Uma Nova Pedagogia

Penso que um dos desafios da educação tem sido encontrar uma maneira de educar a criança de forma integral: transmitir-lhe conhecimentos que a habilitem para a vida profissional e, ao mesmo tempo, outros que lhe permitam descobrir sua vida interna e que lhe ajudem a se desenvolver de forma equilibrada e feliz. Como fazer isto? Como dar à criança uma orientação que a contemple desta forma integral em seu delicado processo de crescimento?

Encontrei as respostas na pedagogia logosófica. Para podermos aplicá-la, precisamos conhecer antes a nova concepção que a Logosofia apresenta sobre o homem, na qual revela a existência de sua natureza espiritual que, vinculada à parte física ou psicológica, anima o ser humano, protege-o na infância, promove inquietudes a respeito do sentido da vida e que necessita ser atendida, tanto quanto a natureza física.

Sendo a infância uma das fases mais importantes do processo de formação e evolução do ser humano, busquei nesta ciência alguns conceitos que permitissem me aperfeiçoar na arte de ensinar às crianças. Um deles se refere à necessidade de o educador ser exemplo do ensinamento moral que transmite. Se a palavra não é acompanhada pela conduta, “atua em sentido contrário na alma de quem o recebe”¹. Outro conceito se refere à função da natureza espiritual que nos anima e que se encontra particularmente ativa na infância, conferindo à criança a capacidade de entender muitos aspectos da realidade do mundo adulto, o que se tem desconhecido até aqui. Para que isto ocorra, basta que lhe sejam dadas explicações claras do que queiramos que entenda. Como ilustração, recordo-me de uma situação em que minha esposa teve que se ausentar, para dar apoio a um familiar que necessitava de uma cirurgia com urgência. Nossa filha começou a ter um comportamento incomum para ela, ao perceber que a mãe se ausentaria da convivência diária por um tempo, agarrando-se a ela e choramingando.  A mãe, então, explicou-lhe toda a situação, e a partir daí tudo voltou ao normal e pôde viajar sem que nossa filha apresentasse mais qualquer apreensão. Tinha à época pouco mais de 2 anos. Havia compreendido, apesar da pouca idade e da pouca aparente condição de entendimento, certamente com o auxílio de seu espírito, que sua mãe não iria embora e que havia um motivo justo para que se ausentasse e que, em breve, retornaria.

Não poderia também deixar de destacar a definição em que González Pecotche apresenta a criança como “argila modelável em que uma mão amorosa, firme e segura pode ir esboçando perfis formosos.2” Para ajudar a formar uma bela escultura, o docente, seja ele pai, professor, avô ou quem exerça alguma atividade de responsabilidade na orientação da criança, necessita, antes de qualquer coisa,  conhecer  sua própria realidade. Uma vez conhecida sua própria realidade, poderá o docente transmitir com sucesso os elementos que colaborem para a formação integral da criança. Este conhecimento é conquistado mediante a realização do processo de evolução consciente guiado pelo original método logosófico, que propicia a imediata vinculação dos conhecimentos à vida interna do educador, permitindo que este possa exteriorizar sua posse em suas atuações.

Como resultado da realização deste processo, comecei por identificar dentro de mim os recursos para superar minhas limitações e a capacidade para adquirir novos conhecimentos que me abriram perspectivas inimagináveis. Tenho confirmado, na orientação de meus filhos, a importância de eles poderem perceber em mim a coerência de um comportamento que se constitua em exemplo e os estimule a realizar o mesmo em suas vidas. Tal coerência se traduz na capacidade do ser para forjar uma verdadeira fé em si mesmo, fruto do conhecimento adquirido. Isto gera confiança na própria capacidade para enfrentar e buscar a solução para qualquer problema sem temor, e para desfrutar da vida com uma alegria constante, pela consciência que se vai adquirindo do inapreciável conteúdo que possui.

A aplicação deste método, primeiro em minha vida, e depois na orientação de meus filhos e no convívio docente com outras crianças, fez-me comprovar o valor desta nova forma de educar que ensina o ser a pensar, a tomar decisões por si mesmo, a assumir a responsabilidade pelos próprios atos sem se condenar pelos erros cometidos, mas antes procurando a identificação da causa para corrigi-los, a buscar sempre compartilhar o que aprende. Isto contribui de forma decisiva para a formação de um ser feliz e consciente da própria existência bem como da de seus semelhantes, com os quais deve aprender a conviver. No exercício desta nova pedagogia, procuro sempre dividir com os que me cercam as pequenas parcelas de felicidade que vou conquistando, porque tenho aprendido que ou as compartilhamos, ou corrermos o risco de perdê-las, já que não é possível desfrutar desse bem egoisticamente.

 ¹ -- Livro Curso de Iniciação Logosófica

² -- Artigo “Aspectos Negativos da Violência na Educação da Criança”