Sobre a questão do currículo muito se evoluiu nestes últimos anos, mas muito ainda há para ser feito, pois um bom planejamento e por conseqüência um bom currículo fazem com que o ensino de história se torne mais completo. Sendo assim temos que analisar se realmente tudo que vemos de evolução no campo acadêmico sobre o currículo está fazendo efeito sobre as escolas de ensino fundamental e médio, ou se simplesmente, as discussões feitas são esquecidas.

Palavras chaves: currículo, ensino, história

Com o conhecimento e a evolução do ensino de história, começam a surgir alguns problemas e alguns questionamentos: como melhorar o ensino e como ele deve ser feito? O que ele deve passar e mostrar a seus alunos? Esses questionamentos veem desde os primórdios do ensino de história. Estas questões, que vem sendo colocadas em pauta, e vêm contribuindo para a evolução do ensino, sendo elas hoje as principais responsáveis pelo que conhecemos na evolução do ensino de história. Este debate que propomos neste artigo, há muito tempo vem sendo lembrado. A idéia da discussão centra no currículo, ou seja, trazer para o debate uma dificuldade de um determinado currículo, onde se analisará os pontos bons e ruins deste e sua real contribuição para o ensino de história. Também olhando o contexto ao qual a escola e seu currículo estão inseridos, qual clientela a escola atende, e qual o tipo de ensino que a escola opta por fazer.

Para conhecermos melhor o que é um currículo, e também para poder compreender de onde vem, para que serve, e como surgiu o currículo, temos que fazer uma reconstrução histórica, para que assim possamos identificar alguns porquês do currículo nos dias atuais.

O currículo passa a ser um ponto importante no ensino de história desde o momento em que se começa a conhecer o que é história, e ao mesmo tempo, em que começam a ensinar história. É neste momento em que os questionamentos sobre o que ensinar e o que fazer com a história surgem. O primeiro passo é definir o que é história, que tipo de documento e material pode ser usado para definir e conhecer a história, o que é verídico e o que é mitológico. Sendo assim tempos o movimento positivista, que em muito contribui para a definição mais clara do que é história, ou seja, baseando-se em documentos oficiais, tudo para ser história teria que estar documentada em documentos oficiais, ou seja, documentos de estado, religiosos, e outros, dando uma interpretação mais elitista da história. Assim vemos umas das vertentes que influenciam a história, o positivismo que apesar de sua contribuição não é a única forma de se ver a história. Temos também a influência marxista no ensino de história, ou seja, o marxismo, via o ensino e a formação do conhecimento histórico de uma maneira diferente do positivismo, dando muitas vezes uma visão mais social e uma visão crítica a história usando os conflitos para explica – lá, Como faz Geraldo Balduíno Horn e Geyso Dongley Germinari em seu livro quando falam da questão do conhecimento para a tradição marxista que mostra um pouco a diferença para o positivismo:

Na tradição marxista o conhecimento é controlado e legitimado como ferramenta das classes dominantes. Posteriormente, Gramsci avançou para o conceito de Hegemonia Cultural, segundo o qual o senso comum de determinado individuo é ou não considerado filosofia de acordo com o contexto institucional a que pertence.( YOUNG,1971,p.37, BALDUINO e DONGLEY, 2006, p 17)

Todas estas vertentes, contribuem para o pensamento histórico na Europa e como não podia ser diferente vão acabar influenciando no ensino brasileiro.

Se fizermos uma breve reconstrução histórica do ensino de história no Brasil veremos uma série de influências na formação de seus currículos, seja essa influência dos pensamentos europeus e também das várias situações políticas que o Brasil viveu ao longo de sua história.

Ao analisarmos o Brasil nas ultimas décadas, veremos a influência de três correntes de ensino, que ajudaram na formação curricular do Brasil. A primeira chamada muitas vezes de tradicional, positiva ou liberal, tendência que predominou no Brasil principalmente nos anos de 1970. Vemos também uma segunda tendência, na qual sua origem vem da dialética e da história critica, onde sua influência mais clara esta entre as décadas de 70 e 80, e que foi chamada de tendência marxista. Já nos anos de 1990 vemos uma terceira tendência a qual esta ligada diretamente ao movimento dos Annales, que tem como característica o estudo da história do cotidiano a história das mentalidades e também a história cultural. Sendo assim tivemos conhecimento de tendências teórico-metodológicas, que influenciaram o ensino de história no Brasil, dos anos de 1970 a 1990, mas é importante lembrar que este ensino vem de muito tempo atrás.

Nas primeiras décadas do século XIX, o Brasil passa por um processo de independência, na qual era necessário se cria um complexo de reconhecimento daquele povo com a sua nação, então vemos a criação de órgãos como o instituto histórico e geográfico brasileiro (1838) e também a fundação do Colégio Pedro II (1837), que tinha funções importantes para o ensino de história no Brasil, como lembra Flavia Eloísa Caimi em seu artigo:

... nas primeiras décadas do século XIX, logo após a independência do Brasil, quando, ao mesmo tempo em que era criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), com a missão de produzir a escrita da recém-nascida nação, inaugurava-se o Colégio Pedro II (1837), cuja tarefa consistia em elaborar os programas de estudos e introduzir, ao longo de oito anos, o ensino de história nas escolas brasileiras. (CAIMI, p.2, 2008).

No Brasil vemos nestes primeiros anos de independência um ensino, extremamente voltado para formação da identidade nacional, ou seja, faziam das escolas e de seu ensino uma cartilha de identificação nacional, criando no povo brasileiro o sentido de ser brasileiro, o que se ensinava, o que estava previsto nos currículos era uma história extremamente política, nacionalista e que exaltava a colonização portuguesa e tudo que ela teria feito de bom para aquela nação.

Com o decorrer do tempo e com as mudanças de pensamentos no Brasil,principalmente com o fim próximo do Império Brasileiro e com o sentido de formação da república, o brasileiro foi mudando seu pensamento e não aceitando mais o Império. Vemos uma grande mudança ao final do século XIX, na questão da educação no Brasil, ou seja, o currículo que antes previa o estudo da história geral (profana), da história sagrada ( hagiografia) e da história imperial do Brasil, naquele momento começava a beber as influência da Europa, principalmente dos ideais positivistas que viviam seu melhor momento no Brasil. Como ressaltam Geraldo Balduíno Horn e Geyso Dongley Germinari ao falar em seu livro sobre esta mudança:

... é possível afirmar que o de História desde fins do século XIX, quando da sua inclusão nos programas e guias curriculares, sofreu forte influência das tradições européias, herdando o esquema quadripartido francês: Idade Antiga, Medieval,Idade Moderna e Idade Contemporânea. Tal situação em nada surpreende, ao contrário, está em plena consonância com o movimento republicano e os ideais positivistas... ( BALDUINO e DONGLEY, 2006. p.27)

Este novo momento vivido pela educação no Brasil, mostra uma série de inovações, além das novas divisões: no estilo francês, vemos o surgimento de novas disciplinas, como a educação moral e cívica, disciplina muito usada e mantida nos currículos do período da ditadura militar. Vemos também uma série de inovações nas questões didático-pedagógicas. Em meio a todas estas inovações surgem nomes como o de Francisco Campos, autor de reformas no ensino em 1931 e também o nome de Gustavo Capanema, em 1942, coloca a história do Brasil como uma disciplina desvinculada da história das civilizações.

Com o passar dos anos o Brasil passa por um novo momento, tanto em seu campo político, quanto no mundo da educação. O Brasil entre nos anos de 1960 e 1970 passou por sério regime militar, e tal não poderia deixar de influenciar na educação. Como é sabido muitas vezes a educação, principalmente nessa época, ensinava o que o governo queria e não o que se devia ensinar. Problema este vivido na educação no Brasil e principalmente no ensino de história e muitas outras disciplinas vinculadas com as ciências sociais. Uma mudança na questão do currículo que se pode destacar, é o fato da educação seriada, estadizia que nos primeiros anos o aluno deveria estudar história do Brasil, em uma organização tripartite (história colonial, imperial e republicana) e logo após, nos últimos anos, onde se deduzia que o aluno estava mais maduro, na 7ª e 8ª séries, se partiria para o ensino da história geral, com a tradicional organização francesa em Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Outro ponto muito debatido e comentado, é o momento onde o governo substitui as disciplinas de história e geografia, formando os Estudos Sociais e que junto trazia a disciplina de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil (OSPB), sobre a reforma diz:

A reforma de ensino de 1º e 2º graus em 1971, através da Lei 5.692/71, propôs a adoção de Estudos Sociais englobando os conteúdos de Geografia e História, provocando, assim, significativa mudança no âmbito da concepção de ensino dessas disciplinas e de seus respectivos objetos de estudo. Com essa medida, os planos curriculares tornaram-se vazios e descaracterizados, voltados muito mais a atender os interesses ideológicos dos setores que controlavam a esfera política do que propriamente o desenvolvimento das ciências humanas (BALDUINO e DONGLEY, 2006, p 28 ).

Neste período ditatorial a educação e a história no Brasil conhecem mais o retrocesso do que o avanço, mas a partir dos anos 80 com o processo de abertura, o ensino de história, mesmo que ainda com sombra dos Estudos Sociais, passa a procurar novas formas de ensino e também uma reestruturação de seu currículo, e é nesse mesmo período que em alguns estados do Brasil a disciplina de História e Geografia passam a ser ministradas individualmente. É a partir deste momento que também se começa a discutir no Brasil o objetivo da história, e assim, o ensino de história começa a sair das influências positivistas,ou seja, questões como história-nação, história-civilização, e assim começa a promover debates, encontros que tinham por objetivo, redesenhar uma nova linha para o ensino de história e mostrar os novos objetivos dela.

O currículo de história nos dias de hoje.

Como vimos, após a reabertura do Brasil, após longos anos de ditadura, temos um novo contexto, no que se refere ao ensino de história, ao seu currículo e ao que ensinar. Resumindo temos uma nova pergunta no ar, ou seja, qual é o real objetivo da história? Pergunta que vem sendo respondia aos poucos, graças a vários estudos e discussões feitas sobre o tema, nos encontros e ciclos de debates nas universidades do Brasil. Assim temos que fazer uma nova pergunta: realmente o que vem sendo discutido no campo acadêmico tem sido aplicado nas escolas? E se vem sendo aplicado está sendo da maneira correta?

Desta forma após breve análise sobre o histórico do ensino e do currículo, será feita uma análise sobre um currículo de uma escola de Ensino Médio, ao analisar este currículo, procurou-se identificar erros e acertos. Identificaram-se alguns erros, no qual um, observou-se em sala de aula, ao trabalhar com uma das turmas. Neste currículo vemos uma falha na continuidade, ou seja, alunos saídos do Ensino Fundamental entram na escola e logo no primeiro ano do Ensino Médio já não têm mais o contato com o ensino de história, pois seu currículo não prevê o ensino de história no primeiro ano, e sim só no segundo e terceiro ano. Isso pode criar uma grande dificuldade na questão da compreensão do processo histórico, pois simplesmente é interrompido o processo de ensino, pois os alunos saem do oitavo ano do Ensino Fundamental tendo história e passam por um ano sem contato algum com a prática do ensino de história.

Esta questão pode ajudar a responder os questionamentos feitos sobre se o que tem sido discutido no campo acadêmico, vai para as escolas. Ao pegarmos este exemplo vemos que em certo ponto sim, mas coisas como o que prevê este currículo, nos levam a pensar que não, pois propor em um currículo, que não se ensine história no primeiro ano e ainda o que é pior, propor o ensino de geografia só no primeiro ano, nos remete que este currículo tem suas falhas. Por conseqüência acaba tornando o ensino de história limitado, muitas vezes, não contribuindo na formação social deste aluno e remetendo o ensino apenas a um ensino programático, sem senso crítico e direcionando os professores a ensinar determinados assuntos, ou seja, limitando o próprio professor no seu campo de ensino.

Uma outra problemática vista neste mesmo currículo, é o direcionamento do que se deve ensinar na escola, através dos chamados planos de estudos da escola, ou seja, é um material que pré-define o que deve ser ensinado pelo professor, ele é dividido em objetivos gerais da disciplina, objetivos específicos e conteúdos de profundidade. Em relação a isso é uma maneira de se ter controle sobre o que está sendo aplicado em sala, ou seja, o professor já vai com suas matérias pré-definidas e a escola não se preocupa com o que está sendo passado ao aluno. Seria até mesmo uma maneira de defesa da escola e do professor. Isso em longo prazo pode tornar o ensino de história estático, pois muitas vezes estes planos são desenvolvidos e esquecidos, sem ter alguém que reforme e que os dê novo formato àquele material.

Sendo assim vendo as problemáticas apontamos um questionamento para uma professora que usa este currículo, sendo que sua resposta foi muito positiva. O questionamento foi feito da seguinte maneira: Currículo da escola contribui para o ensino de história? E se contribui de que forma ele faz isso? Com este questionamento obtive a seguinte resposta:

"O currículo da Escola tem por obrigação trazer para os alunos a aprendizagem. Normalmente este currículo segue parâmetros nacionais – são conteúdos sugeridos – a fim de que todas as escolas do país desenvolvam os mesmos conteúdos.

O que varia normalmente é a atuação do professor, alguns são mais tradicionais, outros são mais modernos e melhor preparados.

No meu ponto de vista é sempre importante incorporar ao estudo curricular da história, os fatos que acontecem no momento atual, fazendo o aluno refletir sobre causas, conseqüências, etc.

Acredito que a maior importância no processo de aprendizagem não seja do currículo em si, mas do professor, da seleção dos conteúdos e da maneira como estes são trabalhados em sala de aula.

E ainda existe a vantagem que a cada final de ano letivo se pode sugerir alterações no currículo."

Através da fala, percebemos algumas coisas importantes, como por exemplo, em certos momentos se faz referência a importância do currículo, onde o professor valoriza mais a atuação do professor em si, do que o currículo que ele segue. Não podemos esquecer de que um bom currículo ajuda a termos um bom professor em sala de aula. Na fala da professora titular percebe-se também um discurso meio estático do ensino de história, ainda mais quando se faz referência aos conteúdos sugeridos. Quando é feita essa referência dá o sentido de que simplesmente são sugeridos e seguidos sem uma crítica e uma revisão do que será aplicado. É importante lembrar que a escola, na qual foi analisado o currículo segue a linha da história integrada, sendo assim o ensino se torna mais complexo e exige um conhecimento amplo sobre o assunto trabalhado, o que muitas vezes pode acabar limitado às matérias a serem trabalhadas na disciplina.

Sendo assim, com a reconstrução histórica e a análise feita sobre um currículo aplicado nos dias de hoje, devemos pensar bem sobre essa questão. Mesmo sabendo que muita coisa evoluiu e que ainda é necessário se fazer muitos estudos sobre o assunto, e percebendo que ainda o currículo nas escolas muitas vezes é deixado de lado, isso acaba deixando uma ponta de preocupação no ar, pois o currículo é um dos principais elementos no processo do ensino de história, ou seja, um currículo bem feito contribui e muito para uma boa aula e também como todo o planejamento.

Referencias bibliográficas:

AFONSO, Paulo Zarth (Org.), Ensino de história e educação. Ijui, Ed.UNIJUÍ, 2004

ANTÔNIO, Astor Diehl (Org.), O livro didático e o currículo de história em transição. Passo Fundo, Ed UPF, 1999.

CAIMI, Flávia Eloísa, História convencional X integral X temática: uma opção necessária ou um falso debate? Passo Fundo, 2007.

STEPHANOU, Maria. Instaurando maneiras de ser, conhecer e interpretar. Rev. bras. Hist., 1998, vol.18, no.36, p.15-38. ISSN 0102-0188.

HORN, Geraldo Balduíno, O ensino de história e seu currículo: teoria e método. Ed Vozes, 2006.