Uma gentileza para BH         

                                       José Maria Couto Moreira* 

        Os belorizontinos, até os honorários, ao correr de nossa história tem legado à antiga Cidade Vergel homenagens que vão das mais doces referências até a edificação de monumentos que os tempos vão eternizando. A Pampulha, ostentando uma arquitetura ainda vanguardista, senão um poema de água e de pedra que o imortal Juscelino escreveu quando instalou-se na prefeitura da cidade, é um deles.

        Os intelectuais também assinalaram a serena e imperturbável vida na outrora Cidade de Minas com suas elegias consagradas em inocentes boemias. Consta de nossa memória (um tantoesquecida), osmineiros ilustres que cantaram Belo Horizonte em prosa e verso, em cuja fileira de notáveis se encontravam Carlos Drummond, Afonso Arinos, Pedro Nava, Gustavo Capanema, todos a que o poeta maior titulava de “os rapazes de Belo Horizonte”, naqueles tempos em que já prenunciavam a necessidade da preservação do rico patrimônio de Minas.

        Esta preocupação secundou a “Semana de Arte Moderna de 22” que tanto sacudiu a consciência literária nacional como dela também surgiram os enfrentamentos entre tradição e modernidade.

        Mais à frente, surge uma nova onda de intelectuais, que prelibavam a vida política e social da cidade em tertúlias regadas pela cordial cerveja servida no Bar do Ponto e no Trianon, alegres bares da Rua da Bahia e adjacências. Desta turma destaca-se Fernando Sabino, que marcou sentido encontro com Belo Horizonte, sempre a retratando com amor saudoso de seu tempo de menino aqui vivido.

        Estas personalidades, então, cuidavam de entoar hinos à Belo Horizonte, fazendo da Rua da Bahia o epicentro dos grandes acontecimentos locais. Esses cantores, em síntese, proclamavam a alma da cidade, o que não mais ocorreu após sua metropolização.

        Nossa cidade já reclama destas manifestações de afeto. È preciso revivê-las, e o prefeito seria aplaudido se deliberasse retomar o palco que durante décadas pertenceua população quando observava, com prazer e até uma certa galhardia, a visão de que dispunha o transeunteao passar pelo conjunto Sulacap, dali divisando uma cena sedutora. O átrio daquele conjunto, moldado em arquitetura pós-moderna, concebido para que a vista repousasse sobre o Bairro da Floresta, o tem como paisagem de fundo. Com o viaduto, compunha uma visão mítica daquela Belo Horizonte barroca. O resgate deste proscênio se faria, necessariamente, com a remoção daquele mostrengo que se erigiu naquele espaço, tão só para atender a interesse privado, constituindo sempre uma usurpação ao patrimônio da cidade e ao direito do belorizontino. É preciso, também, que o poder público municipal imponha medidas de revitalização daquele complexo, pois os edifícios que lhe compõem estão em triste estado de decomposição, uma verdadeira favela vertical.Um gesto assim de comprovada gentileza urbana devolveria à cidade e a seus condôminos aquela doce época de outrora, em que todos provariam uma lembrança comovente.

        A Belo Horizonte de hoje, agradece. 

                                                               *Advogado