UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE AS ARTES MIMÉTICA, CARACTERÍSTICA E DRAMÁTICA

 

Saulo Barbosa Santiago dos Santos1

1 INTRODUÇÃO

 

No limiar dos séculos, aparecem vários tipos de artes (arte cômica, trágica, romântica e etc), porém, às vezes não conseguimos entender no que ambas se diferenciam. O objetivo desse trabalho é diferenciar, pelo menos, três tipos de arte que foram de suma importância nesses últimos séculos, que são, a arte representativa, arte característica e arte dramática, sob uma perspectiva do pensador Ernest Cassirer

 

2 ARTE REPRESENTATIVA

 

Em sua Aesthetica, Alexandre Baumgerton, tenta provar, através de uma idealização lógica da imaginação, que a arte é autônoma, porém, foi falha porque a lógica da imaginação nunca poderia alcançar a mesma dignidade da lógica do intelecto puro.

A filosofia da arte e a linguagem, possuem tendências antagônicas que oscilam constantemente, um é objetivo, o outro é subjetivo. No fato objetivo, a linguagem e a arte se resumi e se constrói através da imitação das coisas. A imitação é uma fonte inesgotável de prazeres, e esses prazeres, afirma Aristóteles, é uma experiência mais teórica que especificamente estética. Se a arte se limita à imitação, e a imitação nunca é uma cópia perfeita do objeto, logo, quem imita modifica o objeto (ou a natureza), seja para melhor pu seja para pior, contudo, a arte mimética pode não só auxiliar a imagem da natureza como um todo, mas também melhorá-la (ou piorar). Por exemplo, há desenhos de plantações de uva, que são mais bonitos do que muitas plantações de uvas reais. Na arte representativa, a imitação é vista com algo prazeroso, pois, por mais que que algum objeto seja difícil de ser ver, é delicioso (ou desprazeroso) ver tal objeto representado pela arte.

 

3 ARTE CARACTERÍSTICA

 

Com Rousseau, a arte mimética é decaída com um novo ideal – arte característica. Com a arte característica, a beleza ficou secundária e derivativa, assim, a arte característica conquistou de forma vitoriosa a arte imitativa. Isso porque a arte caraterística é uma arte que quer dizer algo que possua algum tipo de conhecimento, coisa que a mimética não faz, só copia, daí a diferença entre ambas. Mas, essa diferença não se limita a somente isso, vejamos.

Groce, em sua teoria estética moderna, não valoriza o modo como o artista faz para criar algo, mas sim a expressão que esse algo criado demonstre, e essa criação, para ele, é advinda da intuição e que, essa intuição não faz da arte, uma arte particular.

Com a arte característica, a beleza fica em segundo plano porque, trabalhar com a beleza, é trabalhar com a emoção, e, usar a emoção, é usar sentimentalismo e não arte, o que é diferente da arte mimética que, ver prazer na imitação das coisas. A arte se torna uma descobridora da realidade e não uma imitação da mesma.

A linguagem e a ciência são dois processos principais pelos quais avaliamos e determinamos nossos conceitos do mundo exterior. Como nossas avaliações são feitas de forma sensorial, então precisamos classificar nossas percepções sensoriais e agrupá-las em noções e regras gerais para podermos dar-lhes um sentido objetivo.

Sendo a arte uma descobridora da realidade, essa descoberta é nos dada através da nossa percepção estética. A percepção estética está moldada de infinitas possibilidades que não são criadas na experiência sensorial ordinária. Essa experiência sensorial ordinária é usada pela ciência, e, a ciência empobrece a realidade, pois, as formas das coisas se resumem por fórmulas, tornando-se esgotável, isto é, tudo terá uma fórmula para ser explicado.

Diferentemente da ciência, a arte jamais esgotará a realidade, isso porque as coisas são inúmeras e variadas de acordo com o momento.

Como para a realidade as coisas são inúmeras e variadas, então, é impossível existir dois objetos artísticos iguais e assim, não podem cair na mesmice. Não cai no âmbito da mesmice porque, de acordo com Ludwig Richter, não existe uma visão objetiva, pois, a forma e a cor são sempre apreendidas de acordo com o temperamento individual.

Nós percebemos as coisas através de dois tipos de percepção: Estética e sensorial.

As teorias estéticas afirmam que a beleza não é, de forma imediata, uma prioridade das coisas que envolve relações com a mente humana, mas, Hume afirma que a existência da beleza depende da mente que contempla. Essa idéia de Hume possui um duplo sentido.

Já a percepção estética, ou experiência da contemplação, é muito mais rica do que a sensorial, pois a primeira preenche infinitas possibilidades que não são realizadas pela experiência da segunda.

Além dos dois tipos de percepção, Kant destaca dois outros domínios: Juízo estético e universalidade estética.

Em nossos juízos estéticos, nós nos preocupamos com a contemplação do objeto, já a universalidade estética significa que o predicado do objeto não se restringe a um indivíduo especial, mas se estende por sobre todo o campo do sujeito julgante.

 

4 ARTE DRAMÁTICA

 

Na arte dramática, mais especificamente na poesia, Platão afirma que a imaginação poética regra as nossas experiências de luxúria e ira, de desejo e dor, assim, compreende a vida moral do homem.

Tolstói vê na arte, uma forma de infecção e essa infecção é a medida de excelência da arte. Nesse caso, Tolstói falha porque ele se esquece do momento da forma, suprindo o momento da forma, então reduzirá a experiência estética, assim, não é o grau de infecciosidade que faz uma medida da excelência da arte, mas sim a intensificação e iluminação da mesma.

Diferentemente de Kant, Shakespeare nunca apresenta uma teoria estética, para o autor, a arte dramática esta em harmonia com os belas artes da pintura e escultura do renascimento. Ele afirma isso porque os pintores mostram-nos as formas de nossa vida exterior e os dramaturgos mostram-nos as formas das coisas interiores.

Na poesia trágica, Aristóteles afirma na sua teoria da Catarse, que a alma adquiriu uma nova atitude para com suas emoções e essas emoções leva um estado de repouso e paz.

Em um contexto diferencial, a arte dramática, não tem com objetivo, imitar as coisas ou caracterizar algo através da exteriorização com intuito de demonstrar algum conhecimento ou cultura, mas sim, mostrar a vida interior de cada um. Isto é, revelar as profundidades da vida, fazer-no perceber as coisas que ronda a vida humana, tal como, a riqueza, miséria, alegria, tristeza e etc.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Conclui-se que, apesar de haver diferenças entre essas artes, felizmente, elas não se anulam e que, até hoje, ainda são vivas e usadas das mais diferentes formas. Por isso, a arte tende a ser uma coisa eterna. Uma hora ela nos dá uma imagem rica das coisas, outra hora nos faz compreender algo que até então se parecia incompreensível. É nato do homem a busca do ilimitado, talvez isso tenha chegado na arte, pois, na arte, o homem tem o poder de escolha no que cerne seu ponto de vista e com isso, modificar aspectos.

REFERÊNCIA

ERNEST, C. Ensaio sobre o homem: Introdução a uma filosofia da cultura humana. Trad, Tomás Rosa Bueno. Ed. 4. São Paulo: Martins Fontes, 1994

1Graduado em Filosofia pela Universalidade Federal de Sergipe (UFS), especialista em Educação para o Ensino Superior pela Faculdade Pio Décimo (FPD) e pós-graduando em Teoria do Conhecimento e Ética pela Universalidade Federal de Sergipe (UFS)