Autor: José Patrocínio de Souza

Uma comparação entre: Tiradentes e Tancredo Neves

A história tem seus mitos e os Países seus heróis. Tiradentes é um herói do nosso País e um mito na nossa história. Não só pelo que ele representou em vida, mais sobre tudo  pelo que inspirou depois dela.

O afere mineiro que sonhou com a liberdade e que inspirou a independência, poderia ter ficado escondido nos descaminhos da nossa historia, se tivesse vencido.

Muito provavelmente seus ideais teriam sido ultrapassados pela sabedoria dos espertos e pela malícia de aproveitadores. Como foi vencido, tornou-se o herói que arrasou sozinho, o castigo do patíbulo, a humilhação da derrota e a degradação do esquartejamento. Foi na adversidade que encontrou a dimensão de sua grandeza, a grandeza de seu exemplo de incomparável resignação. A aura de seu sacrifício espirou-se ao longo do tempo. Reverenciar a sua memória, portanto, faz parte de nossas obrigações cívicas. Estranho e trágico o destino dos heróis que ganham na adversidade, crescem na derrota e se engrandecem no infortúnio!

É isso além de herói, Tiradentes é um mito. Por trás das vestes despojadas do prisioneiro , das longas barbas do resignado e do olhar visionário do sonhador com que pintam, estão as virtudes do patriarca que superam a sua própria dimensão humana.

Esquecemos seus defeitos, porque a expressão da sua trajetória na história fez dele a própria síntese de virtudes de toda uma nação.

Talvez isso explique porque outras mentes sonhadoras, derrotados e sentenciados como os alferes, são heróis, mais não são mitos.

Tiradentes é a síntese de todos eles, dos de ontem e dos de hoje. De Beckman, no maranhão de Frei Caneca, em Pernambuco e Delmiro, em Alagoas .Esquartejaram o seu corpo  e o espalharam, nos termos da sentença terrível , cruel e omiciosa , nos sítios onde “ pregou suas infames práticas” só não foram capazes de esquartejar suas ideias e seus ideais e sonho de liberdade. Os seus pósteros reconheceram seu papel e fizeram dele o patrono da nação Brasileira.

É sem dúvidas uma coincidência que das mesmas terras escarmentadas pelo ódio tenha nascido um símbolo contemporâneo dessas antigas aspirações, morto no mesmo dia que o mito e o herói.  Tancredo Neves que já faz alguns  anos de sua morte é bem lembrada no dia 21 de abril.

Não é um herói mais como Tiradentes é um símbolo e um mártir. Não da Independência, mais da restauração democrática pela qual terminou pagando o tributo da própria vida.

Não a viu consumada, no clímax de sua vitoria, da mesma forma do Tiradentes, não respirou o ar da Independência pela qual lutou e morreu. Como o afere Tancredo Neves se fez na adversidade, se engrandeceu com as amarguras que viveu e se afirmou com as derrotas que sofreu. A resignação e a paciência foram suas grandes virtudes, maiores que sua habilidade que fez da transição um momento de festa, de esperanças e de fervor. Até nisso, a vida lhe foi adversa.

É justo que a ambos tributemos nossa referencia.  A um pelo sonho que nos deu identidade. Ao outro pela restauração democrática que nos deu personalidade.

Mito e herói, mártir e símbolo, Tiradentes e Tancredo, são dois momentos eloquentes de nossa trajetória especificamente histórica, cheia de exemplos de abnegação e renuncia de entrega e devotamento. mas cheia , também de mesquinharia e ódio, de malicias e de desprazeres . Se quisermos honra-los, cumpre antes de tudo, nunca esquecer os mesmos.

Este é o meu recado e o meu tributo a duas Grandes expressões que merecem meu respeito, nossa referencia e nossa admiração.