integral com idade entre dois e três anos;

Maternal II – Alunos atendidos em turno integral com idade entre três e quatro anos;

Jardim I – Alunos atendidos meio turno (manhã) com idade entre quatro e cinco anos;

Jardim II – Alunos atendidos meio turno (manhã) com idade entre cinco e seis anos incompletos;

Mista A – Alunos atendidos meio turno (tarde) com idade entre dois e quatro anos;

Mista B – Alunos atendidos meio turno (tarde) com idade entre quatro e seis anos incompletos.

A escola localizada no bairro Santo Antônio, possui uma boa infraestrutura, com ruas asfaltadas, linha de ônibus circular, posto de saúde, mercados, igreja católica, templo evangélico, centro espírita, centros de umbanda, uma empresa de médio porte e, além da Escola municipal de educação infantil Santo Antônio, possui uma escola municipal de ensino fundamental. A maioria das famílias dos alunos da escola possui casa própria, trabalham nas empresas da cidade e também há muitos pais profissionais autônomos. A energia elétrica, o serviço de internet, telefonia fixa e correios existem de forma básica. A maioria dos alunos da escola mora no bairro, mas devido ao sucesso da proposta pedagógica da escola na cidade, muitas famílias de outros bairros buscam matricular seus filhos almejando uma educação mais de acordo com o que acreditam ser uma educação de qualidade. No ano de 2014 quando assumiu o novo secretário de educação do município ocorreram algumas mudanças com relação ao direito ao ingresso pelos alunos nas escolas municipais de educação infantil do município. Enquanto outrora era necessário enfrentar uma fila de espera um dia antes da data estipulada para realizar as matrículas, sendo necessário pernoitar nas calçadas em frente às escolas para garantir uma vaga para os alunos, após as mudanças estipuladas pelo novo secretariado e aprovadas pelo conselho municipal de educação, novas regras foram criadas para garantir o direito ao ingresso de novos alunos com a criação de um processo de seleção classificatório, de forma que ficou estipulado um sistema de pontuação, determinando que aquele aluno que atingisse maior pontuação dentro da classificação teria garantido o seu direito de matrícula na rede pública de educação infantil do município. A pontuação máxima enquanto requisito para garantir o acesso à vaga é determinada de acordo com a realidade da família do aluno, sendo atribuídos cinquenta pontos para família cuja mãe trabalha fora de casa, vinte pontos para a família que reside dentro da área de abrangência da escola cuja vaga é pretendida, vinte pontos para família que participa de programas de auxílio de renda do governo federal (bolsa família) e dez pontos para a família que já tem um membro devidamente matriculado na escola pretendida. Somando no total uma pontuação de cem pontos e em casos de empate o aluno mais velho tem a preferência. A partir dessa nova realidade de ingresso nas escolas públicas municipais, acredito que a tendência é que cada vez mais as escolas fiquem regionalizadas, divididas por zoneamento.

O espaço físico da escola é muito bem aproveitado pedagogicamente pelas educadoras e alunos, é dividido fisicamente em cinco salas de aula; sala da direção e dos professores; sala de multiatividades; cozinha; refeitório; quatro banheiros e praça. A escola também subdivide a sua área de pátio aberta em pequenos espaços construídos com o olhar específico para o desenvolvimento da proposta de educação holística desenvolvida na escola, como os viveiros de animais, a horta, a composteira, a estufa, as floreiras, o recanto da culinária e o telhado vivo. Cada um desses espaços é utilizado diariamente pelas educadoras, nos mais diversos projetos de estudos elaborados por cada turma da escola, de forma que todos os projetos de estudos propiciem a utilização, manutenção e desenvolvimento desses espaços, além de oportunizar aos alunos vivências práticas através de atividades envolvendo os espaços permaculturais.

A turma onde se realizou a prática de estágio, de Jardim I, é composta por 17 alunos, a professora titular e uma monitora. No geral a turma é tranquila, os alunos são participativos e interessados. A professora procura sempre manter uma rotina, tanto de dinâmicas pedagógicas como as combinações da turma. A professora aproveita cada momento durante a aula para trabalhar todos os aspectos pedagógicos, morais e sociais com a turma, não desperdiçando assim nenhum comentário ou ação realizada pelas crianças.

Durante o processo de estágio foi possível perceber algumas especificidades dos alunos, como a aluna N. que apresenta uma dificuldade de concentração em atividades que necessitam de algum tempo na mesma posição, como a hora da rodinha, em que as crianças se posicionam sentadas em forma de círculo no tapete da sala. Durante esse momento as crianças cantam, realizam a chamadinha, o calendário, contam histórias, etc. A aluna L. apresenta pequena dificuldade de coordenação motora devido a uma má formação congênita ocasionada provavelmente devido ao fato da sua mãe ser usuária de drogas durante o período da gestação, segundo relato da avó paterna, durante uma entrevista com a professora, realizada anualmente com todas as crianças da escola como forma de conhecer melhor as especificidades dos alunos.

As famílias atendidas pela escola no geral são de classe média baixa e média.                

2 Etapa de ensino

Após as mudanças ocorridas em todo o mundo com a revolução industrial ocorreu um avanço no Brasil com relação ao atendimento dado às crianças na fase da primeira infância, passando a ser um atendimento especializado para as crianças de zero a seis anos de idade. Somente a partir desse período a criança começou a ser percebida como indivíduo diferente dos adultos e suas especificidades começaram a ser reconhecidas. No entanto muitas ideias sobre a infância começaram a se caracterizar delineando assim o perfil social dessa faixa etária:

[...] o que se pode perceber é que existiram para justificar o surgimento das escolas infantis uma série de ideias sobre o que constituía uma natureza infantil, que, de certa forma, traçava o destino social das crianças (o que elas viriam a se tornar) e justificara intervenção dos governos e da filantropia para transformaras crianças (especialmente as do meio pobre) em sujeitos úteis, numa sociedade desejada, que era definida por poucos. De qualquer modo, no surgimento das creches e pré-escolas conviveram argumentos que davam importância a uma visão mais otimista da infância e de suas possibilidades, com outros objetivos do tipo corretivo, disciplinar, que viam principalmente nas crianças uma ameaça ao progresso e à ordem social (Bujes, apud Lucimary Bernabé Pedrosa de Andrade, pág. 128).

2. 1 Currículo na educação infantil

 

O currículo na educação infantil deve abranger as múltiplas linguagens características dessa faixa etária, de forma que sejam trabalhadas dentro da pluralidade de concepções que abrangem as mais diversas propostas de atividades de desenvolvimento da linguística da criança. Para uma melhor associação dos conteúdos em educação infantil este necessita ser trabalhado de forma integrada, de forma que todos esses conteúdos se relacionem entre si durante o processo de aprendizagem dos alunos e dessa maneira a criança consiga relacionar o objeto de estudos com o cotidiano em suas vivências.

            Segundo trata os referenciais curriculares nacionais para educação infantil:                

As diferentes aprendizagens se dão por meio de sucessivas reorganizações do conhecimento, e este processo é protagonizado pelas crianças quando podem vivenciar experiências que lhes forneçam conteúdos apresentados de forma não simplificada e associados a práticas sociais reais.É importante marcar que não há aprendizagem sem conteúdo. [...] Nesta perspectiva, este Referencial concebe os conteúdos, por um lado, como a concretização dos propósitos da instituição e, por outro, como 4um meio para que as crianças desenvolvam suas capacidades e exercitem sua maneira própria de pensar, sentir e ser, ampliando suas hipóteses acerca do mundo ao qual pertencem e constituindo-se em um instrumento para a compreensão da realidade. Os conteúdos abrangem, para além de fatos, conceitos e princípios, também os conhecimentos relacionados a procedimentos, atitudes, valores e normas como objetos de aprendizagem. A explicitação de conteúdos de naturezas diversas aponta para a necessidade de se trabalhar de forma intencional e integrada com conteúdos que, na maioria das vezes, não são tratados de forma explícita e consciente (RCNEI,1998,p. 48-49).

           

Percebi que a escola parceira busca trabalhar o currículo de forma integrada fugindo da tradicional fragmentação, que dificulta uma associação entre os conteúdos e a realidade concreta dos alunos, também parte do princípio de que para aumentar o estímulo a aprendizagem precisa priorizar o interesse dos alunos.

            Segundo o projeto pedagógico da escola:

A E.M.E.I. Santo Antônio tem como objetivo geral assegurar à criança atividades curriculares estimuladoras proporcionando condições adequadas para promover o bem-estar e o desenvolvimento da criança, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual, linguístico, moral e social, mediante a ampliação de suas experiências e o estímulo ao interesse pelo conhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade. (PPP E.M.E.I. Santo Antônio-2014-2015, pág.3)

Percebo que a escola busca através de dinâmicas de consenso estimular o senso crítico e o exercício da cidadania entre os alunos, bem como estimular a resolução de conflitos através do diálogo entre eles como estratégia de intervenção.

            A proposta curricular da escola parceira abrange as seguintes áreas do conhecimento a serem desenvolvidas:

            Artes (exercitando a sensibilidade e criatividade); Autoconhecimento (massagem e dança circular percebendo a si e o outro); Culinária (entendendo os processos de transformação); Roda de estudos (aprofundando conhecimentos de forma prazerosa); Aula Passeio (vivenciando na prática); Jogos matemáticos (estimulando o raciocínio lógico); Histórias Contadas (incentivando a linguagem oral entendendo a função social da leitura e escrita); Brinquedo Livre (incentivando a resolução de conflitos e socializando brinquedos, vivenciando situações reais através do jogo simbólico).

                        A etapa de ensino de Educação Infantil, na qual foi realizado o estágio de prática docente I é a primeira etapa da educação básica, assim definida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, de acordo com a resolução n° 5, de 17 de dezembro de 2009:

Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNEI, 2010, pág. 12).

            Durante esta etapa da educação básica, assim como em outras etapas, é de fundamental importância o estímulo dos alunos em todos os aspectos: cognitivo; físico; intelectual; emocional; psicológico; moral; social; etc. Os alunos necessitam de vivências práticas que motivem o seu senso crítico, desenvolva a corporeidade; que desafie a sua curiosidade e incentive a sua criatividade, para que através de experiências concretas consigam construir e aprimorar conhecimentos se desenvolvendo de forma integral e se reconhecendo como sujeitos históricos, capazes de fazer a diferença na sociedade em que estão inseridos e não apenas reproduzir conhecimentos já construídos até então.

            Seguindo a teoria da epistemologia genética de Piaget (1970), que explica que a criança constrói novos conhecimentos a partir de sua interação com o meio externo, se defrontando assim com novas problematizações que desacomodam o conhecimento adquirido, e após essa desacomodação ocorra a assimilação de um conhecimento novo, construído a partir de um processo de acomodação e desacomodação dos saberes, permitindo então que o indivíduo através da interação com o meio adquira novos saberes culturais, éticos, morais, sociais, etc. Desta forma, acredito que a proposta pedagógica da escola parceira vem ao encontro das teorias de Piaget, quando propicia aos alunos vivências práticas relacionadas com a formação do ser, do social e do planetário. De forma que a criança através dessas experiências construa sua formação de forma autônoma e emancipatória, não apenas assimilando o conhecimento adquirido, mas sim construindo novos, oportunizando desta forma a sua historicidade.

           

3 Processo de Ensino

 

3.1 Pesquisa do Entorno

 

            O processo de ensino é um processo complexo e como tal precisa ser percebido pelo professor ao se deparar com sua escola e turma de docência. O professor precisa visualizar a escola e a turma na qual desempenhará seu papel docente através de um olhar curvo, ou seja, capaz de enxergar além do que os olhos conseguem ver e para tal se torna imprescindível que esse professor assuma uma postura de pesquisador.

            O professor pesquisador é aquele que busca juntamente com a comunidade escolar uma profunda apropriação da realidade vivenciada pelos sujeitos do entorno da escola, tendo em vista que a escola é um reflexo da comunidade e vice-versa. A escola enquanto instituição social tem a capacidade de interação e consequente transformação da realidade encontrada, tendo em vista que a escola é formada por sujeitos em constante processo de evolução e adaptação. Como Paulo Freire descreve em seu livro Pedagogia da Autonomia (2002-25° edição- pág. 14); “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.” Sendo assim, o professor ao assumir uma postura de pesquisador da realidade concreta da comunidade escolar obterá muitos subsídios para um planejamento de ensino significativo para essa comunidade na qual ele também está inserido, refletindo de forma crítica sobre os programas, de modo que a escolarização não se desfoque do contexto atual. Partindo desse conceito anteriormente ao início do processo de estágio, buscamos uma aproximação da comunidade escolar e da turma com a qual trabalhamos com o intuito de conhecer as especificidades da mesma e, consequentemente, obter subsídios importantes para utilizar no momento de aplicar e desenvolver práticas educativas condizentes com a realidade encontrada e, portanto construir uma aprendizagem significativa para todos.

           

 

3.2 Planejamento

 

            O planejamento na educação infantil é fundamental para organizar os objetivos que se desejam alcançar nesta fase. Cada etapa da primeira infância na educação infantil precisa ter seus limites e potencialidades estimuladas. Nesta fase da educação básica os cuidados básicos como higiene, alimentação e sono não precisam ser dissociados das atividades planejadas durante a rotina da turma, pois cada momento do aluno na escola deve ser encarado como um momento de estímulo ao desenvolvimento dessa criança. Cada momento planejado dentro da rotina da turma precisa ser percebido como uma provocação ao desenvolvimento dos alunos de forma integral.

Segundo Luciana Ostetto, (2000):

"Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para/com o grupo de crianças. Planejamento pedagógico é atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador repensar, revisando, buscando novos significados para sua prática pedagógica." (Encontros e encantamentos na Educação Infantil, 2000, p.177)

           

            Diante desta concepção sobre o planejamento e seu papel reflexivo no processo de ensino percebemos que este fundamentalmente necessita ser flexível, no sentido de propiciar uma constante adaptação a dinâmica da sala de aula e as necessidades e potencialidades dos alunos. Durante o processo de estágio curricular se fez necessário algumas mudanças no planejamento através das quais foi possível potencializar o processo de ensino, adaptando o planejamento elaborado aos imprevistos e necessidades, mas sem prejuízo aos objetivos pretendidos. 

            O processo de ensino e suas diferentes estratégias de intervenção são mecanismos muito complexos, pois dependem de muitas variáveis, como uma proposta de ensino que valorize o interesse e a realidade concreta dos alunos, uma formação de professores que propicie uma constante reflexão sobre o seu fazer docente, o reconhecimento e a valorização da diversidade encontrada na escola e o respeito às especificidades de cada aluno. Quando todas essas questões são trabalhadas de forma relevante pela escola o processo de ensino se torna mais significativo e com potencial elevado de qualidade.

            Diante disso durante o processo de estágio o planejamento foi organizado de forma efetiva após uma pesquisa sobre a realidade e especificidades da turma, com a orientação da professora titular que nos explicou a importância de manter a rotina das crianças, mantendo a estrutura metodológica de projeto de estudos escolhido pelos alunos em forma de consenso. E somente a partir da escolha do tema de estudos foi possível organizar a rotina semanal de estudos da turma. As atividades propostas necessariamente precisaram contemplar o tema de estudos escolhido pela turma, para isso foi preciso a realização de uma pesquisa de informações e atividades que contemplassem o tema e uma garimpada na escola de materiais concretos (livros, animais de pelúcia, jogos, etc.) que propiciassem aos alunos um aprofundamento de estudos sobre o tema escolhido.

            O planejamento durante o estágio também precisou ser flexível, se adequando às condições climáticas que impediram que fossem realizadas em determinados dias atividades na pracinha e passeio ao ar livre, possibilitando assim um maior desenvolvimento de nossa capacidade de contornar situações imprevistas, dinamizando a rotina, porém sem perder o foco nos objetivos almejados.

3.3 Avaliação

 

            A avaliação é parte fundamental do processo de ensino, pois quando utilizada de forma correta serve como estratégia de potencialização do mesmo, no entanto quando utilizada de forma tradicional apenas se restringe ao caráter classificatório e preconceituoso.

A avaliação dialógica deve ser um tipo de avaliação que considera múltiplos aspectos, como participação, desenvolvimento, criatividade, diferentes formas de expressão do conhecimento adquirido, dentre outros aspectos. De forma que o professor consiga através de um constante processo avaliativo perceber o desenvolvimento dos alunos de acordo com suas especificidades através de diferentes intervenções avaliativas. Por exemplo, quando um aluno é provocado a refletir sobre a leitura de um texto e como forma de reprodução dessa reflexão é proposto que elabore um outro texto e não consegue transmitir suas ideias, não quer dizer que esse aluno não compreendeu o texto lido, mas sim que possivelmente apresenta alguma dificuldade de expressão no uso da linguagem escrita. No entanto se o professor explorar as diferentes formas de expressão dos alunos na interpretação do texto e propor uma livre demonstração do conhecimento adquirido utilizando as múltiplas linguagens poderá avaliar de forma mais justa e significativa a interpretação do texto lido por seus alunos. Quando utilizada dessa forma avaliação se torna um método de constante reflexão da prática pedagógica e não apenas um mecanismo reprodutivo de um sistema avaliativo que rotula e discrimina, desconsiderando a integralidade do educando. Assim como caracteriza Jussara Hoffmann (1991),

A perspectivada ação avaliativa como uma das mediações pela qual se encorajaria a reorganização do saber. Ação, movimento, provocação, na tentativa de reciprocidade intelectual entre os elementos da ação educativa.Professor e aluno buscando coordenar seus pontos de vista, trocando ideias, reorganizando-as(HOFFMANN, 1991, p. 67).

            A avaliação tradicional é totalmente ultrapassada, pois não considera as múltiplas capacidades dos alunos, muito menos suas especificidades e não oportuniza aos professores uma reflexão sobre o processo de ensino aprendizagem.

            Na escola parceira a avaliação é feita através de pareceres descritivos elaborados pelos professores e supervisão que buscam descrever o desenvolvimento dos alunos ao longo de cada semestre, bem como detectar possíveis necessidades específicas dos alunos com o intuito de encaminhar para um atendimento especializado, caso necessário. Diariamente no seu planejamento o professor precisa elaborar uma reflexão sobre a dinâmica da turma, seu contexto, como aconteceu na prática as atividades propostas e suas observações a respeito da aula e dos alunos. Acredito que a escola parceira está de acordo com o que se considera uma avaliação construtivista, ou seja, que através dela se construa novas práticas ou novos métodos de intervenção pedagógica.

            A partir dessa reflexão sobre o processo avaliativo, a estratégia utilizada durante o processo de estágio curricular foi a de buscar uma avaliação que além de diagnosticar possíveis necessidades, também dialogasse com o processo de ensino aprendizagem para que de uma forma conjunta pudessem potencializar o mesmo. De forma concreta utilizamos a observação da aplicabilidade das atividades, bem como o envolvimento e desenvolvimento dos alunos em cada atividade, a interação com os alunos durante as atividades propostas e a resposta da turma com relação às atividades propostas. Dessa forma foi possível avaliar tanto o desenvolvimento da turma como diagnosticar algumas mudanças necessárias no planejamento, que no geral atendeu as necessidades e anseios, mas foi preciso se adaptar às demandas surgidas durante o processo de ensino aprendizagem, quando a turma demonstrou grande necessidade de desenvolvimento das linguagens artística e corporal.

 

4 Aprendizagem dos alunos                 

            O processo de aprendizagem dos alunos é um processo resultante de um ensino que mobilize para o aprender. Resultado de uma mediação docente que considera o nível, o ritmo do aluno, que resulta de uma proposta que promova o aprender do aluno através de sua própria construção, seus interesses e realidade de forma concreta e significativa. Considerando que cada criança possui uma capacidade de aprendizagem diferenciada. Cada criança constrói seu aprendizado através dos estímulos que recebe, da interação e troca com os colegas, os educadores e também com o ambiente no qual está inserida.

            Segundo Piaget (1980):

A relação cognitiva sujeito/objeto é uma relação dialética porque se trata de processos de assimilação (por meio de esquemas de ação, conceitualizações ou teorizações, segundo os níveis) que procedem por aproximações sucessivas e através dos quais o objeto apresenta novos aspectos, características, propriedades, etc. que um sujeito também em modificação vai reconhecendo. Tal relação dialética é um produto da interação, através da ação, dos processos antagônicos (mas indissociáveis) de assimilação e acomodação. (Piaget, 1980)

            O aluno aprende todo tempo, em todos os momentos e quando chega à escola traz consigo uma bagagem de aprendizados que serão confrontados com os novos saberes construídos durante a troca, interação dentro do espaço escolar e os estímulos recebidos. Proporcionando assim novas construções  para estimular o seu desenvolvimento, no entanto cada aluno possui sua própria capacidade de construir um novo conhecimento e cada um ao seu tempo, ou seja, cada criança em seu tempo poderá atingir todos os objetivos planejados pelo professor, mas cada uma responde de forma única aos estímulos recebidos do meio, sendo assim o professor precisa identificar o ritmo e a forma de aprendizagem dos alunos para então perceber o avanço que cada aluno obteve em determinadas áreas trabalhadas.

            Durante o processo de estágio curricular realizado na escola parceira foi possível evidenciar de forma prática a relação entre ensino e a aprendizagem de cada aluno individualmente, pois cada criança possui uma determinada forma de construção do saber. No tempo que um aluno realizava as atividades com presteza e necessitava de maior estímulo ao seu desenvolvimento, outro apresentava dificuldade de realizar as atividades propostas, como recortar utilizando a tesoura. Cada aluno de acordo com sua capacidade de aprendizagem necessita de diferentes formas de intervenção do professor para potencializar esse processo. Através desse conceito de aprendizagem individual, conseguimos aplicar as atividades propostas de forma que todos os alunos tivessem oportunidade de vencer seus próprios desafios, como a aluna que não conseguia desenhar e recortar e ao final do estágio avançou em seu aprendizado.

            As atividades propostas geralmente demandam um determinado tempo de realização, no entanto devido ao ritmo de aprendizagem único de cada aluno, precisamos ter um olhar atento durante a aplicação das atividades.

            Durante o estágio curricular ficou evidenciado que o tempo precisa ser um aliado e não um inimigo, ou seja, não podemos nos prender tanto no tempo, mas sim no desenvolvimento dos alunos, pois isto é verdadeiramente significativo para as crianças. Em meio à rotina de estudos, cada aluno apresentou uma forma diferenciada de realizar as atividades, como na hora de pintar um desenho, por exemplo, o aluno S. pintava de forma homogênea e lentamente, utilizando apenas duas cores em todo o desenho e foi preciso duas aulas para que conseguisse completar a figura, ao mesmo tempo em que a aluna R. escolhia cada cor para cada parte do desenho construído e sem se preocupar com as formas desenhadas. No entanto o tempo, a forma ou mesmo os recursos utilizados pelos alunos não eram o mais importante, mas sim o aprendizado, também adquirido pela aluna R com dificuldade de identificar as cores que ao final do período de estágio já conseguia fazer relação entre os tons de amarelo. E o aluno S, que apresentava problemas com a autoestima e ao final do estágio já não se negava a realizar as atividades alegando que não sabia fazer. Enfim, são apenas alguns exemplos de como o processo de ensino aprendizagem tem demandas que precisam se ajustar a complexidade dos sujeitos envolvidos nesse processo, sem desviar radicalmente dos objetivos traçados.

 

5 Trabalho docente         

 

            O trabalho docente é uma tarefa bastante complexa, pois para realizá-la com êxito é necessário levar em consideração múltiplos fatores que compõem o mesmo.

            Ao chegar em uma escola e receber a turma de trabalho, o professor precisa considerar as múltiplas etapas para a realização do trabalho docente, como a pesquisa; o planejamento; o processo de ensino aprendizagem, as especificidades de cada criança e a organização dos espaços da sala de aula.

            Durante o processo de estágio na escola parceira foi realizada uma pesquisa e observação da realidade da turma. No período de observação da rotina das crianças foi possível perceber algumas especificidades desta turma, que vem desde o ano de 2012 sendo trabalhada dentro da proposta holística aplicada na escola. A turma se mostra muito crítica e participativa, onde as crianças desenvolvem ativamente seus processos de construção de novos conhecimentos, de forma que nossa participação docente precisou atingir toda a sua potencialidade com o objetivo de atender as demandas e necessidades da turma como um todo, mas sem desconsiderar a diversidade existente entre os alunos, suas especificidades e possibilitando a inclusão de todos durante as atividades propostas, mediando o processo de ensino aprendizagem dos alunos, respeitando os níveis de desenvolvimento de cada aluno. A rotina da turma foi mantida, mas com uma potencialização das atividades propostas durante momentos determinados no planejamento, buscando trabalhar o tema proposto com brincadeiras e jogos, de forma lúdica.

            A turma onde foi realizado o processo de estágio curricular apresentou um diferencial significativo na realização do trabalho docente, que foi o ideal norteador dentro do processo de ensino aprendizagem dos alunos, partindo da atual proposta holística de educação desenvolvida na escola parceira que busca o desenvolvimento dos alunos de forma integral e participativa a turma escolheu através de consenso o tema de estudos, ou seja, o trabalho do professor em toda sua complexidade deveria contemplar o interesse e realidade dos alunos, tornando assim a aprendizagem mais interessante e significativa para todos. O trabalho docente nesta turma atingiu sua potencialidade permitindo que aluno e professor em uma troca contínua construíssem juntos novos saberes. Já que para contemplar o tema escolhido pelas crianças e qualificar o processo de mediação pedagógica se tornou necessário uma pesquisa sobre o assunto objeto de estudo em questão, bem como uma adequação com relação as intervenções realizadas durante as atividades propostas, considerando as necessidades e diversidade dos alunos, permitindo assim a construção de uma educação significativa e emancipatória.

 

Conclusão

            O processo de estágio curricular realizado na escola parceira oportunizou uma experiência única sobre o processo de docência e sua complexidade. De forma que foi possível vivenciar concretamente o dia a dia em sala de aula e as estratégias utilizadas cotidianamente pelo professor para dar conta das demandas surgidas durante o processo de ensino aprendizagem, como a realização de uma pesquisa sobre a realidade concreta encontrada na escola para um posterior planejamento dos objetivos que se almeja concretizar, a organização do tempo e dos espaços em sala de aula para uma efetiva conclusão das atividades, a potencialidade reflexiva do processo avaliativo e a possibilidade real de aplicação de uma proposta pedagógica emancipatória, capaz de propiciar o desenvolvimento integral do aluno, respeitando suas especificidades e oportunizando uma construção do conhecimento baseado no interesse e realidade do aluno, de forma que esse conhecimento obtenha real significado em sua vida.

            O processo de estágio me possibilitou vivenciar uma nova forma de vislumbrar o exercício da docência, fugindo do tradicionalismo burocrático que encara o aluno como mero receptor de conhecimentos, percebendo esse aluno como um sujeito crítico, capaz de participar ativamente do seu processo de construção de novos conhecimentos, se tornando autor do seu aprendizado e consequentemente sujeito histórico capaz de escrever uma nova história no seu tempo e não apenas repetir feitos anteriores. Tornando assim o papel do professor uma tarefa de relevância significativa para a construção de uma nova sociedade mais crítica, autônoma e consciente do seu papel transformador enquanto parte integrante do meio no qual está inserida.

           

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências bibliográficas

 

 

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3 volumes. Volume 1: Introdução; volume 2: Formação pessoal e social; volume 3: Conhecimento de mundo.

FREIRE, Paulo.  Pedagogia da Autonomia; 2002- 25° edição- pág. 14.

HOFFMANN, Jussara M.L. Avaliação: mito e desafio- uma perspectiva construtivista. Educação e Realidade, Porto Alegre, 1991.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Planejamento na Educação Infantil: mais que a atividade, a criança em foco. In: Encontros e encantamentos na educação infantil. Campinas, Papirus, 2000.

PIAGET; Jean- Epistemologia Genética. Petrópolis: Vozes, 1970. - (EG)