Uma compreensão das relações entre família e escola

Sérgio Filipe Duarte Silva

2010

A escola não só detém o papel de transmissão de conhecimentos científicos, como também compete o desenvolvimento de capacidades cognitivas, afectivas, comunicativas e participação na formação da identidade individual de cada aluno. É um contexto em que os alunos se envolvem em actividades diferenciadas, formais e informais, onde decorrerá todas as suas aprendizagens.

A família é a base das crianças, e é neste contexto que se encarrega a responsabilidade de satisfazer as suas necessidades básicas. É a “socialização da criança”, onde se promove o desenvolvimento humano.  Os pais são os elementos essenciais na vida dos filhos. Assim, a Escola e a Família têm potenciais influências no que concerne ao “desenvolvimento e a aprendizagem humana”[p. 304]. São dois contextos fundamentais para a formação da identidade e personalidade do aluno.

Portanto, é fundamental envolver as famílias no meio escolar, onde se insere os seus filhos, pois os pais e os professores são os principais “responsáveis no desenvolvimento da criança e do adolescente” (p.306).

Mas, devido aos pais com: dificuldades económicas e sociais; insegurança; experiências escolares negativas e sentimentos inadequados em relação à aprendizagem, os tem afastado do meio escolar, onde os seus filhos se inserem. E também devido à insegurança dos próprios Docentes, isto é, “(…) o receio dos professores de serem cobrados e fiscalizados pelos pais não têm capacidade ou condições de auxiliar os filhos (…)” (p.306), os tem afastado, os pais, ainda mais, do meio escolar.

Deve-se, neste sentido aproximar estes dois contextos, pois é fundamental que a família e escola tracem as mesmas metas de forma simultânea, propiciando ao aluno uma segurança na aprendizagem de forma a que venha criar cidadãos críticos capazes de enfrentar a complexidade de situações que surgem na sociedade.

Para isso é necessário que: as famílias integrem as crianças na escola, “criando um ambiente propício para a aprendizagem escolar, incluindo acompanhamento sistemático e orientações continuas em relação a hábitos de estudo e às tarefas escolares” (p.307) ; que se envolvam nas actividades da escola, tais como reuniões, eventos, entre outros; que acompanhem as crianças como tutores e mediadores e  que participem nos projectos políticos da escola, nas tomadas de decisão.

Quanto à escola é fundamental que: reflita sobre os programas existentes e “evidenciem os progressos, em diferentes níveis, para os pais ou responsáveis” (p.307); que desenvolvam “habilidades e acções que explorem os diferentes níveis de experiencias, conhecimento e oportunidades dos pais, visando uma implementação mais efectiva do envolvimento família-escola” (p.308); que os Docentes tomem consciência que têm de contribuir para o currículo escolar e que têm de respeitar a diversidade cultural das famílias. Desta forma, caminha-se para uma integração mais efectiva.

Mas também se torna fundamental  “estabelecer novos rumos para a relação família- escola que visem o desenvolvimento global dos alunos” (p.310).

Tal como os pais, a escola educa para a liberdade, através do diálogo e da autoridade. Por isso, nestes dois campos, as posições são idênticas, quer para a família, quer para a escola, e pressupõem uma forte coordenação no modo de as pôr em prática.

 Numa abordagem mais sistémica, e segundo a teoria geral dos sistemas de Bertalanfy apresentada pela autora Maria Costa, do Livro “Gestão de Conflitos na Escola”, a família e a escola são sistemas abertos. Pois contêm “elementos que estão em interacção no seu interior e com o exterior, havendo uma troca de informações e energia que interferem no equilíbrio sistemas ”[Maria Costa, p. 105].

A escola como função, segundo as autoras Ana Polonia e Maria Dessen, que “visa não apenas a preensão do conteúdo, mas ir além, buscando a formação de um cidadão inserido, crítico e agente de transformação (…)” [Ana Polonia e Maria Dessen, p. 304] e que a família como a “socialização da criança (…) englobando a educação geral e parte da formal, em colaboração com a escola. Ainda assim, a Maria Costa, assume a função da família como “a continuidade do ser humano”, a “socialização do individuo, promovendo as aprendizagens mais estruturantes e estruturadoras num processo progressivo de individualização e socialização” [Maria Costa, p.104].

Desta forma, verificamos que a escola e a família,  têm objectivos em comum, centrado no desenvolvimento do individuo. Portanto, devem trabalhar como equipa. Mas, para que haja um bom desenvolvimento é necessário que haja conflito, pois como refere a autora Lídia Resende, partindo da perspectiva de outra autora, March & Simon, que os conflitos “traduzem-se em bloqueios dos mecanismos normais da tomada de decisão, onde os indivíduos ou grupos revelam ter dificuldades em escolher a acção a desenvolver.” [Raquel Oliveira, p11]. Este bloqueio permite ser um incentivo à reflexão.

Mas, depreendo que tem de haver compreensão e respeito mútuo, conhecendo limites entre a escola e família, para levar a um conflito que seja de desenvolvimento e não de ruptura, na sua relação. Pois ambos têm responsabilidades, como referem as autoras Ana Polonia e Maria Dessen, que “tanto a escola como os professores têm grandes responsabilidades no desenvolvimento da criança e do adolescente”. [Ana Polonia e Maria Dessen, p.306].

De acordo com as autoras Ana Polonia e Maria Dessen, apontado para a proposta de Eptein, que consideramos pertinente, referem as obrigações pertinentes para a escola e para a família, tais como; deve a família “criar um ambiente propício para a aprendizagem escolar, incluindo acompanhamento sistemático e orientações contínuas em relação aos hábitos de estudos e às tarefas escolares.” [Ana Polonia e Maria Dessen, p.307]. Pois, considero que os pais podem e devem ajudar os filhos no que diz respeito à interpretação dos enunciados das tarefas, orientar as pesquisas, sugerir ideias para os trabalhos, mas nunca assumir a responsabilidade das mesmas, fazendo-as no lugar dos filhos; deve também a escola “apresentar e discutir os tipos de programas existentes na escola e evidenciar os progressos da criança, em diferentes níveis, para os pais ou responsáveis” [Ana Polonia e Maria Dessen, p. 307], pois os progressos estão relacionados com a comunicação com os pais; devem ainda os pais envolver-se em “atividade da escola”, pois a escola pode oferecer oportunidades mais diversificadas que possibilitem a participação da família com o objectivo de melhorar o espaço escolar. Os pais podem participar, por exemplo, na supervisão de recreios, no apoio à biblioteca e sala de estudo e na organização de actividades de tempos livres; ainda assim devem envolver-se no “projecto político de escola”, quer nas tomadas de decisão, quer através da representação dos pais nos organismos da escola em que esta representação já está prevista, quer em grupos de reflexão-acção criados para a resolução de problemas que visem a melhoria da escola.

A família, com os seus obstáculos que assimilou, afastando-se da escola, podem os diretores de turma ir ao seu encontro. Porque não visitar, de modo informal, os pais mostrando que também nos preocupamos com eles? Para mim, esta reflexão é essencial. Pois esta aproximação também permite conhecer melhor o discente, sem medos ou receios. Mas respeitando sempre a família com a sua identidade própria.

A escola é de todos, e são dos nossos antepassados também. A escola é uma instituição tão forte, capaz de modificar as próximas gerações, criando indivíduos a conhecer, a fazer, a prender a viver em comum e a aprender a ser.

 

Referências:

 Costa, Maria Emília, “Gestão de Conflitos na Escola” – Universidade Aberta, 2003.

 Polonia,A.C. & Dessen, M.A. (2005). “Em busca de uma compreensão das relações entre Família e Escola: Relações Família-Escola” . Psicologia Escolar e Educacional, V. 9 (2), 303-312.

 Oliveira, Raquel Alexandra D., “Resolução de Conflitos – Perspectiva dos alunos do 4º Ano do Concelho de Arruda dos Vinhos”, Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Administração e Gestão Educacional, 2007.