UMA IDÉIA DE ÉTICA

*Dorotéa Sanglard

A palavra ética vem do grego ethos e significa a morada humana. Também pode ser definida como:

“um conjunto de regras, princípios e maneiras de pensar que guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar, as ações de um grupo em particular (moralidade), ou, também, o estudo sistemático da argumentação sobre como devemos agir (filosofia moral). A simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, pois é preciso uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores maiores”[1].

A ética nasceu na Grécia, junto à filosofia. E se focava em conjeturar sobre o comportamento das pessoas no contexto mítico e religioso, entre os indivíduos agrupados em sociedades. Discussões entre filósofos se davam repensando posturas e sistematizando ações. Temas amplamente analisados que até hoje são temas de reflexões éticas.

Sócrates tinha como entendimento que o objetivo do conhecimento seria a alma humana, onde reside a verdade, e a possibilidade de alcançar a felicidade. Aristóteles, por sua vez acreditava que na prática somos o que fazemos, visando a uma finalidade boa ou virtuosa.

Sócrates e Aristóteles chegaram a três pontos sobre a ética: o agir em conformidade com a razão; o agir em conformidade com a natureza e com caráter natural de cada indivíduo; a união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade).

A ética então, era uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a harmonia entre os mesmos e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos.

Assim, como o ser humano vive em sociedade, a sociedade não sobreviveria sem uma ética. Logo, ética é tudo aquilo que existe como um facilitador de ambiente para tornar uma existência saudável. Tornando um pensamento único, facilitando o conviver de todos.

ÉTICA E MORAL

A moral se manifesta em normas aceitas pelos indivíduos, por condições pessoais e do conjunto. As normas morais deixam explícito como devem agir os membros de um grupo, de uma sociedade.

De forma que cabe questionar, o que é moral. O sociólogo Robert Henry Srou descreve o conceito de moral da seguinte maneira:

 “Um conjunto de valores e de regras de comportamentos, um código de conduta que coletividades adotam, quer seja uma noção, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organização. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a moral correspondente às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e quais não”[2].

Então, ao se definir a moral e as condições do ato moral torna-se possível criar mecanismos que possam orientar o comportamento dos indivíduos.

A ética se caracteriza como uma ciência que investiga a moral. Estando ligada a representações imaginárias, indica quais comportamentos são aceitos e quais não são aceitos. Uma vez que determinados comportamentos são acolhidos e outros rejeitados pela sociedade. A moral e ética são distintas, mas são interligadas. A ética explica a moral, mas acaba influindo na própria moral.

Na sociedade, desde que se nasce é cobrado e ensinado o certo e o errado. Daí passa-se a reproduzir os valores impostos. Passa-se a agir. Entretanto, cada um é livre para agir dentro dos limites impostos pela ética e a moral. E esta liberdade tem como limite o outro. Para Vasquez “a função social da moral consiste na regulamentação das relações entre os homens (entre indivíduos e entre o indivíduo e a comunidade) para contribuir assim no sentido de manter e garantir uma determinada ordem social[3].

 ÉTICA E PROFISSÃO

Profissão é sinônimo de ofício, de um emprego, de uma atividade da qual o indivíduo pode tirar o seu sustento. Pode-se exercer a profissão em grupo ou individual. “Implicando em haver um certo grau de conhecimento, habilidade e criatividade determinado para trabalho específico, que integra fundamentalmente um posto de trabalho e uma função, onde é ditado um certo comportamento ético específico para o desempenho daquele trabalho”[4].

“O código de ética profissional, trata-se de normas que servem de guia para distinguir os comportamentos bons ou maus, a partir do qual os efeitos destes comportamentos, que são julgados bons ou maus, em particular os comportamentos que se relacionam com a profissão”[5].

Toda profissão define-se a partir “de um corpo de práticas que busca atender demandas sociais, norteado por elevados padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a adequada relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um todo”[6].

Um código de ética profissional, “visa estabelecer padrões esperados quanto às práticas referenciadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura fomentar a auto-reflexão  exigida a cada indivíduo a cerca da sua praxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e suas consequências no exercício profissional”[7].

O código de ética profissional de qualquer categoria visa não só a natureza técnica do trabalho, e sim assegurar os valores para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, “um padrão que fortaleça o reconhecimento social daquela categoria”. Expressando sempre uma concepção de homem e sociedade. “Traduzem-se em princípios e normas que devem se pautar pelo respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais”. Por constituir a expressão de valores universais, como os presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Sejam eles, socioculturais, que refletem a realidade do país; ou de valores que estruturam uma profissão, um código de ética não pode ser visto como um conjunto fixo de normas e imutável no tempo. “As sociedades mudam, as profissões transformam-se e isso exige também uma reflexão contínua sobre o próprio código de ética que nos orienta”[8].

Enfim, a construção de um código de ética deve partir de valores identificados e praticados por profissionais visando um bem de quem a pratica e de quem o recebe. A consciência do profissional em ser ético implica em agir dentro dos padrões estabelecidos pelo grupo específico. Mas, há elementos da ética profissional que são universais entre as mais diversas profissões, como a honestidade, responsabilidade, competência, respeito dentre muitos outros.

 PRINCÍPIOS NORTEADORES PARA OS PSICÓLOGOS

O Código de Ética Profissional do Psicólogo, inicia-se apresentando os princípios fundamentais para o exercício da profissão, sendo eles sete itens que passo a expor:

O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado, nos valores que embasam a Declaração dos direitos Humanos.

O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das pessoas e das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando critica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.

O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática.

O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.

O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a psicologia esteja sendo aviltado.

O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios  do código

A ética profissional proporciona uma oportunidade tanto para o profissional como para quem se beneficia da atividade do profissional. A confiança e a responsabilidade de ambos propiciam êxito para todos.

A prática do dia a dia do profissional tem por consequência bons resultados, logo que as pessoas se veem respeitadas, valorizadas, ainda que no grupo.

Os códigos de ética profissional “expressam sempre uma concepção de homem e de sociedade que determina a direção das relações entre os indivíduos.”[9]

Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. O homem com suas vontades, vai construindo ou destruindo seus costumes no ambiente em que vive, dominando e sendo dominado e o grupo vai moldando valores em que a humanidade caminha fazendo o bem e o mal no planeta.



[1] Campos, 2002

[2] Srour, 2000.

[3] Vasquez, 2003

[4] Dias, 2004.

[5] Idem

[6] Conselho Federal de Psicologia, 2012.

[7] Idem

[8] Idem

[9] CFP, 2012.