Muito se falou na campanha eleitoral deste ano sobre cidades sustentáveis e sobre a necessidade de que os aglomerados urbanos sejam capazes de gerir suas necessidades com parcimônia, respeito ao meio-ambiente e seriedade.

           Nada se falou sobre a mais nefasta doença das cidades: o desperdício. Seja ele do poder público, das empresas e da população em geral. Quanto ao desperdício nas empresas e da população como um todo, pode o poder público exigir mudanças em poucos casos, coibir outros, mas, principalmente, pode dar o exemplo na maioria deles.

           A administração pública precisa, antes de tudo, fazer a lição de casa. Uma cidade sustentável começa pelo combate ao desperdício.

           O contribuinte, já cansado de tantos escândalos só terá motivação e disponibilidade para colaborar se perceber que a administração pública está concretamente fazendo um esforço, além do comum, para combater o desperdício e dar o exemplo.

           É preciso muito mais que boa vontade, programas de sensibilização e palestras aos funcionários; a administração pública tem que cortar na carne e mostrar que entrou pra valer num novo tempo: tempo de economia de guerra, tempo de responsabilidade com o que é de todos, tempo de respeito as pessoas e ao planeta, tempo de consciência da finitude dos recursos e, enfim, é tempo de sustentabilidade.

           Não é pouco o que se pode fazer na administração pública para diminuir gastos, gastar com parcimônia e não gastar com supérfluos. Dizem os especialistas que metade do que se compra na administração pública ou é mal comprado ou é desperdiçado. Não sei se tanto, mas com certeza é muito. Isso vai desde material de expediente até máquinas e equipamentos; de insumos a contratação de consultorias inócuas; de reformas desnecessárias a móveis mal aproveitados. Tudo é fácil quando o dinheiro é do contribuinte, qualquer “chefete” novo se acha no direito de mudar móveis, tapetes, cor de parede e objetos de decoração.

           É preciso que a ação dos novos prefeitos seja contundente, tomando medidas já nos primeiros meses de gestão. Como a proibição de reformas de aparência, compra de móveis e objetos de decoração; Criação de uma comissão que analise as intervenções que sejam absolutamente necessárias e que estejam relacionadas com a melhoria do atendimento ao cidadão; redução das contas de luz, água, gás, combustível, material de expediente, mudanças na matriz energética; fusão de secretarias e extinção de cargos em comissão; proibição do uso de carro oficial para levar “autoridades” em casa; revisão de contratos e denúncia de qualquer irregularidade encontrada.

           Temos que chamar a população para o combate ao desperdício e a ajudar a fiscalizar uma administração que se pretende inovadora e respeitosa. Como escreveu Leonardo Boff “Junto com a sustentabilidade deve vir o cuidado, o respeito e o amor por tudo o que existe e vive. Sem essa revolução da mente e do coração não iremos construir o novo”.

  • Waldir Rocha D’Angelis é Professor, adora essa cidade, estuda filosofia e se especializa a cada dia em Gestão Pública. Foi Vereador de Curitiba.