UMA NOVA GESTÃO PARA UM NOVO TEMPO

Maria Eunice Gennari Silva

 

Todo profissional da educação precisa de pleno conhecimento sobre a diversidade de desafios que ele, certamente, encontrará dentro da escola. E se este profissional pretende enfrentar os desafios que ficaram sem solução nos anos anteriores, mais os próximos que virão no decorrer do ano letivo, é bom que ele se prepare, porque a complexidade será muito maior. Razão pela qual a educação exige uma equipe de profissionais pensando e atuando na visão de uma nova gestão para um novo tempo.

Considerando que a realidade deste século exige mudanças específicas, radicais e adequadas aos avanços das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), mais, ainda, exige das mentalidades que resistem ao novo. Este novo que chega rápido e continuamente, oferecendo às pessoas do mundo todo, o acesso à liberdade de trocar informações, por meio da comunicação. E, na escola, o aluno gosta e quer espaço e tempo para utilizar.

Mas quem é o gestor preparado para gerir esta realidade, lá na escola?

Quem é o gestor que sabe como motivar a sua equipe de profissionais da educação para mediar e movimentar esta forma de comunicar que inova diariamente?

Quem são os envolvidos nesta tarefa de apaixonar e fazer apaixonar-se por uma pedagogia inovadora, sem perder o foco que é o aluno e o comprometimento com a qualidade da sua aprendizagem?

O que é oferecido como garantia de gestão eficaz, por indicação e/ou eleição, para que se coloque na escola pessoas que sejam referência de qualidade na Educação? Onde a prática de ensino esteja fundamentada em autores que propõem a reflexão sobre um novo jeito de pensar, para ampliar novos horizontes na arte de aprender e ensinar?

Há um projeto, nesta direção, apresentado pelo gestor? Ele propõe realizar, com a sua equipe, encontros para comunicar e ouvir propostas, dentro da própria escola e junto com a participação ativa da comunidade?

É bom lembrar que não há pessoas melhores, para comunicar e indagar a realidade e as necessidades de um espaço, do que aquelas que já conhecem e se interessam pela suas lutas e conquistas. E estes questionamentos, dentro da escola, devem ser contínuos, porque o gestor e sua equipe precisam de respostas, sempre. Desde as condições da porta de entrada da escola, onde a família entrega os seus filhos, até o armário na sala de aula, quando disponibilizado para o professor. Da importância deste armário para aqueles educadores que sabem como utilizá-lo pedagogicamente e com o prazer de inovar o que entra e sai lá de dentro – um movimento que só acontece, de fato, com profissionais que se interessam pelo processo de desenvolvimento do aluno, com a contribuição da equipe gestora.

São os questionamentos e os diagnósticos que dão continuidade e subsídios para a construção e reconstrução do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, sempre que necessárias. É nele que se define e estabelece, com todos os envolvidos, o que se quer enquanto escola, o porquê e para quê. É o planejamento gerido por uma equipe multidisciplinar e os demais segmentos da comunidade escolar que nortearão os anseios ponderados do coletivo, sobre as diferentes concepções de escola e suas funções sociais e culturais.

Fazer planos sem um processo de planejamento é tecer uma rede em que só há os nós, e nada que os ligue entre si. Ter um processo de planejamento sem plano (s) é correr o risco de que a rede se desmanche por falta dos pontos de ligação entre os fios. (GANDIM, 1986, p. 57).

Então, o que estamos esperando para colocar em prática, com habilidade e competência, o que já nos foi alertado em faculdades, em cursos de capacitação sobre planejamentos, planos de ação, projetos, redes, relacionamentos e tantos outros recursos metodológicos? É hora de fazer acontecer, lembrando apenas de estarmos ligados nos mesmos objetivos, isto é, de compreender que a prioridade é o aluno e o comprometimento com a qualidade da sua aprendizagem.

As conquistas e os avanços de muitas escolas públicas, por este país afora, é um fato real e concreto, basta pesquisar para conhecer o processo histórico delas, principalmente nos últimos anos. Dos espaços físicos até a oferta para capacitação e aperfeiçoamento do profissional da educação, indiscutivelmente, é possível perceber que muitas escolas souberam como aplicar seus recursos, investindo na melhoria de qualidade desta área. Pena que esta não é a realidade da maioria.

Por outro lado, é, também, verdade que, muitas vezes, a escola corre o risco de se acomodar, principalmente, quando o pensamento e as idéias são limitados e/ou impedidos de realizar suas ações propostas. Tudo isto, porque não se permite a construção e o desenvolvimento de uma gestão autônoma e democrática, para executar e/ou concluir as ações propostas no seu Projeto Político Pedagógico, mas que, infelizmente se encontra engavetado. Isto sem falar do Regimento Escolar - documento imprescindível para reger a escola –que muitos profissionais sequer o conhece.

Só uma nova gestão inserida em um novo tempo, terá competência e sensibilidade suficientes, para permitir inovações integradas ao que já foi conquistado na educação, mas que continuam necessárias no processo de aprendizagem. Só ela poderá fazer da escola um verdadeiro ambiente do saber. Por isso, é preciso, sim, deletar este modelo horroroso de Direção Escolar. E junto com ele esta denominação, mais horrorosa ainda, de Diretores e/ou Administradores Escolares.

Ninguém dirige ou administra uma escola sem a companhia solidária de uma equipe apaixonada pela educação. Ninguém pode receber uma escola, para dirigir e/ou administrá-la, sem compreender que, mais do que dirigir é preciso da alegria de gerir, que motiva e estimula professores, alunos e demais profissionais. Significa abrir portas, ter transparência, despertar e movimentar o interesse pela biblioteca, modificar e diversificar a colocação de carteiras na sala de aula, pelo menos, enquanto as paredes permanecem. Criar espaços de multiuso. Inserir música, dança e movimentos expressivos no cotidiano da vida escolar. São práticas adotadas e executadas em espaços educacionais, onde os poucos interessados acabam contagiados pelos muitos envolvidos.

O que se propõe, aqui, é uma nova gestão inserida em um novo tempo, para que ela, juntamente com sua equipe, não precise passar o ano letivo administrando crises e apagando fogo. Para que o cheiro de queimado e restos de fuligem não permaneçam desde a entrada da escola, passando pelos seus corredores e salas, e debilitando a saúde física e o entusiasmo dos seus profissionais.

A etapa de realizar planos, programas e projetos, certamente, muitos municípios têm cumprido o seu papel. Principalmente, quando eles possuem equipes de gestores e recursos didático-pedagógicos, trabalhando com propostas inteligentes, nos Laboratórios de Informática e nas Bibliotecas, dentro de suas escolas. Lembrando que, por meio das TIC’s, estes laboratórios e bibliotecas colaboram, com eficácia, para a aprendizagem do aluno, e eficiência para a formação continuada do professor. Nestes laboratórios e bibliotecas, o espaço educacional é gerido por profissionais que orientam como filtrar o excesso de informações, para utilizá-las com critério e responsabilidade.

Nesta visão, a fundamentação teórica disponibilizada aos educadores e aliada aos vários cursos que têm como objetivo os capacitar, só serão, concretamente, realizadas, lá na escola, se a cultura do ambiente de aprender e ensinar, com prazer e respeito, estiver presente na prática de ensino da grande maioria. Os profissionais da educação precisam se relacionar focados no mesmo objetivo, ou seja, sendo referencial de motivação para o aluno aprender, simplesmente, porque o aprender é, e será sempre bom, em toda e qualquer circunstâncias de sua vida.

Uma nova gestão para um novo tempo propõe um projeto maior, que priorize relacionamentos integrados, por meio de uma comunicação transparente, assumindo o compromisso de dar satisfação, porque quer deixar o outro satisfeito. Precisamos dar um basta às “panelas” formadas nas escolas, muitas vezes, preconceituosas/discriminatórias. Chega de “grupinhos” com mentes perversas e que vigiam, de forma nazista, os comprometidos para que a escola dê certo. Chega de “chefes tóxicos”.

Uma nova gestão para um novo tempo não pode permitir funcionários subservientes que maquinam estratégias mesquinhas, para usufruir do poder barganhado com chefias negociáveis. Gente que sabe como e quando jogar uns contra os outros para alcançar resultados esperados por estas chefias. Gente que agenda reunião para minar e excluir aqueles que ameaçam a revelação de suas próprias incompetências. Basta de gente, dentro da escola, partilhando da Educação, mas sem contribuir com a arte de aprender para ensinar, porque não tem o essencial – EDUCAÇÃO.

Como enfrentar e reverter falhas tão arraigadas, contaminadas e contaminantes?

Com elegância e educação, é possível sim, alertar estas pessoas conscientizando-as de que sua permanência, inconveniente, na escola, não tem mais espaço e nem contribui com a Educação.

E, finalmente, como proposta inicial, para uma profunda reflexão, precisa-se, no espaço escola, de uma equipe gestora que desperte no profissional a sua competência para aprender e ensinar. Que estimule, continuamente, o profissional verdadeiramente apaixonado pelo que faz, porque ele é o melhor no que se comprometeu a fazer. A escola precisa dele. Dos seus projetos e planos de ação, integrados ao conhecimento sobre a realidade da escola, e que foram, previamente, apresentados à gestão escolar e aprovados para contribuir, principalmente, com o aluno.