(Texto de Setembro de 2013)

Parece que o mundo dos games parou para observar um fato: E as mulheres? Como ficam na indústria de desenvolvimento de games?

De fato, isso é algo complicado. A presença feminina ainda é baixa neste mercado. Digo 'ainda' pois isto está mudando, aos poucos, com alguns incentivos por partes de empresas, mas aos poucos. Mas porque isso é tão importante a ponto de a todo momento ter a aparição de assuntos relacionados? Em setembro, a Dell anunciou uma parceria de US$ 600 mil com a Girls Scouts, um grupo de escoteiras dos EUA, simplesmente para introduzir as mulheres no mercado.

Simplesmente? Não. Não é tão simples assim.

Recentemente, a Ministra da Cultura da Escócia declarou que “nós precisamos de mais mulheres no desenvolvimento de jogos”. Essa frase já não é novidade. Mas é curiosa. A notar que os jogos nasceram em um época e em um ambiente predominantemente masculino (como os arcades), era de se esperar que a indústria fosse vista como “coisa de menino”. Até porque, ainda temos em nossas cabeças que meninas brincam de bonecas, e meninos de vídeo-games. Apesar de estar mudando, esta visão reflete a carência de um sexo em um mercado dominado pelo outro. Exemplo disso são homens estilistas e mulheres programadoras! Para completar, matérias que envolvem matemática e ciência, ainda afastam muitas garotas.

Dessa forma, é comum acharmos mais homens no ramo da tecnologia e da ciência. Muita coisa vem das influências nas escolas primárias. Falta de incentivo para as menininhas. E também a falta de uma modelo. Alguém que realmente se destacou nessa área e ficou conhecida. Alguém que as pequenas possam dizer: “Ei, eu também posso chegar aonde ela chegou!”. Não que essas modelos não existam, mas também não tem o destaque merecido.

Há muitos outros exemplos de como podemos incentivar as crianças. Não só as meninas, mas também os meninos. Aqui, na maior parte do Brasil, nós precisamos esperar chegar ao ensino superior para saber o que é uma lógica de programação. Enquanto em outros países, muitas crianças são incentivadas a brincar com isso. Um exemplo é o software Scrach, que possui uma interface bem intuitiva para o aluno começar com a lógica desde cedo. Outro exemplo também vem do próprio grupo de escoteiras Girl Scouts e seus distintivos de criação e desenvolvimento de games e outros entretenimentos. Existem vários distintivos que incentivam a menina desde cedo, como por exemplo, o ‘Computer Expert’ (especialista em informática) para as mais jovens, e o ‘Game Visionary’ (visionário do mundo dos games), para as mais avançadas.

Apesar da carência neste ramo, podemos citar muitas mulheres que fazem um belo trabalho por trás dos jogos, como é o caso da Emily Newton Dunn, que fazia parte da Criterion Games e, hoje em dia, trabalha para a Eletronic Arts como parte da EA Bright Light Studios (antiga EA UK), tanto como designer quanto produtora. Trabalhou em jogos como Harry Potter and the Half Blood Prince. Assim como a Emily, Fiona Sperry também é outro destaque. Ela é a vice-presidente e diretora-geral da Criterion Games, conhecida pela sua popular série de jogos de corrida Burnout.

Bons exemplos femininos não faltam. O que falta é mais mulheres para dar o famoso “toque feminino” nos jogos. Não que isso vá afastar o público masculino, claro que não! Ao contrário: Gears of War 3 e Uncharted 3 (jogos bem aceitos pelo público masculino) foram escrito por mulheres: Karen Traviss, a mesma que escreveu vários romances da saga Star Wars, e Amy Hennig, citada como um exemplo de uma mulher bem sucedida em uma indústria historicamente dominada por homens. A diferença é que, homens e mulheres tem perspectivas distintas. E essas visões só contribuem para um trabalho melhor, tanto para as visões masculinas quanto as femininas. Segundo Hennig, essa perspectiva divergente dos homens na industria tem ajudado em algumas ocasiões. Em outra visão, pesquisadores argumentam que a perspectiva feminina é necessária para revitalizar a indústria.

Ter também o toque feminino na indústria de games significa que as jogadoras também serão mais facilmente atingidas, ou seja: público maior. Isso porque, indiretamente ou não, ela pode se identificar com o jogo. Não quer dizer que o jogo será feito para mulheres, mas talvez ele não tenha tantos elementos que as afastem. Até porque, um jogo que se intitula “para mulheres” é um tanto quanto pejorativo. É claro que elas tem suas preferências, assim como os homens. Entretanto, dessa forma, faz parecer que os outros tipos de jogos não são.

Outro ponto é que um mercado de trabalho que atrai tanto homens quanto mulheres, o torna mais popular. Sendo assim, portanto, mais fácil de lidar. A propósito, pesquisas mostram que mulheres se saem melhor em cargos de chefia. Não é tanta surpresa assim: As mulheres tem apego pelo que fazem, e querem sempre o melhor. E talvez por ter aquele lado materno - até com as empresas!

Além da chefia, outros cargos são comuns em grandes empresas. Portanto, se você é mulher e sua área não é a programação, nem o design, existem muitos outros cargos na indústria de games, como o marketing. Nesta área, é muito comum o sucesso das mulheres. Também não poderia esquecer das músicas e das atrizes! É realmente uma indústria onde tem lugar para quase todo mundo.

Com certeza não faltam motivos para a participação feminina ser necessária. Agora, o que deve ser feito é mostrar que a indústria de jogos não é só “coisa de menino” e que ambos conversam muito bem entre si. Afinal, o que é um jogo sem se quer um toque feminino?