UMA IGREJA EM PERIGO

 

by Dr. Paulo de Aragão Lins

 

Que estrada perigosa, a estrada do lusco-fusco! A estrada do meio termo. Nem segura nem insegura. Nem certa nem totalmente errada. Nem fria nem quente. Indefinida, incerta, vaga, imprecisa, sem destino.

 

Assim era a igreja de Laodicéia, semelhante ao povo de Israel em certo quadrante de sua vida:

 

“Porque viu o Senhor que a aflição de Israel era muito amarga, e que não restava nem escravo, nem livre, nem quem socorresse a Israel”. 2 Re 14.26.

 

Podiam se gabar de não serem escravos. Oh, glória inaudita! Mas também não eram livres. Oh, tragédia maldita!

 

Um amado irmão fez uma reflexão interessante sobre o crente morno. Ele disse que o crente morno não é morno para tudo.

 

Não é morno para o seu trabalho.

 

Não é morno para o seu divertimento.

 

Não é morno para o seu time de futebol.

 

Não é morno para o seu ídolo musical.

 

Não é morno para a Internet.

 

Não é morno para a academia.

 

Não é morno para os rachas de bola no final de semana.

 

Não é morno para as suas paixões mundanas.

 

A mornidão ataca apenas uma área da sua vida – sua vida espiritual.

 

Mas alguém pode dizer: sou morno mesmo, e daí? Ninguém tem nada com isso. Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim!

 

Aí é que está o problema – é que uma hora Deus se cansa dessa náusea diante dele e literalmente vomita o crente morno.

 

Laodicéia é formada por duas palavras:

 

Laos = povo e Diceia = opinião ou costume ou voz.

 

Laodicéia = voz do povo. Será que a voz do povo é mesmo a voz de Deus? A Bíblia não diz isto. A voz do povo é a voz do diabo, isto sim. Dizem alguns especialistas em Psicologia Social que uma multidão com algum objetivo, principalmente político tem uma idade mental de quatro anos.

 

Jesus disse para o anjo da igreja de Laodicéia, o responsável por aquele estado de coisas: “Não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu. Parece um absurdo, mas no reino espiritual não é. Já pensou o que é ser cego e não saber? Estar nu e pensar que está vestido? Ser pobre e pensar que é rico?

 

Existem igrejas semelhantes hoje. Se alguém perguntar – irmão, como vai a sua igreja?

 

- Está maravilhosa!

 

Está mesmo? Será que não está semelhante a igreja de Corinto? 

 

“Porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” 1 Co 3.3.

 

Quantas igrejas de Laodicéia temos hoje! Quantas igrejas de Corinto temos hoje!

 

Será que não está semelhante às igrejas da Galácia?

 

 “Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” Gl 3.1,3.

Às vezes queremos dar duro em cima de alguém, ou de um grupo, mas logo descobrimos que eles não sabem que estão daquele jeito. Pensam que tudo está em ordem, que tudo está legal, que estão agradando a Deus com suas obras.

 

Davi quis agradar a Deus fazendo uma obra errada, conduzindo a arca puxada em um carro novo, talvez enfeitado e bonito, mas Deus não aprovou aquela tentativa. Quando Deus dá um mandamento, uma orientação, ele quer que seja cumprido à risca. O Senhor deu ordens para que a arca fosse conduzida nos ombros dos sacerdotes.

 

Será que Davi quis agradar os sacerdotes, poupando-os do esforço? Talvez.

 

Caim preparou um altar bonito, enfeitado, cheio de frutas da estação e esperou que Deus se agradasse do seu sacrifício que não era sacrifício. Deus o rejeitou porque ele não sabia que Deus preferiria um sacrifício cruento, sangrento, até feio, mas era a sua vontade.

 

Para o frio sempre há uma esperança – passar por uma poderosa restauração e tornar-se uma grande bênção. Até mesmo um geladão do mundo pode virar crente, e dos bons. Mas, para o morno não existe qualquer quimera no horizonte.

 

Meu pastor Jair Oliveira, costumava dizer:

 

- Cuidado, irmão! Deus pode, de repente, fazer  um bêbado ou uma prostituta transformar-se em um crente dez vezes melhor do que você.

 

O maior problema do morno é que ele pensa que, com o pequeno calor que ele tem vai conseguir tudo. Ilusão! Ele precisa de ouro, colírio e vestimentas brancas!

 

O morno é como o sal que perdeu o sabor. A palavra de Deus diz: “Para nada mais presta, senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Nem presta para a terra, nem para o monturo. Lançam-no fora”. Lc 14.25.

 

O maior problema dos mornos é o orgulho espiritual. Eles se acham os verdadeiros crentes equilibrados que prestam a Deus o verdadeiro culto racional. Não chegam ao ponto da frieza religiosa, mas não acompanham o mover de Deus.

 

Foi Tiago quem muito bem definiu esse tipo de pessoa, quando os comparou com a onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Tg 1.6. Ele estava se referindo às pessoas que duvidam, que não tem uma fé perfeita e, por isto, são mornos espirituais.

 

Agora, eu pergunto, podemos contar com gente assim?! Se nós não podemos, Deus também não pode.

 

Uma tradução espúria modificou o sentido do original e colocou a expressão “estou a ponto de vomitar-te da minha boca. A tradução correta não usa eufemismos, nem rodeios, pois o que realmente Jesus falou foi limpo, seco e direto: “Vomitar-te-ei da minha boca!”

 

O mais incrível de tudo em relação à igreja de Laodicéia é que Jesus disse: “Eis que estou à porta e bato”. Essa igreja chegou a tal ponto com sua desobediência que puseram o Senhor para fora. Quem está à porta é porque está do lado de fora. Mas, será isto possível? Sim. Como disse o abençoado missionário Livingstone. “Jesus é um cavalheiro”. Ele não força, não obriga. Tudo o que ele quer de nós é por amor.

 

Se você se sente morno, meu irmão, se você se sente morna, minha irmã, está na hora de seguir o conselho da própria carta: “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”.

 

Uma das coisas mais tremendas que Jesus falou para Laodicéia é um conforto, um grande consolo para todos nós. Ele disse: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo”.

 

Foi por isto que Jeremias teve ousadia de pedir que Deus o castigasse: “Castiga-me, ó Senhor, mas com medida justa, não na tua ira, para que não me reduzas a nada”. Jr 10.24.

 

Que rico tesouro é a palavra de Deus!

 

(Refs.: AP 3.14-22.)